Tempestade Galamba deixa país em suspenso

João Galamba, ministro das Infraestruturas

Pressionado por uma bola de neve de polémicas, ministro das Infraestruturas anunciou ter pedido a demissão mas de imediato António Costa recusou. E assim chocou de frente com Marcelo Rebelo de Sousa, que até já tinha publicamente apelado à remodelação. E agora, como será?

Respostas combinadas
João Galamba, ministro das Infraestruturas, tem estado no olho do furacão à boleia da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP. Um dos casos é o facto de a documentação entregue pelo Governo à CPI ter permitido perceber que, na reunião prévia à audição da comissão parlamentar de economia, em janeiro, onde estiveram presentes membros do Governo, o grupo parlamentar do PS e a então CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener (viria a ser demitida em março), tinham sido combinadas perguntas e respostas para a audição do dia seguinte. O tema era a indemnização milionária paga à ex-administradora Alexandra Reis.

“Entre a facilidade e a minha consciência, dou primazia à minha consciência”
António Costa
Primeiro-ministro, a propósito da recusa em demitir de João Galamba

Dar o dito por não dito
No início de abril, quando a ex-CEO da TAP disse aos deputados que tinha comparecido na reunião preparatória a convite do Ministério das Infraestruturas, Galamba contradisse-a, garantindo que tinha sido Christine a solicitar a participação na mesma. Recentemente, e já depois de terem sido divulgadas mensagens que confirmam que o ministro abençoou a participação da CEO na reunião, assumiu que foi ele quem sugeriu à responsável que poderia reunir com deputados socialistas e membros do Governo.

Exoneração e suspeitas
Na sequência das polémicas, Galamba exonerou Frederico Pinheiro, o até então adjunto, que coordenou a reunião com Christine na véspera da audição parlamentar. Horas depois do anúncio, soube-se que o Governo tencionava avançar com um processo judicial contra o mesmo, por alegadamente ter levado para casa um computador do ministério contendo informação confidencial.

“O Presidente da República, que não pode exonerar um membro do Governo sem ser por proposta do primeiro-ministro, discorda da posição deste quanto à leitura política dos factos”
Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente da República, na resposta à decisão de Costa de segurar Galamba

Novela de mau gosto
Mas o enredo não ficaria por aqui. Depois de ser exonerado, Frederico Pinheiro acusou Galamba de ter querido mentir à CPI da TAP, escondendo as notas da reunião de janeiro. Já o ministério garante que foi o ex-adjunto quem repetidamente negou a existência das notas. Acusou ainda o visado de, após a notícia da exoneração, se ter dirigido ao ministério para levar o computador. Pelo meio, garante o gabinete liderado por Galamba, terá agredido assessoras e adjuntas. Frederico nega, contrapondo que chamou a Polícia porque não o deixaram sair do edifício.

“Este Governo acabou. Ou o Governo muda ou o país tem de mudar de Governo”
Luís Montenegro
Presidente do PSD

SIS ao barulho
Para avolumar a polémica, soube-se que Galamba tinha solicitado a intervenção do SIS para recuperar o computador alegadamente roubado. O ato suscitou múltiplas críticas (por se ter envolvido as Secretas num assunto destes) e levou a que se intensificassem os apelos para que o ministro fosse demitido. Até Carlos César, presidente do PS, defendeu que António Costa teria de fazer uma remodelação governamental.

30 minutos
O tempo que “durou” a demissão de Galamba. O ministro anunciou que tinha solicitado a saída ao primeiro-ministro às 20.15 horas de terça-feira, dia 2. Às 20.45 horas, Costa fez saber que não a aceitaria. A surpreendente e arriscada decisão do primeiro-ministro deixou o ónus de uma possível dissolução do Parlamento nas mãos do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, abrindo caminho a uma guerra institucional entre São Bento e Belém.