Sudão, mais um país a ferro e fogo

O líder do exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan e o comandante do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido, Mohamed Hamda, respetivamente

O conflito no território sudanês começou a 15 de abril e já fez centenas de mortos e milhares de feridos. Em causa está uma disputa no país entregue a duas forças militares que entraram agora em discórdia. E que voltam a dizer ao Mundo que a liderança não está nas mãos do povo, que a democracia está longe.

Dois exércitos e a esperança falhada
A rivalidade entre dois militares que estão à frente dos destinos do Sudão precipitou, há duas semanas, o caos. De um lado está o líder do exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan (na imagem à esquerda). Do outro está o comandante do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido, Mohamed Hamdan. O primeiro assumiu o poder após o derrube, em 2019, do ditador Omar al-Bashir, ao fim de três décadas. Desenhava-se aí a esperança na democracia. Mohamed Hamdan uniu-se, depois, a al-Burhan na liderança, tornando-se no número dois. Quatro anos volvidos, e numa fase de impasse na transição da governação dos militares para os civis, os dois entraram em guerra pelo poder.

O conflito
Os confrontos começaram a 15 de abril e avançaram na busca pelo controlo da capital, Cartum, o epicentro da violência, com ambos os lados a tentarem conquistar o palácio presidencial e outros locais importantes. Há empresas e escolas fechadas na capital. As pontes do rio Nilo entre Cartum e outras cidades da região foram cortadas. Há hospitais com dificuldade em funcionar, alguns foram atingidos pelo fogo cruzado. Há falhas constantes de água e de eletricidade e um terço da população necessita de apoio alimentar urgente.

“A violência deve parar. Há o risco de uma conflagração catastrófica dentro do Sudão que pode envolver toda a região e além”
António Guterres
Secretário-geral da onu

Um cessar-fogo e a retirada de civis
Um cessar-fogo de 72 horas entre os dois generais que disputam o poder entrou em vigor no dia 25 de abril, depois de intensas negociações com a comunidade internacional envolvida. Mas vários testemunhos relataram bombardeamentos e confrontos nesse período, o que revela que nenhuma das partes está pronta para um acordo. Antes do cessar-fogo, várias nações conseguiram negociar com os dois lados a retirada de funcionários diplomáticos e de cidadãos dos seus países das zonas de conflito. Portugal retirou 21 portugueses do Sudão, com apenas um cidadão, que está a cerca de 400 quilómetros da capital, a escolher ficar no país.

Por que motivo o Sudão é estratégico?
É o terceiro maior país dos 54 que compõem o continente africano. E nos últimos anos tornou-se num foco de influência numa batalha entre países ocidentais, principalmente os Estados Unidos, e a Rússia. É importante lembrar que há navios de guerra russos atracados nos portos sudaneses no Mar Vermelho, como também há operacionais do Grupo Wagner no Sudão, que se encontram na região para apoiar um governo militar, sendo ainda responsáveis pela concessão de uma mina de ouro.

145 mil
A ONU estima que o conflito interno no Sudão poderá causar pelo menos 145 mil refugiados, sobretudo nos países vizinhos do Chade e do Sudão do Sul.