Jorge Manuel Lopes

Seis discos para uma banda sonora de 2022


Crítica musical, por Jorge Manuel Lopes.

Um ano musical que se preze é um ano cheio de narrativas, onde cada ouvinte seleciona a(s) corrente(s) em que pretende nadar. Em 2022, foi mais difícil ignorar o house, género com pilhas infindáveis e que teve uma das passagens periódicas pelo primeiro plano do mainstream, em boa parte graças a “Rensaissance” de Beyoncé. Segue-se, em rigorosa ordem decrescente, um punhado de álbuns que marcaram os últimos 12 meses. São escolhas pessoais e, como sempre, transmissíveis.

Louie Vega: “Expansions in the NYC” – Ao longo de duas horas e meia, este é um comprovativo do génio de Louie Vega na composição, orquestração e criação de viagens pelos valores mais positivos da música de dança. A troca de estímulos entre o house, o funk e o disco é constante.

Beyoncé: “Renaissance” – Uma aragem fresca no seu percurso, 16 canções que se deixam levar pelo desejo, pela sensualidade, pelo hedonismo. Beyoncé nunca tinha sido tão camaleónica na interpretação; incontornável, surpreendente, virtuosa, jamais impositiva.

Ron Trent: “Presents WARM – What do the stars say to you” – Tal como Louie Vega, um produtor e DJ com décadas de atividade, aqui num pico de inspiração. Um tratado de fusão em câmara lenta, mobilado com classe e minimalismo.

Str4ta: “Str4tasfear” – Ao segundo álbum, o projeto de Gilles Peterson e Jean-Paul “Bluey” Maunick aprofunda o processo de revitalização e atualização do brit-funk. Com frescura, groove e janelas abertas para o Mundo.

Kendrick Lamar: “Mr. Morale & the big steppers” – O equivalente sonoro a uma vasta malha urbana que não converge para um centro. Um alinhamento modernista, às vezes familiar, mergulhado em soluções inventivas que vão gerando novos corpos, corpos sólidos, para o hip-hop.

Björk: “Fossora” – Um disco composto durante e após os confinamentos pandémicos e que trata a terra sob os nossos pés como um cosmos, fonte de fantasia, renovação e vida, um livre-trânsito para a imaginação simbolizado na omnipresença temática dos cogumelos.