Publicidade Continue a leitura a seguir

Rui Nabeiro preparou em família a sucessão no grupo Delta

(Foto: DR)

Publicidade Continue a leitura a seguir

Após a morte de Rui Nabeiro, filhos e netos ficam com grupo que fatura 400 milhões de euros por ano. O neto, Rui Miguel Nabeiro, já estava na linha de sucessão e, com a ajuda dos outros três netos, vai dar continuidade a uma história empresarial de sucesso.

O ator George Clooney foi a grande ameaça quando a primeira boutique Nespresso abriu em 2003 no Chiado, em Lisboa. Nessa altura, há 20 anos, a Delta dava cartas ao dominar o mercado do café em Portugal e enfrentava um dos seus maiores desafios. Teria de combater a toda-poderosa Nestlé, que rompia as tradições nacionais ao apresentar uma cápsula de café hermética para ser consumida imediatamente em casa ou no escritório, com todo o glamour das estrelas de Hollywood.

O trabalho de uma vida de Rui Nabeiro, falecido há uma semana com 91 anos após doença prolongada, poderia estar em causa e haveria que dar uma resposta à altura para que o grupo Delta continuasse a dominar, a inovar e a surpreender. Para essa tarefa, o patriarca escolheu o neto, Rui Miguel Nabeiro, de 44 anos, casado e pai de três filhos, e que há muito era o preferido na sua escolha dinástica. O lançamento da Delta Q, a nova cápsula hermética destinada a combater as grandes multinacionais, seria a prova dos nove para Rui Miguel Nabeiro. O próprio, quando assumiu as rédeas do grupo há cerca de ano e meio, dizia que esse momento foi, aos olhos de todos, fundamental para que, anos mais tarde, a escolha do avô recaísse em si. “Lembro-me de ouvir as pessoas dizerem que o avô tinha construído e o neto ia destruir”, afirmava Rui Miguel Nabeiro numa entrevista ao “Expresso” para explicar o ambiente criado pela decisão do magnata do café.

Rui Miguel Nabeiro reconhece que o lançamento da Delta Q foi decisivo para o seu sucesso no Grupo Delta
(Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens)

Hoje, o atual presidente executivo do grupo admite que o apelido o obrigou a trabalhar “o dobro ou o triplo para provar que também merecia ser reconhecido” e após o caminho trilhado espera que lhe reconheçam os mesmos valores de Rui Nabeiro. “Mas que também reconheçam que sou autêntico e não uma cópia, até porque as cópias nunca são iguais ao original.”

O senhor Rui, como era carinhosamente tratado por todos em Campo Maior, já há muito que tinha a questão da sucessão bem resolvida, mas só em agosto de 2021 é que foi assinado o protocolo familiar que iria determinar como tudo aconteceria no futuro. O documento, assinado pelo fundador, pelos dois filhos e pelos quatro netos, indicava Rui Miguel Nabeiro como presidente executivo. Em 2016, quando perguntado se os filhos e os netos herdariam o seu modelo de gestão, muito apoiado na responsabilidade social, Rui Nabeiro respondia que não sabia. “Ou concordam ou respeitam, não estou dentro deles”, dizia. Mas de uma coisa tinha a certeza, que não iriam mudar a filosofia do grupo Nabeiro porque “há respeito por aquilo que se tem feito, pelo trabalho e luta. Eles têm orgulho. Não é por a pessoa ir-se embora que se mudam as coisas”.

Família em primeiro

Rui Nabeiro foi-se embora no último domingo com o adeus de milhares de anónimos e altas personalidades da política, economia, cultura e desporto. À partida, não haverá discussões numa família que transpira união, comprometimento e amor. O protocolo familiar ajudou a definir as regras e uma delas é que o grupo nascido em 1961 deverá continuar nas mãos da família durante muito tempo. Os seus dois filhos, João Manuel e Helena, e os quatro netos, Rui Miguel, Rita, Ivan e Marcos, herdam assim uma fortuna que vale mais de 400 milhões de euros por ano distribuídos por investimentos no café, obviamente, mas também na distribuição alimentar e de bebidas, imobiliária, turismo e serviços.

Rui Nabeiro em criança
(Foto: DR)

Rui Miguel Nabeiro vai sentir a falta do avô. Foi habituado desde criança à sua companhia no meio dos sacos de café onde brincava com a irmã e os primos. Acompanhou-o sempre e ligou-se ao negócio da família desde muito jovem, colhendo do senhor Rui toda a sua experiência em décadas de conhecimento e que aliou à licenciatura em Gestão e Marketing. “As lembranças que tenho do meu avô são sempre ligadas ao café. Lembro-me perfeitamente de irmos com ele para a fábrica, quando ainda estava no seu início. Ele ficava a trabalhar e eu, a minha irmã e os meus primos ficávamos a brincar à volta do café. Na altura tínhamos umas sacas enormes. E ali andávamos pela fábrica”, recorda Rui Miguel Nabeiro, em declarações à CNN. Foi crescendo, mas as memórias ficavam. “São sempre ligadas ao mundo do trabalho. Diziam-nos: têm de estudar e aprender, que é para virem ajudar o avô.” Foi o que aconteceu até ao seu último suspiro.

Mas é preciso voltar a 2003, a primeira vez que Rui Miguel Nabeiro ingressou numa das empresas do avô para um estágio. Foi a Coprocafé – Ibéria, na área de trading e controlo de qualidade. Fez uma incursão ao Vietname e passou posteriormente por um estágio no grupo Brasília, em Itália, e na Volcafe, em Winterthur, na Suíça.

Rui Nabeiro em trabalho, em plena rua. A forma como o comendador sempre tratou os clientes foi fundamental para o reconhecimento conquistado
(Foto: DR)

Após essa experiência internacional, o avô volta a acolhê-lo aos 22 anos para integrar a direção de marketing da Delta Cafés, em Campo Maior, como parte da sua integração no negócio. Já como administrador, lançou vários projetos de marketing, incluindo o desenvolvimento do site da empresa e a estratégia digital, antes de conseguir a liderança das vendas de café no mercado nacional. Hoje, com 44 anos, Rui Miguel Nabeiro, já é visto como um dos melhores gestores nacionais e como sucessor natural à liderança do conglomerado, coisa que nos últimos anos já estava entranhado entre os trabalhadores do grupo Nabeiro. Há ano e meio, em entrevista ao “Expresso”, reconhecia que o seu dia a dia não mudou muito. “Foi com muita naturalidade e sem qualquer conflito ou atrito que as coisas aconteceram assim”, contou, frisando que a passagem de testemunho foi feita “com tranquilidade, sem levantar obstáculos, sem ninguém se sentir posto de lado”.

Os filhos e netos

Para isso contribuiu também a mudança da estrutura acionista do grupo, com os dois filhos de Nabeiro, João Manuel e Helena, a aumentarem as participações de 8% para 16% cada um e os netos (Rui, Rita, Ivan e Marcos) passarem a deter 8% cada um, ficando o restante capital agora nas mãos da viúva, Alice do Carmo Gonçalves Nabeiro. Com estas decisões, de todos os acionistas, apenas o neto Marcos Tenório Bastinhas, cavaleiro tauromáquico, filho de Joaquim Bastinhas e da filha de Nabeiro, Helena, é o único a não integrar a gestão do grupo. Rui Miguel partilha as decisões no conselho de administração com a irmã, Rita, responsável pelos recursos humanos e da sustentabilidade, além da Adega Mayor, o primo Ivan e ainda António Cachola, ex-diretor financeiro, já reformado, o único elemento exterior à família.

Rui Miguel Nabeiro com os avós paternos, Rui e Alice, em dia de aniversário muito especial
(Foto: DR)

Para blindar ainda mais o grupo familiar, fonte de apetite ao longo dos anos de várias multinacionais, entre elas a Nestlé, a Kraft ou a Pepsi, existe ainda um acordo parassocial onde está estipulado que, se algum dos membros pretender vender a sua participação, terá de dar o direito de preferência aos outros. Rui Miguel Nabeiro destaca que a mensagem a passar é de que “a família está comprometida com o negócio, não está vendedora nem agora nem no futuro”. Para reforçar esse comprometimento, e de forma a garantir a sustentabilidade a longo prazo, foi criado um Conselho de Família, que reúne uma vez por ano para tratar dos temas estratégicos do grupo e outros assuntos não urgentes. “Será uma reunião de família onde se fala de negócios para que não estejamos sempre a falar de negócios em reuniões de família”, explicava Rui Miguel Nabeiro ao “Expresso”. Para o atual presidente executivo do grupo Nabeiro, “um dos maiores desafios das empresas familiares é conseguirem ser família sem serem só negócio”, acrescentando que, enquanto numa empresa tudo é racional, o risco numa empresa familiar é que “seja tudo emocional”.

Afável, mas duro quando tem de decidir, Rui Miguel Nabeiro foi o eleito por o reconhecerem, entre outras qualidades, um forte pendor para a inovação. No seu percurso dentro do grupo destacam-se a introdução de novas categorias no portefólio, a aposta na distribuição moderna e automática e uma acentuada expansão da área internacional. É graças à visão dele (e do avô) a expansão, através da criação de operações diretas em alguns países como Espanha, França, Luxemburgo, Suíça, e iniciando a operação em outros, como Brasil, Dubai e China, enquanto exportava para outros, nomeadamente no continente americano.

Ivan Nabeiro Crato, que também integra o conselho de administração
(Foto: DR)

Em 2017 foi responsável pelo lançamento do sistema de extração de café Rise e posteriormente, no ano passado, pela introdução no mercado da primeira máquina doméstica com o sistema Rise incorporado, numa parceria com o designer francês Philippe Starck. Esta inovação injeta o café de baixo para cima, pelo fundo da chávena, intensificando o paladar e os aromas naturais do café, mantém a temperatura ideal e trazendo ao de cima um creme persistente.

Rui Miguel Nabeiro, que sonhava ser piloto de aviões, tem como ambição chegar ao top 10 das maiores empresas de cafés no Mundo e, para isso, tem um trajeto bem definido apoiado no Delta Q e noutros produtos inovadores. A Delta está hoje na vigésima posição mundial, pelo que há um longo caminho a percorrer.

Desde Campo Maior, no Alentejo profundo, o grupo emprega quase quatro mil trabalhadores, onde são torradas cerca de 100 toneladas de café por dia. É que, além da Delta, o grupo Nabeiro detém o histórico Camelo ou o café angolano Ginga. Isto sem contar com a menina dos olhos da neta Rita Nabeiro, a empresa vinícola Adega Mayor. São 37 as empresas, entre sociedades anónimas e empresas internacionais, que compõem o conglomerado liderado pela Nabeirogest, SGPS.

A liderança no feminino

A menina do avô não foi deixada de lado num grupo dominado por homens. O comendador Rui Nabeiro sabia de que cepa é feita a família e não teve pejo em atribuir a Rita Nabeiro a responsabilidade máxima de um projeto bem diferente daquilo que até então o grupo estava habituado. Ou seja, entrar no mundo dos vinhos através da Adega Mayor, um sonho antigo do fundador, fruto da sua paixão pelos vinhos e por Campo Maior, terra que tinha uma cultura vitivinícola muito presente, mas que se foi perdendo. Para inverter essa tendência, em 1997, o grupo iniciou a plantação das primeiras vinhas na Herdade da Godinha, e três anos mais tarde na Herdade das Argamassas. Levou tempo, mas o plano estava a concretizar-se. Foi preciso chegar a 2007 para que a Adega Mayor fosse projetada a nível mundial. Convidaram o arquiteto Siza Vieira para desenhar, projetar e construir a primeira adega de autor do país, reforçando e enriquecendo não só a marca, mas toda uma região.

Em 2007, a Adega Mayor ganhou projeção mundial. Os Nabeiro convidaram o arquiteto Siza Vieira para desenhar, projetar e construir a primeira adega de autor do país
(Foto: Arquivo JN)

Rita Nabeiro, de 43 anos, é desde 2012, a principal responsável da Adega Mayor, mas nem por isso deixa de dar créditos ao avô, “um mentor e conselheiro de exceção”. Quem a conhece sabe que é uma mulher do terreno, participa nas vindimas, ajuda na adega e veste o papel de vendedora, tudo ensinamentos do avô Nabeiro. Mas nem sempre na sua vida a opção foi integrar os negócios da família. Queria ser uma criadora e entrou para Faculdade de Belas-Artes, em Lisboa, para Design de Comunicação, mas o que aprendeu acabou por aplicar no grupo. Começou por propor a identidade visual à marca Adega Mayor e acabou por entrar para o departamento de marketing da Delta. Daí, foi um passo para o avô lhe entregar a Adega Mayor. “Sendo a criatividade parte do que eu sou, misturá-la com o que eu faço surgiu naturalmente. Fazer vinho também é um processo criativo que começa com a Natureza. Fazer um vinho é como escrever um livro, fazer música ou uma pintura”, explica Rita Nabeiro.

João Nabeiro e a filha, Rita. A menina do avô nunca foi deixada de lado num grupo dominado por homens. O projeto Adega Mayor, sonho antigo do fundador, mostra como a única neta de Rui Nabeiro é uma mulher de sucesso no mundo dos negócios
(Foto: Paulo Spranger/Global Imagens)

A neta de Nabeiro reconhece que quando assumiu a direção-geral da Adega Mayor sentiu “o peso da responsabilidade e a vontade de fazer bem e diferente”, acrescentando que chegou a sentir-se “um peixe fora de água”, mas aos poucos percebeu que “a diferença podia ser uma força e não uma fraqueza”. Por isso, absorveu os ensinamentos do avô: “A atitude é uma palavra que emprega[va] muito, sobre sermos empreendedores, sobre não nos resignarmos, sobre o impacto que temos na sociedade”, referia em entrevista à revista “Máxima”, adicionando que não se pode deixar que “o ego nos transforme em algo que de algum modo nos tolda o juízo, que nos pode desviar do caminho que nos fez dar os primeiro passos”.

Futebol de primeiro nível

João Manuel Ribeiro, 68 anos, trabalhou com o pai mais de 40 anos. Sempre na sua sombra, o filho não se arrepende de nada. Deu o seu contributo enquanto membro do conselho de administração e, tanto em casa como no trabalho, viveu de perto as alegrias e as vicissitudes da Delta Cafés. “É um cargo extremamente leve ser filho de quem sou, pais adoráveis, gente que sempre me encheu a alma e o corpo. Encheram a minha vida de luz”, dizia, em novembro, à revista “Forbes”.

O administrador da Delta Cafés sente orgulho nos filhos que absorveram “o ADN da família, sobretudo do núcleo que é oriundo da dona Alice e do senhor Rui”, acrescentando: “O meu Rui e a minha Rita têm tido um desempenho muito forte na empresa. Do lado da minha irmã Helena, o meu sobrinho Ivan também tem tido um bom desempenho na empresa”.

O filho do magnata do café tornou-se figura mediática quando presidiu ao Campomaiorense na década de 90 do século passado. O clube passou cinco épocas na Liga de futebol e foram os momentos áureos da terra, tendo mesmo chegado a uma final da Taça de Portugal. Desde então, nunca mais a região do Alentejo voltou a estar representada na maior prova nacional de futebol.

Em junho de 1999, o Campomaiorense, empurrado pela força da Delta Cafés e do investimento da família Nabeiro, conheceu o momento mais alto, ao chegar à final da Taça de Portugal, que perdeu (0-1) frente ao Beira-Mar. Três anos depois, o clube desceu à Segunda Liga e fechou as portas ao profissionalismo
(Foto: Arquivo/Global Imagens)

Foi a 19 de junho de 1999 que o Sporting Clube Campomaiorense, emblema de uma vila com menos de dez mil habitantes, e empurrado pela força da Delta Cafés e do investimento da família, teve o momento mais alto da sua história, ao chegar à final da Taça de Portugal, que acabaria por perder frente ao Beira-Mar, por 1-0. Três anos depois, o clube fechou portas ao profissionalismo por decisão de João Manuel Nabeiro, após a despromoção à Segunda Liga. Atualmente, foca-se exclusivamente no futebol de formação e outras modalidades, como judo, natação e ginástica. O filho de Rui Nabeiro continua a ser o presidente, mas o investimento já não é o mesmo. O patamar mais alto do futebol requer outras verbas e a família teve, na altura da despromoção, de cortar o financiamento. Apesar de tudo, sendo um clube de formação, a família Nabeiro continua a financiar todas as atividades. Vários jogadores e treinadores de renome chegaram a passar pelo clube alentejano, tais como Isaías, que tinha sido campeão nacional no Benfica, ou Jimmy Floyd Hasselbaink, que viria a tornar-se ídolo no Chelsea.

Tradições taurinas

Há décadas que, como bons alentejanos, a família Nabeiro está ligada às tradições taurinas, desde logo porque a filha de Rui Nabeiro, Helena, esteve casada com o cavaleiro tauromáquico Joaquim Bastinhas, falecido a 31 de dezembro de 2018. Uma carreira que também foi seguida pelo neto de Nabeiro, Marcos Tenório Bastinhas, de 37 anos.

A morte de Joaquim Bastinhas, aos 62 anos, abalou a família principalmente porque houve alturas em que a recuperação do acidente com uma máquina agrícola parecia ser total, mas acabou por falecer depois de dois meses de internamento nos quais foi colocado duas vezes em coma induzido devido a uma infeção bacteriana contraída após uma operação ao intestino.

Rui Nabeiro com o neto Marcos Bastinhas, que é casado com a atriz Dália Madruga. Apesar de ter uma participação de 8% no império Delta, Marcos, cavaleiro tauromáquico, prefere não se envolver na gestão agora liderada pelo primo
(Foto: DR)

Marcos Tenório Bastinhas, depois de perder o pai há quatro anos, prestou a sua homenagem ao comendador, afirmando que “no Dia do Pai partiu aquele que foi Pai para tanta e tanta gente”. “Apenas com amor e um sorriso moveu montanhas e deixou um legado incalculável. Um beijinho Avô… Um beijinho Pai neste dia.” O neto, que é casado com Dália Madruga, antiga apresentadora e atriz, começou a montar por volta dos cinco anos, sendo sua intenção, desde muito cedo, seguir as pisadas do pai. Mas foi com o seu outro avô, Sebastião Tenório, que ganhou a paixão pelos cavalos. Atuou pela primeira vez em público a 3 de junho de 2000 na praça da Terrugem, num espetáculo que também marcou o início da atividade do Grupo de Forcados Académicos de Elvas, de que é próximo não só por morar em Elvas, mas porque o irmão, Ivan Nabeiro, chegou a ser cabo do grupo. Apesar de ter uma participação de 8% no império Delta, Marcos Tenório Bastinhas prefere não se envolver na gestão agora liderada pelo primo Rui Miguel Nabeiro. A sua paixão, já se sabe, é outra.