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Roger Schmidt: e no fim ganha o alemão

Fotos: Ilustração: João Vasco Correia

Roger Schmidt é treinador do Benfica

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Confiável, trabalhador, meticuloso nos treinos, diz-se que consegue tirar o melhor dos jogadores. Mas não se espere empatia imediata, porque o técnico que reconduziu o Benfica ao título de campeão nacional de futebol “leva tempo a conquistar”. Definem-no como “obstinado”, “temperamental”, capaz de “explodir”.

Pouco falador, soube escolher as palavras. “Se amas o futebol, amas o Benfica”, atirou ao coração dos adeptos à chegada a Lisboa, logo ele, que “ama o futebol” – confessa em “Das buch eines trainers” (“O livro de um treinador”, na edição portuguesa), publicado em 2020 – desde que se lembra.

Em criança, “não havia nada que gostasse mais de fazer do que jogar à bola”. Faltava-lhe, porém, talento. Modesto médio-ofensivo em clubes secundários, viu-se obrigado a apostar na licenciatura em Engenharia Mecânica, trabalhando durante oito anos na indústria automóvel. A família – Heike, a mulher, e dois filhos – vivia então em Paderborn, era semiprofissional no Dellbrücker SC, da liga amadora alemã.

Nasceu em Kierspe, pequena cidade de 17 mil habitantes entre Colónia e Dortmund, um de quatro filhos de uma família da classe trabalhadora. É um homem realista. “Nunca tive o objetivo de fazer carreira no futebol. Era uma realidade tão inverosímil que nem dava sequer para eu sonhar com ela”, conta no livro. Porém, desafiado por um dirigente do clube local, e perante o entusiasmo de Heike, aceitou terminar a carreira como treinador-jogador. Correu bem. O clube subiu de divisão, os adeptos encheram o estádio animados com o futebol ofensivo.

Confiável, trabalhador, meticuloso nos treinos, diz-se dele que consegue tirar o melhor dos jogadores. Mas não se espere empatia imediata. “Leva tempo a conquistar”, revelam deste alemão “obstinado”, “temperamental”, capaz de “explodir”. Basta lembrar o episódio de 2016, ocorrido durante um jogo em que, expulso pelo árbitro, se recusou a abandonar o banco.

Oito minutos de braço de ferro, com o jogo interrompido e sanções duras: cinco jogos na bancada e 20 mil euros de multa. Ou as reações exaltadas às críticas dos jornalistas. Ou ainda a guerra com treinadores rivais.

Perfil psicológico que a passagem pelo futebol chinês, dizem, “amenizou”. No Beijing Guoan ganhou uma Taça da China (2018) e “alguma moderação”. O verniz quase estalava em Portugal quando, num jogo em Vizela, devolveu com vigor para a bancada uma garrafa de água arremessada pelos adeptos minhotos que por pouco não o atingiu. Mas foi olímpica a calma exibida enquanto a equipa, jogo a jogo, ia desbaratando dez pontos de avanço em relação ao F. C. Porto.

Apaixonado pelo futebol ibérico, conseguiu no RB Salzburgo (2013/2014) uma Liga da Áustria, uma Taça, o recorde de 105 golos marcados em 33 partidas e o elogio precioso de Pep Guardiola. “Nunca vi uma equipa a jogar de forma tão intensa como esta”, afirmou o espanhol depois de o Bayern de Munique ter sido derrotado pelos austríacos por 3-0, num amigável.

A fama de treinador de ataque, de golos, “de pressão alta”, levaram-no ao Bayer Leverkusen, na Alemanha (2014), e ao PSV Eindhoven (2020), nos Países Baixos. Mas as vitórias na Taça (2021/22) e na Supertaça (2021) holandesas não esconderam o falhanço na Liga – ganha pelo Ajax – nem o afastamento no play-off de acesso à Champions League. Precisamente frente ao Benfica, então orientado por Jorge Jesus. Contestado pelos sócios, acabaria despedido.

Gosta de jogar ténis, de praticar snowboard. De cuidar dos jardins das casas de Dusseldorf e de Maiorca. Gosta de ser desejado. A muita vontade demonstrada por Rui Costa na contratação foi decisiva para aceitar o desafio. Agora, “o “funcionário do ano” é declarado pelo presidente do Benfica “o obreiro do título”. E os milhares de adeptos que assistiram ao discurso do líder benfiquista na praça do Município de Lisboa, muitos deles desconfiados da capacidade do técnico e da equipa quando viram escoar-se a diferença para o F. C. Porto, aclamaram vivamente o alemão que reconduziu as águias ao êxito.

Roger Schmidt defende que um treinador não deve permanecer num clube mais de “dois ou três anos”, de modo a evitar a saturação. Chegado ao Benfica no dia 18 de maio de 2022, aceitou renovar até 2026, abrindo uma exceção. Talvez porque se “quem ama o futebol ama o Benfica”, então, ele que “ama o futebol desde sempre”, ama o Benfica desde pequenino.

Roger Schmidt
Cargo:
treinador do Benfica
Nascimento: 13/03/1967 (56 anos)
Nacionalidade: Alemã