Ricardo Mendes, artista, malabarista, acrobata, bailarino

Ricardo Mendes é artista multidisciplinar com base no circo

Estudou Arquitetura na Suíça, Artes Circenses em França. Constrói projetos para salas e ruas, espetáculos acessíveis. Ricardo Mendes só pensa no futuro.

Começou pelo malabarismo, era mais fácil para um corpo não habituado ao exercício, saltou para as acrobacias quando estava preparado, depois, já à vontade, decidiu experimentar e encontrar a arte que o diferencia. Mistura malabarismo com acrobacias, com capoeira, com dança contemporânea. Aos 16 anos, estava na Suíça, aos 22 em França. Agora está em Ardèche, sul de França, desenvolve projetos a solo, trabalha com o coletivo multidisciplinar de artes circenses TBTF (Too Busy to Funk). De manhã, treina o corpo, pode ter três espetáculos por semana, ou um, depende, no ano passado, atuou nos Estados Unidos, Portugal, Itália, França, Suíça.

Ricardo Mateus, artista versátil com bases no circo, anda também por escolas francesas, em zonas problemáticas, a mostrar o que sabe fazer. E não só. “Mostrar que a cultura pode ser um trabalho, que pode ser uma coisa criativa que sai do contexto da escola”, diz “A cultura pode ser uma alternativa interessante e isso dá muita esperança a pessoas que veem um espetáculo, dá vontade de pensar de uma maneira diferente, e isso para mim é muito importante”, prossegue.

Viveu em Portugal até aos 16 anos, em Santiago do Cacém, mudou-se com a mãe e o irmão para a Suíça, a irmã já lá vivia. A transição, confessa, foi um pouco complicada por causa da língua, teve de aprender francês rapidamente. No primeiro ano de Arquitetura, um amigo convidou-o a conhecer uma pequena escola de circo, fez umas aulas, mas resolveu acabar o curso. “Nessa altura, decidi que gostava de continuar a praticar circo”, conta. Audições para escolas preparatórias e superiores, aos 22 anos estava em França. Primeiro na Escola de Circo de Lyon, dois anos de formação, depois no Centro Nacional de Circo Artístico, em Châlons-en-Champagne, ao lado de Paris, mais três anos de aprendizagem. Terminou em 2020, veio a pandemia, fez vídeos, trabalhos de moda, entrevistas, esteve na televisão, ganhou visibilidade, contratos internacionais.

A arquitetura que estudou mostra-se na cenografia dos espaços que constrói para que as pessoas, refere, “tenham a impressão de que estão a viajar com a peça que estão a ver”. “Para mim, também é muito importante estar sempre em contacto com o público e tentar fazer coisas acessíveis a todos, o que não quer dizer que sejam espetáculos simples, e que faço apenas malabarismo, também posso falar de coisas políticas e outros assuntos.”

Criar, criar sempre. Idealizar, dar forma, atuar, passar para a próxima cena. E assim sucessivamente. “Gostava, daqui a 10 anos, de criar um espetáculo todos os dias, seria um sonho. Atuar todos os dias, ter um sítio onde as pessoas sabem que podem ver espetáculos todos os dias, com artistas diferentes, poder mostrar talentos mais jovens.” Se possível, acesso gratuito. E explica a razão. “Não é que ache que a minha profissão deva ser acessível a todos porque é incrível, mas acho que na cultura há uma educação que é diferente do que podemos aprender na escola. Em Portugal, nunca ia ver espetáculos, era complicado, para os meus pais não era uma prioridade”, recorda.

Em França, o estatuto dos intermitentes dá-lhe segurança, estabilidade. Voltar, nas atuais condições, não seria fácil. Mesmo assim, confessa, “gostava de criar mais pontes com Portugal para fazer mais espetáculos, tentar entrar mais na cultura”. Atuar, mostrar a sua arte. Até porque o malabarismo que faz é bastante fora da caixa.

Ricardo Mendes
Localização:
Ardèche, França 44º 40’ N 4º 25’ E (GMT+1)
Cargo: artista multidisciplinar com base no circo
Idade: 28 anos