Quando os médicos recomendavam o tabaco

Até pode não nos caber na cabeça, mas a verdade é que houve uma altura em que a comunidade médica aparecia em publicidades a dizer que o tabaco não fazia mal. A Máquina do Tempo desta semana recupera essa memória.

A ideia parece absurda. Porém, dos anos 1930 aos anos 1960/70, uma poderosa expressão foi usada em várias propagandas para fomentar o consumo de tabaco, que hoje sabemos ser altamente prejudicial à saúde: “Recomendado pelos médicos”.

Nesse tempo, os cigarros não eram vistos como mortais, mas os fumadores notavam que tossiam quando fumavam. Para dissipar receios, as tabaqueiras contrataram médicos para atribuir a culpa à poeira e aos germes, não aos cigarros.

Era o desespero das marcas. A aura benéfica deste produto terminou quando a correlação entre o consumo de alcatrão e o cancro do pulmão começou a ser comprovada por cada vez mais estudos científicos. Restava usar um trunfo de peso, a credibilidade dos médicos. “O tabaco era tão inofensivo que eles o fumavam.” Inclusivamente no exercício das suas funções.

Esta publicidade dos cigarros Porto, nos anos 70, espelha bem esse discurso, uma tentativa de “acalmar” a população em relação aos malefícios do tabaco. Aliás, ao aparecerem associados a profissões de destaque, os cigarros eram logicamente sinónimo de “status”, apenas ao alcance de homens bem-sucedidos. Uma realidade bem distinta da que vivemos por estes dias.