Quando ajudamos os outros “ganhamos mais do que damos”

Produzido por Brandstory Notícias Magazine

É num pequeno espaço na Amadora que centenas de famílias portuguesas encontram o apoio de que tanto precisam, numa altura em que, por cá, a vida não está nada fácil. Campanhas como a “Presentes à Mesa”, lançada pela Missão Continente, são uma grande ajuda para estas instituições locais.

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As temperaturas daquela tarde rondavam os oito graus, mas a fila junto à porta da Conferência Vicentina Nossa Senhora do Rosário de Fátima já se começava a formar, deixando adivinhar que muitas mais pessoas se iriam juntar até à noite. Pelas portas que dão acesso ao pequeno espaço, com cerca de 70 metros quadrados, é possível sentir o aroma das refeições acabadas de chegar, que aquecem o coração de quem procura o apoio desta instituição.

“Sabemos que dói muito a estas pessoas terem de vir buscar esta comida, mas também sabemos que é um conforto que fica no estômago, depois de estarem na rua à espera”, confidencia Adelina Almeida, presidente da Conferência, cujo sonho é ter um espaço maior e coberto, onde as pessoas possam esperar abrigadas e sentadas. A distribuição é feita diariamente, a partir das 15h30, e só termina quando as refeições terminam também.

A Conferência Vicentina Nossa Senhora do Rosário de Fátima é uma delegação da Sociedade São Vicente de Paulo, uma instituição de leigos católicos, espalhada por mais de 150 países. Neste espaço da Amadora, são seis pessoas, diariamente, e cerca de quatro, pontualmente, a prestar um apoio que vai bem para lá da alimentação. Todas as pessoas que procuram este espaço encontram uma “palavra amiga”, pois tal como defende Adelina Almeida “nós damos dando-nos, sabendo ouvir”.

O menu do dia é sopa, empadão de atum, bifes de frango, salada, legumes e um prato vegetariano. Para acompanhar pão, bolos, salgados, iogurtes e bananas, produtos que estão dispostos numa mesa comprida que ocupa uma boa parte da sala principal. É a própria presidente que vai todos os dias buscar os excedentes aos parceiros, que são depois separados e organizados.

Vicentinos apoiam mais de 500 famílias

Na porta ao lado, encontramos um pequeno armazém, onde saltam à vista as embalagens de arroz, esparguete, paletes de leite e enlatados, bem como algumas caixas coloridas. Este é o material necessário para compor cabazes alimentares, dependendo do agregado alimentar. As caixas pretas destinam-se a uma única pessoa, as vermelhas a famílias de duas ou três pessoas, a azul para famílias com quatro ou cinco elementos e, por fim, as verdes, para famílias mais numerosas, com mais de cinco pessoas.

António Marques Maria, reformado e viúvo há 14 anos, é um dos vicentinos responsáveis por compor estas caixas. Com uma lista numa das mãos – apenas por segurança, porque já sabe de cor o que leva cada caixa –, vai a cada prateleira buscar aquilo que lhe faz falta, enquanto assobia. Esparguete, arroz, salsichas, feijão, óleo, barras de cereais, leite, bolachas e até chocolates, tudo isto vai para dentro da caixa preta que está a compor para uma única pessoa de uma das três freguesias apoiadas.

Estes alimentos, denominados de produtos secos, vêm de organizações como o Continente e chegam a cada família uma vez por mês. As famílias que têm possibilidades de ir buscar a sua caixa deslocam-se à Rua da Venteira para o fazer, já as que não têm recebem-nas em casa, entregues, muitas vezes, por António. “Não somos só nós que os ajudamos, as famílias também me ajudam com a companhia e o propósito”, afirma. Além dos produtos secos, existem também os produtos frescos, como os iogurtes, frutas e legumes, esses são entregues de 15 em 15 dias, às quartas-feiras, a mais de 500 famílias apoiadas pela instituição.

Campanhas como a organizada pela Missão Continente na altura do Natal, “Presentes à Mesa”, são uma grande ajuda para esta e outras instituições que trabalham na mesma área. Só entre 13 de novembro de 2022 e 8 de janeiro, a “Presentes à Mesa” angariou mais de um milhão de euros para dividir entre a Rede de Emergência Alimentar e 330 instituições em todo o país que atuam localmente na luta contra a fome e a pobreza. O valor foi, sobretudo, angariado através da venda de vales solidários de um e cinco euros nas lojas Continente.

“Este ano assinalamos 20 anos de atuação da Missão Continente e, mais uma vez, atingimos valores extraordinários, que vão garantir que milhares de famílias consigam subsistir naquilo que é essencial – a alimentação”, afirma Nádia Reis, Diretora de Comunicação e Responsabilidade Social do Continente. “Continuaremos focados em estar sempre ao lado de quem mais precisa, atuando de forma célere no combate a situações de emergência social, e sempre de mãos dadas com os nossos clientes e colegas das lojas que, diariamente, dão a conhecer o que de melhor a Missão Continente faz pelas comunidades onde estamos inseridos”.

Há cada vez mais pedidos de ajuda

Se o maior apoio que esta Conferência oferece é a nível de alimentação, sempre com um sorriso e uma palavra amiga para dar, há outras áreas em que os portugueses precisam de ajuda e não podem ser descuradas. Quando uma pessoa chega à farmácia da zona de atuação da instituição e não tem dinheiro para comprar um medicamento indispensável, é reencaminhada para a Rua da Venteira. Aí, nas instalações da Conferência, o caso é analisado e são encontradas soluções, na medida do possível.

Os alimentos doados, denominados de produtos secos, vêm de organizações como o Continente e chegam a cada família uma vez por mês

Por vezes, explica Adelina, é possível que as pessoas aviem toda a receita com o apoio da Conferência, enquanto outras vezes, dependendo dos pedidos registados em cada altura, o apoio só dá para uma parte. “Infelizmente não chega para tudo”, constata, preocupada, a presidente da Conferência Vicentina Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

E, numa altura em que se registam diariamente temperaturas baixas, um perigo para a sobrevivência de todos nós, a instituição também recebe doações de roupa e cobertores de todos os tipos, sempre em bom estado, que são depois disponibilizados na loja solidária. Este espaço está aberto às segundas, terças e quintas-feiras, duas horas por dia, e qualquer pessoa que precise pode ir buscar aquilo que lhe faça falta, seja um casaco, roupa de cama ou umas botas. Uma vez que é doada, para que chegue para todos, a mesma pessoa só pode visitar a loja de 15 em 15 dias.

No final do dia, a equipa da Conferência Vicentina Nossa Senhora do Rosário de Fátima acredita que ganha mais do que dá. “As pessoas pedem tudo, ora, se pedem tudo, é porque precisam. Nós ajudamos. Nós servimos quem necessita, mas somos nós que ganhamos, que aprendemos muito”, conclui Adelina Almeida.