Pontos negros e pontos brancos. Um guia para evitar males maiores

Favorecidas pelas hormonas andrógenas, que são as hormonas ditas masculinas (embora elas existam em ambos os sexos), estas lesões surgem sobretudo "na chamada zona T

O sebo acumula-se em determinados poros, os canais foliculares entopem, a pele ressente-se, a imagem também. E há cuidados importantes que podem travar o problema.

Se há coisa de que eles gostam é de alterações hormonais. A puberdade, então, é como uma passadeira estendida. Mas também de peles oleosas e cosméticos desadequados. Ou então do tabaco. E de elementos com elevada carga glicémica. Nomeadamente os açúcares processados. Ou até de grandes quantidades de produtos lácteos. “Eles” são os pontos brancos e os pontos negros e todos os tópicos antes mencionados são fatores de risco preferenciais para o seu aparecimento (sendo que, note-se, a história familiar também pode ser um fator de peso no desenrolar dos acontecimentos).

Mas bom, do princípio, pontos brancos e pontos negros. O que são e os distingue? Numa explicação simples, pode dizer-se que são pequenas lesões cutâneas, também chamadas de comedões, que resultam da acumulação de sebo e células mortas num poro da pele, levando à obstrução do canal folicular. A diferença é que, no ponto branco, há uma camada de células a cobrir a extremidade do poro. Já o ponto negro aparece quando há uma abertura para a pele. “Escurece devido à oxidação”, esclarece Ana Nogueira, dermatologista no Centro Hospitalar Universitário de São João. “E se existirem muitos comedões fazemos o diagnóstico de acne comedónico”, acrescenta.

Favorecidas pelas hormonas andrógenas, que são as hormonas ditas masculinas (embora elas existam em ambos os sexos), estas lesões surgem sobretudo “na chamada zona T [conhecida por ser a região mais oleosa do rosto], no dorso do nariz e no queixo”, realça Susana Vilaça, dermatologista no Hospital Lusíadas Porto. E são potenciadas pelos tais fatores de risco já mencionados no arranque deste texto. A própria poluição não pode ser dissociada desta história, concorda a especialista. “Está provado que acelera o envelhecimento da pele. E que nos países industrializados os problemas de acne são mais frequentes.”

Outra nota a reter é que tanto os pontos negros como os pontos brancos são “uma forma de acne”, vinca António Massa, dermatologista reputado que orientou a cadeira da especialidade no ICBAS (Porto) durante quase duas décadas. Aliás, quando não tratados, evoluem muitas vezes para as famosas espinhas, em que ao sebo se juntam as bactérias que, por sua vez, produzem inflamação. Por isso é que “é necessário, com terapêutica, ir abrindo estes poros”. E que “quanto mais cedo se tratar melhor”, frisa o especialista. “Ao alargar-se o canal, o sebo sai e o risco de as bactérias presentes formarem pus é menor.”

Cosméticos, fármacos, procedimentos

E em que consiste o tratamento? Ana Nogueira detalha as opções em aberto. Que, no fundo, se dividem em três grandes grupos: cosméticos, fármacos (tópicos ou orais) e procedimentos médicos. “Existem vários cosméticos de aplicação tópica que ajudam a normalizar a queratinização [que de forma abreviada é o processo de renovação da pele], muitas vezes contendo alfa ou beta-hidroxiácidos”, começa por referir. Já nos casos mais acentuados, “o dermatologista pode prescrever medicamentos de aplicação tópica, tais como retinóides [apaleno, tretinoína, trifaroteno]”.

“Ou eventualmente, se a gravidade o impuser, prescrever medicamentos por via oral”, refere. Por fim, há ainda a tal possibilidade dos procedimentos médicos, “nomeadamente o peeling [que elimina a camada danificada da pele], a extração de comedões, a dermoabrasão [também ataca a camada deteriorada da pele, mas com recurso a um dermoabrasor esterilizado] ou a laserterapia”.

Mas esta orientação não deve servir para que cada um comece a tratar os pontos negros e os pontos brancos por si mesmo. António Massa chama a atenção para isso mesmo. “O tratamento prescrito vai sempre variar de acordo com a observação”, alerta. Até porque há vários fatores que o especialista deve ter em conta. Desde logo o tipo de pele do paciente. O especialista em dermatologia deixa ainda uma ressalva importante, para que quem decida fazer estes tratamentos não tenha uma surpresa desagradável.

“Frequentemente, quando o doente começa a fazer o tratamento, a pele sai mais facilmente do que as lesões. E isso pode dar a sensação de que está a piorar, porque a verdade é que as lesões se tornam mais evidentes, ficam mais superficiais. Mas pelo contrário, isso é um indício de melhoria.” E preventivamente, há algo que se possa fazer? Não há receitas milagrosas. Mas Susana Vilaça lembra que “desmaquilhar sempre, para que os poros não obstruam, e fazer a limpeza diária da pele”, com produtos adequados para o efeito, são regras de ouro.

Espremer nunca

Depois, há aquela velha tentação, de notar os pontos negros e os ir espremer até à exaustão, seja em nós ou em terceiros, pela ingénua crença de que isso vai resolver o problema ou pela perversa sensação de alívio. E mesmo que, lá no fundo, uma parte dos adeptos desta prática já o saiba, nunca é de mais repetir: espremer pontos negros nunca (e o mesmo em relação aos pontos brancos, claro está).

António Massa ajuda a explicar porquê: “No contorno da lesão, a parede superior é mais grossa do que as laterais. E o que muitas vezes acontece quando se espreme é que esta parede rebenta pela lateral e isso vai potenciar todo o processo inflamatório, formando-se uma cicatriz que perdura no tempo.” Ana Nogueira, do Centro Hospitalar de São João, reitera este ponto: “A extração de comedões deverá ser feita preferencialmente por um profissional com experiência para minimizar o risco de inflamação, sobreinfeção e cicatrizes, mais ainda no caso dos comedões fechados [pontos brancos]”.