Depois de 18 anos de Jerónimo de Sousa, Paulo Raimundo assumiu a liderança. Há uma renovação geracional, sim, há o seu estilo, é certo. De resto, tudo como dantes na forma e no conteúdo, na essência e no discurso, nas prioridades e no modo de estar. A mesma voz coletiva, a mesma intervenção, as mesmas palavras de ordem. A mesma vida e a mesma missão. A estreia como secretário-geral na Festa do Avante! está prestes a acontecer e não se esperam surpresas. A luta continua num partido que garante que não é como os outros.
O trabalho da era Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, começou nas ruas, como era previsível. Ele conta-o em discurso direto num resumo alargado. No plural, como habitualmente. “Demos uma volta a praticamente todo o país, muito contacto nas empresas, mas também nas ruas, feiras e mercados, com utentes da saúde, micro, pequenos e médios empresários e agricultores, pescadores, forças de segurança, professores, com organizações de mulheres, mas também de juventude, abordagem a questões tão diferentes como a cultura ou o desporto, mas também visitas a empresas procurando valorizar a nossa capacidade produtiva ou o tratamento das questões da soberania alimentar, enfim, muito contacto, muitas e boas conversas, muitas questões para evidenciar e tratar.” São nove meses ao leme do Partido Comunista.
Depois de Jerónimo de Sousa, Paulo Raimundo sabia que a tarefa seria exigente, não propriamente igual porque cada um tem o seu estilo e a sua forma de estar, e isso marca e nota-se. O que trouxe de diferente? “Uma forma de estar e um estilo que é meu. Se há coisa que o PCP tem feito, e faz todos os dias, é atualizar a sua ação, formas e estilos de trabalho”, responde. A sua primeira Festa do Avante! como secretário-geral está à porta, começa sexta-feira, 1 de setembro, termina domingo, dia 3. Não abre o jogo sobre o seu discurso de encerramento, o primeiro nesse palco montado na Quinta da Atalaia. Na terça-feira, esteve no recinto da festa, com os jornalistas atrás, a ver e a agradecer a dedicação e o envolvimento de todos os que ajudam a erguer esta iniciativa que marca a rentrée do partido, e falou em confiança e em determinação. Daqui a uma semana, falará aos camaradas e ao país.
José Adelino Maltez, politólogo e professor universitário, investigador e analista político, não antevê novidades nas palavras do novo líder. “É o mesmo escritor, é o mesmo coletivo”, observa. “É simples. O PCP é dirigido por um coletivo democrático, Paulo Raimundo é o porta-voz do partido”, sublinha. Como o era Jerónimo de Sousa. Mudanças no partido com um novo líder? Nada disso, comenta. O politólogo fala em permanência, prefere-a à expressão continuidade, não é o estilo que faz o partido, e não é coerência, é característica do partido. “Tudo como dantes. E ainda bem. Há alguém que mantém o estilo e trabalha pela vida”, salienta.
João Frazão, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, lá estará, no Avante!, chegou a ser apontado como sucessor de Jerónimo de Sousa, pelo próprio então secretário-geral, não foi, e elogia a normalidade e tranquilidade do processo de eleição interna e o facto de mais de 200 pessoas saberem que Paulo Raimundo era o nome em cima da mesa e durante uma semana nada ter saído para a comunicação social. Tudo feito segundo os preceitos do partido. Agora, meses depois, Frazão diz que é mais fácil perceber duas coisas. “A primeira é uma ampla unidade no PCP, não em torno desta ou daquela figura, mas em torno de um caminho, de um rumo, de objetivos imediatos e estratégicos que o partido está a percorrer. A segunda, é um amplo consenso, não apenas nos organismos de direção, mas no próprio partido em torno do camarada Paulo Raimundo para a tarefa de secretário-geral”, refere, lembrando que o novo líder é um quadro jovem na política nacional, dos mais jovens dirigentes dos partidos com assento parlamentar. Tem 46 anos, fará 47 no próximo mês. “Se há coisa que não se pode dizer é que os órgãos de direção do PCP estejam envelhecidos. Se a perceção pública é a de que o PCP é um partido envelhecido, isso não tem correlação nenhuma com a realidade”, avisa Frazão.
Há uma nova vida no PCP? Não, responde o politólogo António Costa Pinto. Não se pode falar dessa forma, mesmo que, como é natural, um chefe político e a sua personalidade conduzam a um estilo específico, mesmo que, como é o caso, haja para trás longas direções de liderança personalizadas, mesmo que, como é sabido, o agora secretário-geral não fosse um nome conhecido fora da estrutura comunista. “Paulo Raimundo é escolhido fundamentalmente como fator de continuidade do PCP, um funcionário político que conhece bem o aparelho do partido de norte a sul, menos conhecido pela opinião pública”, repara. O percurso interno fala por si. Paulo Raimundo aderiu à Juventude Comunista Portuguesa em 1991, é membro do partido desde 1994, eleito para o Comité Central em 1996, funcionário do PCP desde 2004. Quanto ao estilo, sustenta Costa Pinto, “Paulo Raimundo tem uma postura de moderação discursiva, de calma discursiva”.
André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos na Universidade Católica, não vê alterações estruturais no PCP. “Vejo uma mudança geracional, uma mudança de personalidade, não vejo grandes mudanças para lá disso”, afirma. O tempo de Jerónimo de Sousa foi importante e significativo, há fatores pessoais que são sempre relevantes, de resto, a vida de sempre. “Os sinais que temos até agora é que é uma continuidade que tem a ver com o perfil do novo líder.” A sua formação, a sua experiência partidária, a sua participação na estrutura do partido. André Azevedo Alves recorda a própria mensagem do PCP nessa transição, de que não haveria desvios nos caminhos traçados, sem alterações substanciais na dinâmica do partido. A essência e o ADN mantêm-se intocáveis, as prioridades idem aspas. “A ligação a movimentos sindicais e a outros movimentos populares ou de base tem sido a matriz do PCP.” A luta continua a ser por aqui.
Resolver os problemas reais do povo e do país. Aumentar salários e pensões, garantir o acesso ao Serviço Nacional de Saúde, combater o aumento do custo de vida, reduzir preços de bens essenciais, travar os aumentos das taxas de juro, colocar a banca a pagar os encargos com a habitação. Assuntos não faltam. “É preciso combater a injustiça e as desigualdades e que o desvio mediático para outras questões, essas sim laterais, não ajuda a resolver”, aponta Paulo Raimundo. Há cerca de uma semana, num almoço convívio em Alter do Chão, o secretário-geral voltava a insistir no aumento geral dos salários e das pensões e a apontar o dedo às políticas do Governo e aos partidos de Direita. “Todos os dias enchem a boca de impostos, páginas e páginas de jornais sobre o assunto, mas no concreto estão-se nas tintas para os trabalhadores”, disse. E voltou ao ataque. “Votaram todos juntos contra as medidas que propusemos para tributar os lucros dos grandes grupos económicos, da banca, da energia, de todos aqueles que se estão a abotoar à custa do sacrifício de milhares e milhares de pessoas.” O discurso não mudou. Sem esquecer o tema da habitação, na ordem do dia, o aumento dos juros, a subida das rendas, a especulação de preços no setor imobiliário.
Criatividade e ousadia na militância de base
Ao lado do povo, faça chuva ou faça sol, em qualquer lado, na luta por um país desenvolvido e soberano e uma sociedade mais justa. A estratégia está traçada. “Ligar o partido ainda mais às pessoas, aos seus problemas e imprimir uma dinâmica de afirmação e construção das soluções que se impõem na vida dos trabalhadores, da população e do país. Dar continuidade ao trabalho procurando ir ainda mais longe nesta dinâmica de ligação e mobilização, é este o caminho”, adianta Paulo Raimundo, que garante que a vida interna do partido está “viva, dinâmica e determinada” e que o PCP não é um partido como os outros. “O PCP é um partido diferente dos outros, isso é um facto. Tem uma forma de organização e até de direção sem paralelo, isso não significa que seja um partido fechado, pelo contrário, o PCP é o único partido em Portugal com uma vida transparente, é assim nas suas contas, é assim no número de militantes, é assim na clareza e coerência das suas posições, é assim no dia a dia.” A comunicação é diária e próxima dos trabalhadores e das populações, assegura. “O nosso maior problema é a comunicação que fazem da nossa comunicação, esse sim é um problema e que não está nas nossas mãos resolver”, atira.
Tomar a iniciativa, responder às novas exigências, reforçar o partido. Este é o lema, segundo Frazão, que defende ser preciso ir mais longe, “não atirando borda fora todo o potencial e património de ação e intervenção que o PCP tem.” Reforçar a ligação aos trabalhadores, às massas, insistir na intervenção local, batalhar pelos direitos sociais. “E o secretário-geral tem tido um papel importante, até pelo estilo de intervenção, pela facilidade de contacto com as populações e os trabalhadores nas empresas e locais de trabalho. Assistimos a uma identificação muito grande com os problemas dos trabalhadores.”
Independentemente do estilo de cada um, Frazão garante que há empatia, identificação imediata dos trabalhadores ao partido, ligação e afetividade. “O secretário-geral tem um papel particular na direção do PCP, mas não manda no PCP”, realça. No PCP, o funcionamento coletivo está acima de qualquer intervenção individual. Isso não se alterou. “Temos toda a abertura na comunicação com os trabalhadores, povo, eleitorado, a partir da política que defendemos, das opções que propomos para o país, das medidas que em cada momento consideramos necessárias para responder aos problemas”, enfatiza Frazão.
As prioridades continuam a ser as mesmas, sobretudo duas. “Os grupos sociais populares e as reivindicações económico-sociais”, constata o politólogo Costa Pinto. É uma escolha do partido e um voto no PCP, que trabalha e funciona como um coletivo, não é um voto no nome do seu líder que não tem impacto a esse nível, considera o politólogo. A dinâmica coletiva é o que é visível e vem ao de cima. “Pode haver inflexões estratégicas e programáticas que podem ter impacto.” Mas as lutas e a forma de estar do PCP são conhecidas e não se resumem à pessoa do seu líder.
Paulo Raimundo foi a escolha para a liderança do partido, em novembro do ano passado, responsabilidade, admite, que nunca tinha ambicionado. E di-lo com todas as letras: “Havia e há outros dirigentes do meu partido em condições de assumir todas as tarefas que se colocam, incluindo a de secretário-geral. E isso é em si mesmo muito positivo”.
A nomeação de Paulo Raimundo, com trabalho no partido, mas com baixo nível de notoriedade externa – não era alguém a girar na comunicação social, nem comentador nas televisões, nem colunista nos jornais -, é consistente, para André Azevedo Alves. “É uma escolha de acordo com a lógica de funcionamento interno do partido.” Nesse sentido, o novo líder encaixa perfeitamente nesse modo de estar. “É replicar o mais possível com o mínimo de alteração”, resume o professor da Católica. Mesmo o processo de eleição foi feito à imagem e semelhança do PCP, não se soube nomes de possíveis candidatos, se os houve, a decisão foi apresentada como escolha unânime – se houve fricção interna, não se soube.
O historiador José Neves, professor auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, coordenador da antologia “Partido Comunista Português 1921-2021”, editada pela Tinta da China, recorda, antes de mais, que a mudança de líder foi ditada pela necessidade, pela saúde de Jerónimo de Sousa. Paulo Raimundo aparece com alguns pontos em comum com o seu antecessor, homens de base próximos das bases, próximos dos militantes, de origens sociais e culturais que, de alguma maneira, se tocam. Paulo Raimundo foi carpinteiro, padeiro, animador cultural. “A escolha já corresponde a um diagnóstico que os órgãos dirigentes fazem da situação do partido, da identificação dos problemas e das dificuldades, e das respostas.”
José Neves também não vê uma nova vida no PCP, mas viu um apelo com significado do secretário-geral, numa das suas primeiras entrevistas após a nomeação. Palavras diretas para dentro, olhando para fora. A mensagem foi clara. “Revalorizar a importância da militância de base, não basta pagar as quotas, não basta cumprir os hábitos, não basta ir à Festa do Avante!, não basta repetir as palavras de ordem. É preciso alguma criatividade e ousadia, sair da rotina, na forma como os órgãos de base agem na vida quotidiana. Um nível mais ‘rasteiro’ da política mais quotidiana”, define o historiador. O secretário-geral quer militantes mais ativos. Se está a conseguir os seus propósitos, é difícil avaliar, ainda é cedo.
Em todo o caso, unidade, acima de tudo, uma decisão sem sobressaltos, com opiniões contraditórias, o que faz parte, muitas reuniões, um debate amplo, sem lutas fratricidas. “Temos uma vantagem no PCP, como não fulanizamos a nossa vida partidária, temos o trabalho assente de uma forma muito funda no trabalho coletivo, em que a contribuição de cada um é essencial, isto fica muito facilitado na nossa vida coletiva”, explica Frazão. Paulo Raimundo não era o nome mais óbvio, mas o trabalho e a dedicação ao partido eram conhecidos, e o rumo não se modificou, segundo Frazão. “Não há nenhuma diminuição, nenhuma alteração, do que é a nossa atividade e empenhamento. A ação do PCP não se esgota de maneira nenhuma na ação do secretário-geral, contando com centenas de iniciativas e ações”, assinala. “Se o secretário-geral do PCP não é ainda tão conhecido como a sua atividade e ação mereceriam, creio que isso diz mais do trabalho que fazem os órgãos de comunicação social do que do secretário-geral e do partido”, frisa o membro do Comité Central.
Paulo Raimundo usou a palavra invasão para falar da guerra na Ucrânia. André Azevedo Alves não vê aqui uma mudança de posicionamento do PCP que, em seu entender, privilegiou a consistência da sua orientação política de ser uma voz dissonante neste assunto, num país ocidental e membro da NATO. O que Paulo Raimundo disse tem um enquadramento. “Tem a ver com a maior exposição pública do líder, de responder a perguntas dos jornalistas, talvez seja difícil manter, em todos os momentos, a simbologia.”
Quanto à Festa do Avante!, André Azevedo Alves não antecipa surpresas ou novidades de maior na estreia do líder na pele de secretário-geral. “As expetativas não parecem muito altas, ninguém está à espera de grandes surpresas.” José Neves antevê um PCP igual a si próprio na Quinta da Atalaia, com três ou quatro ideias-chave apontadas aos outros partidos, à comunicação social e às estruturas internas. O Avante!, diz, acaba por ser mais uma “reunião interna a céu aberto, no meio de muita gente, sem paredes de vidro”.
A erosão eleitoral, a falsidade da geringonça
A perda de militantes em 2000, a perda de deputados nas últimas legislativas, a perda de representatividade no poder autárquico. Para André Azevedo Alves, um dos maiores desafios do PCP é precisamente inverter a trajetória de erosão dos resultados eleitorais. “Não vejo no novo líder, não obstante ser uma pessoa articulada, competente, com pensamento estruturado, grande potencial de reverter essa tendência. No melhor cenário, estancar”, refere. Se perder representatividade no próximo processo eleitoral, nas eleições de 2024, alerta, “pode entrar numa crise séria”. O caminho, parece-lhe, passa por travar perdas e consolidar estruturas, sobretudo com uma maior concorrência à esquerda.
O PCP é como é nesta questão de votos. José Adelino Maltez destaca que a conquista de novo eleitorado não está no sangue do partido. Permanência, também aqui, num eleitorado que é fixo, não volátil. “Quer ir até ao fim dos tempos com fidelidade aos seus militantes. Não é um problema de teimosia, é ideologia.” “É como é, está como está”, comenta. As notícias da morte do PCP parecem-lhe manifestamente exageradas. “O PCP sempre se renovou, não está no caminho da morte, como alguns dizem”, observa José Adelino Maltez. E essa resistência vê-se em votos. “Não vai haver um desastre tão grande, como se diz por aí.”
“Com o PCP sabem com o que contam e isso conta muito”, vinca Paulo Raimundo. Há regressos e novos militantes, mais de 2500 desde 2021 até abril deste ano. “Gente nova e nova gente, muitos deles já assumem muitas e diversas responsabilidades e garantem o funcionamento e a ação do partido.” Seja como for, perdeu deputados no Parlamento. O que faz pensar. Paulo Raimundo reconhece o resultado negativo e volta a afirmar que, nessa altura, de eventuais eleições antecipadas, o país precisava de soluções e não de ir a votos. “O PS chantageou, o presidente da República contribuiu e os resultados estão à vista. Maioria absoluta do PS com todas as consequências conhecidas.” Como contrariar esta tendência do eleitorado? “Da nossa parte, a estratégia é a mesma de sempre e se possível ainda com mais dinâmica, ligados à vida na procura e construção das soluções que se impõem.”
O historiador José Neves recorda a capacidade do PCP perder e recuperar câmaras, admite que a redução no grupo parlamentar fez alguma mossa, diz que baixar mais os resultados eleitorais não será uma catástrofe, mas seria bastante preocupante. De resto, o PCP sabe como se mover, mantendo os seus princípios. “O PCP sabe que manter-se fiel a um conjunto de ideias e as variações táticas não corrompem a sua identidade.” Mesmo assim, há trabalho a fazer. “Por um lado, expandir-se pelas bases e, por outro, tem tido uma certa dificuldade e iniciativa política que marquem a agenda de debate a nível cultural, intelectual, político.”
As derrotas não são para sempre, as vitórias também não, avisa João Frazão. “A influência social e política do PCP não é uma curva a crescer e depois a descer, houve momentos a crescer e outros a descer”, lembra. Há momentos melhores, há momentos piores. “Todos os dias trabalhamos em função de reforçar o partido, não para o mostrar mais organizado, mas para que responda às questões da habitação, dos salários, dos transportes públicos, da saúde. Não parece, mas a sociedade portuguesa está marcada pela dimensão da ação de massas, de resposta dos trabalhadores aos problemas.” Há luta, há movimentação, há intervenção, muitas ações nos últimos meses. “Houve dois momentos extraordinários, o 25 de Abril e o 1.º de Maio. Com uma dimensão como há muito não se via.” E o PCP sempre lá, nas ruas, à porta de empresas, em greves, em manifestações. “Aquilo que marca este tempo todo, independentemente da espuma dos dias, dos casos que aparecem e desaparecem de um dia para o outro, é esta continuidade de uma outra exigência.” A voz do descontentamento, a voz que diz que é possível uma vida melhor, uma voz que aponta caminhos, segundo Frazão. “A vida do PCP foi sempre de nova vida e agora também é. Estamos muito concentrados com as batalhas do presente, não temos nenhuma preocupação com o que possa acontecer daqui a dez ou quinze anos”, revela.
A geringonça é um assunto delicado. Paulo Raimundo fala numa falsidade mil vezes repetida, mil vezes desmentida. “O PCP nunca integrou o Governo do PS. É claro que o PCP não integrará um Governo do PS.” Por várias razões, por várias consequências. O secretário-geral fala na rutura com a política de Direita e na adoção de uma “política patriótica e de Esquerda”. É disso que se trata, é esse o compromisso de ação do PCP. Quanto à solução de Governo, duas coisas. “Primeiro, na situação que vivemos, a política patriótica e de Esquerda que urge adotar exige um Governo que a assuma e concretize. Um Governo que não é um Governo do PS, nem do PSD e dos seus sucedâneos, mas sim um Governo patriótico e de Esquerda assente na mobilização e participação dos trabalhadores e das massas populares e que, na sua direção e composição, deverá contar com os comunistas e todos os que quiserem dar corpo a uma política de defesa dos interesses nacionais e que coloque os trabalhadores, as populações, no centro a sua ação”, indica, prosseguindo: “Segundo, o PCP assume e admite ser responsável pela formação de um Governo quando o povo português assim o entender. Aliás, se há lição destes tempos é a que quanto mais força tem o PCP, também no plano eleitoral, mais avançam as condições de vida e os direitos dos trabalhadores”.
Os casos e casinhos do Governo e do PS, as atenções mediáticas centradas nessas situações, não são olhados como uma oportunidade para o PCP se reorganizar na sombra. Para Paulo Raimundo, há aspetos graves nestes casos, que merecem fortes críticas, e há empolamentos e elementos de diversão para desviar, apagar ou desvalorizar os problemas do povo e do país. É precisamente aqui que o PCP está concentrado, segundo o secretário-geral. “Aumentar salários e pensões, combater o aumento do custo de vida, reduzir preços de bens essenciais, travar os aumentos das taxas de juro, colocar a banca a pagar os encargos com a habitação”, repete. Questões não faltam. “Agora, há quem se aproveite destes casos, quem deles vive politicamente, quem tem de se agarrar a alguma coisa para tentar falsos distanciamentos com a política do Governo ao serviço dos grupos económicos e financeiros ou quem precise de um pretexto para a não resolução dos problemas do país.”
Frazão olha para esses casos e casinhos e dá-lhes a importância que acha que têm. “Que, na maioria dos casos, é muito pouca ou nenhuma, como aliás se vê pela velocidade com que passam nas nossas vidas sem terem qualquer impacto, servindo apenas para ocultar o debate do essencial.” E o essencial tem sido o que realmente interessa ao partido.