Paulo Leitão Batista: o homem que apaga a luz

Paulo Leitão Batista é diretor Nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras

Beirão, bonacheirão, bom profissional, bom tipo, sempre pronto a ajudar. “Não surpreende ter aceitado fechar a porta do SEF”, dizem.

Os sindicalistas desfazem-se em elogios. “Muito humano, competente, conhecedor da atividade, destacou-se na fiscalização e na investigação. Um operacional, um homem do terreno. Um chefe que nunca diz ‘vão lá ver’. Vai ele, e vai à frente, apresentando resultados”, descreve Rui Paiva, presidente do Sindicato da Carreira de Fiscalização e Inspeção do SEF. “Uma figura consensual”, diz do seu superior hierárquico direto durante quatro anos, em convivência diária. Renato Mendonça, do Sindicato dos Inspetores da Fiscalização, Investigação e Fronteira não esconde a amizade. “É companheiro. Um superior sempre acessível, muito simples, uma personalidade que conquista amizades.”

Paulo Leitão Batista foi a escolha natural, dizem, para substituir Fernando Pinheiro da Silva, de quem era adjunto. O anterior diretor nacional do SEF abandonou as funções após a aprovação dos diplomas legais que definem as transferências de competências do SEF para outros organismos, no quadro da reestruturação do sistema português do controlo de fronteiras. Não se esperava que o sucessor lhe seguisse as pisadas e batesse com a porta. “Beirão, bonacheirão, bom profissional, bom tipo, sempre pronto a ajudar. Não surpreende ter aceitado fechar a porta do SEF”, opina um oficial superior de outra força de segurança.

Mas há vozes críticas. “Não lembra ao diabo nomear um diretor nacional por dois meses, para fazer o funeral. Mantinha-se em substituição do diretor nacional, uma vez que era diretor nacional adjunto, pronto para manter a dignidade que resta, se é que resta alguma. Mas nem isso. A sua nomeação, nestas circunstâncias, é um ato caricato e triste”, observa um quadro superior do SEF, que pede anonimato. “É socialista e também por isso será cordato para o funeral.”

Rui Paiva e Renato Mendonça defendem a posição do atual diretor nacional, não deixando, porém, de olhar aos interesses socioprofissionais dos trabalhadores que serão incorporados, extinto o SEF, na Autoridade Tributária (apenas quadros superiores), na PJ e restantes forças policiais. “Esperamos que se mantenha fiel a ele próprio, sabendo todos que não terá grande margem de manobra. Cumpre-lhe seguir o calendário político e legal”, afirma Renato Mendonça. “Foi escolhido porque é pragmático, inteligente. Pode eventualmente ter um peso político menor que não lhe permita resolver as três ou quatro questões a nível socioprofissional que nos preocupam na transição, mas acredito que tentará fazê-lo”, sublinha Rui Paiva. Que reforça o lado cordato do novo diretor nacional do SEF: “Muito boa pessoa. Nunca o vi chateado com ninguém, pôr um processo disciplinar ou participar de um inspetor”. Pese embora “seja firme”, adiciona, “custa-lhe tomar partido, tentado conciliar o que é manifestamente inconciliável. Talvez essa possa ser a faceta menos positiva”.

Inspetor coordenador superior do serviço de estrangeiros e fronteiras, Paulo Leitão Batista ingressou na Guarda Fiscal em 1988. Seis anos mais tarde, em 1994, iniciou a carreira na Investigação e Fiscalização do SEF. Em 2009, ascendeu à categoria de inspetor coordenador superior. Foi diretor central de investigação de 2021 a 2022. E diretor nacional adjunto desde 2022. É licenciado em Economia. Foi o primeiro do terceiro curso da Carreira de Inspeção e Fiscalização a ascender a inspetor coordenador superior.

É sabugalense convicto. Presidiu à Casa do Sabugal em Lisboa e é chanceler da Confraria do Bucho Raiano, iguaria degustada na época carnavalesca. Estuda há anos as expressões raianas populares, o contrabando para Espanha nas décadas de 1950 a 1970 na zona contígua ao rio Côa, as marcas das invasões francesas na região. Cronista da imprensa local, publicou “Retratos da vida aldeana”. “Não é poeta, mas tem uma escrita pragmática agradável”, considera Rui Paiva.

Aos 57 anos, Paulo Leitão Batista aceitou apagar a luz. “Deram-lhe uma tarefa e, como bom profissional que é, vai cumpri-la”, frisa Renato Mendonça. “Nestas áreas, as emoções contam pouco.” Diz que o amigo nunca foi homem de recusar “missões”. De cavanir, expressão raiana que significa “pôr-se ao fresco”.

Paulo Jorge Leitão Batista
Cargo:
Diretor Nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
Nascimento: 02/10/1965 (57 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Sabugal)