O mês rei das queimas das fitas chegou. A do Porto, a maior do país, acabou de começar num Queimódromo que se enche de farra pela noite dentro. Os investimentos no grande evento das academias têm muitos zeros. Por trás da festa há estruturas bem oleadas, quase empresariais, feitas de estudantes a gerir verbas gigantes, a traçar orçamentos, a investir lucros. A trabalhar voluntariamente. E a administrar um ano inteiro.
A pergunta que Slow J faz no single lançado em janeiro “where you @” [onde é que andas, numa tradução livre para português] – repetida num refrão que o artista vai certamente fazer entoar esta noite no Queimódromo do Porto – não será difícil de responder nos próximos dias para os estudantes da Invicta. A madrugada foi longa, frenética, a Queima das Fitas do Porto já arrancou. E depois de uma edição digna de memória em 2022, a vingar a pandemia que roubou a festa maior da Academia, a retaliar dois anos de jejum com mais de 300 mil pessoas, a fasquia está alta. A Federação Académica do Porto (FAP) não se pôs a dormir à sombra do ano que passou, pela primeira vez são três os palcos, um Principal, um Secundário para noites temáticas e um Cultura que dá destaque ao stand-up comedy e com espaço para estudantes humoristas. O cartaz bem podia ser o de um qualquer festival de verão, que quis apostar em nomes fortes nacionais e também estrangeiros, de Ornatos Violeta, ontem, aos irlandeses Two Door Cinema Club, na sexta-feira. Contas feitas, mais de 50 artistas contratados, um recinto que se espera a abarrotar e a rasgar as fronteiras académicas no público.
É preciso rebobinar a cassete até janeiro para tomar o pulso à magnitude do que é organizar uma queima. É aí que a máquina associativa começa a trabalhar, a tentar pôr de pé o mais lucrativo evento da FAP. Envolve os municípios do Porto e de Matosinhos, além de mais de 500 estudantes voluntários, de diversos cursos da Academia, a “grande beleza” de tudo, nas palavras de Ana Gabriela Cabilhas, presidente da FAP. “Acabam por ceder o seu tempo gratuitamente, são a alma e o coração da Queima. Trabalham na comissão ambiental, no apoio clínico, não só estão no próprio recinto, como também estão ligados às atividades académicas, desde a Bênção das Pastas à Serenata.” E a estratégia da FAP vai muito além da farra. Faz-se fora da caixa da vida boémia, tem dedo cívico. A começar pelas medidas ambientais que constam no Pacto da Queima das Fitas do Porto para o Clima e que convoca todos os parceiros, desde as barraquinhas às entidades públicas. É a promoção dos transportes públicos, a desmaterialização da bilhética, “a priorização de casas de banho ligadas à rede de saneamento, a separação de resíduos no Queimódromo”. Há ainda um copo reutilizável e um novo sistema de cashless – não há dinheiro a circular, todo o consumo é feito com uma pulseira, que tem um chip e é carregada através de uma app, em quiosques ou em postos físicos no recinto, “é a aposta na transição digital”.
E, sim, tudo isto é investimento. A direção da FAP – são nove elementos, todos estudantes – trabalha afincadamente para a Queima, entre esboçar o cartaz, contratar artistas, segurança ou montagens. Vamos a números. O orçamento do evento ronda os 2,5 milhões de euros, de longe o maior do país. “Este número engloba tudo, Queimódromo, atividades académicas como a Serenata, a aposta na sustentabilidade. E tudo o que é retorno é devolvido à Academia”, ressalva Ana Gabriela. Seja para investir no desporto, na Semana de Receção ao Caloiro ou na residência universitária que a FAP está a fazer nascer. Lá iremos. Gerir a FAP é gerir um gigante. Uma autêntica empresa de muitos zeros que não se extingue na Queima, mas que orbita em torno dela. Porque é daí que vem a maior fatia para o ano inteiro. A FAP, que tem 26 associações de estudantes federadas, que representa cerca de 80 mil estudantes do Porto, do Ensino Superior público universitário, politécnico ou privado, não divulga o orçamento anual, mas não é preciso muito para perceber que é astronómico. E começando pela Queima, “há o compromisso de cada direção de gerir as verbas de um ano para o outro, ou seja, há sempre uma verba preparada para alocar ao arranque da organização da Queima”. O resto é uma gestão diária.
Ana Gabriela não é a primeira presidente mulher, mas é a primeira mulher a ser reeleita na FAP e isso já é feito que baste. É da Branca, freguesia de Albergaria-a-Velha, tem 26 anos, vai no terceiro mandato (os mandatos são de um ano). Licenciada em Ciências da Nutrição, está a fazer mestrado em Ciências do Consumo e Nutrição e o associativismo atravessou-se no caminho quando se mudou para o Porto. Por ser estudante deslocada quis envolver-se na associação de estudantes da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação, para se fazer presente. Rendeu-se. “É uma missão, a de representar os estudantes, de estar atenta aos estudantes deslocados, de dar apoio.” Abraçou a presidência da FAP na mais desafiante das épocas, a pandemia, quando a estrutura teve de se reinventar, adaptar. Estrutura essa que conta 33 anos e oito funcionários fixos, que não são voluntários, recebem salário, na tesouraria, comunicação, secretariado. A FAP recebe apoios, seja do IPDJ, das instituições de Ensino Superior, de empresas. Mas o trabalho ultrapassa o cartão de visita da Queima das Fitas e agiganta-se.
O investimento numa residência universitária
Tanto se traduz na organização da Tomorrow Summit, o evento dedicado a pensar o futuro que acontece em novembro, como nos dois centros comunitários da FAP no Bairro, um no bairro de Pinheiro Torres, outro no bairro do Carriçal. “São centros abertos da parte da tarde, onde estão dois coordenadores e estudantes voluntários da Academia, que desenvolvem atividades pedagógicas e culturais para as crianças desses bairros.” Ou no Pólo Zero, espaço no Passeio dos Clérigos, aberto a todos os estudantes – universitários e não só – para fazerem trabalhos de grupo, para estudarem, para eventos, “é um polo catalisador”, ponto de encontro da Academia com a cidade. O caminho também se faz na política, a lidar com as universidades, com serviços de Ação Social, com a tutela. “E temos tido uma voz ativa na política educativa.” Ou no desporto, na organização dos Campeonatos Académicos do Porto (três mil atletas, 164 equipas inscritas só neste ano letivo), nas equipas e estudantes a competir também a nível nacional, em muitas modalidades.
“Diria que estar ao leme da FAP carece de todo o meu tempo, é um trabalho diário, que exige permanência. Estou a fazer a minha tese e ela tem de ficar, muitas vezes, em segundo plano”, confessa Ana Gabriela. “Isto é uma escola de vida. De empenho diário, de serviço cívico. Aprende-se muito sobre gestão de pessoas e equipas, sobre gerir preocupações e interesses diferentes, sobre estabelecer compromissos.” Pondo os olhos nas contas, todos os lucros, reforça, são devolvidos aos estudantes. E talvez o exemplo mais flagrante seja o facto de a FAP estar a requalificar um prédio cedido pela Autarquia do Porto, na Rua da Bainharia, centro histórico, para criar uma residência universitária. Nisso de uma residência de gestão partilhada a FAP é pioneira a nível nacional. “O alojamento é um dos principais problemas do Ensino Superior, que já estava identificado há muito tempo. Desde 2018 que os representantes dos estudantes alertavam para isto. Recebemos vários pedidos de ajuda e é muito frustrante não conseguir ajudar. Queremos fazer parte das soluções.”
As verbas geradas pela edição de 2022 da Queima das Fitas do Porto, que ultrapassou as expectativas, permitiram “reunir condições para investir neste projeto”, dado que já permite ter uma perceção do lucro. As obras seguem em velocidade de cruzeiro, o objetivo é abrir no início do próximo ano letivo. São 40 camas, a ideia é ter uma gestão mais próxima da comunidade estudantil. “Os serviços de Ação Social da Universidade do Porto vão encaminhar-nos os estudantes que cumprem condições de elegibilidade para a residência e depois a gestão da residência vai ser assegurada pela própria FAP, o que nos vai permitir auscultar permanentemente as necessidades.” Mas há uma crítica ao Governo pelo caminho. “No âmbito deste projeto, tentámos uma candidatura ao PRR, só que as associações de estudantes não são consideradas elegíveis. Fica bem no discurso político dizer que os jovens são ouvidos, mas no momento da tomada de decisão isso falha.”
Coimbra, um trabalho centenário
No mês rei das queimas das fitas no país, é tempo de olhar para dentro das associações académicas, para as estruturas, de levantar a cortina. Coimbra, eterna cidade dos estudantes, que ainda preserva as repúblicas, de remota história, uma das mais antigas universidades do Mundo, entra no radar. A Queima aqui só começa a 19 de maio, mas o trabalho há muito que já está no terreno e a Associação Académica de Coimbra (AAC) tem uma comissão organizadora, uma estrutura própria só para o evento, tal é a envergadura, com dois funcionários pagos, um órgão diretivo e comissários de cada faculdade. Na edição deste ano, que volta a ver o Cortejo sair à rua à terça-feira, como era antigamente (seria ao domingo não fosse coincidir com os concertos dos Coldplay na cidade), o orçamento anda à volta de 1,5 milhões de euros. “É a nossa previsão de despesas, depois com as receitas espera-se também o lucro. E costuma dar sempre”, admite João Caseiro, presidente da AAC. Em 2022, deu meio milhão de lucro (mas já chegou a dar um milhão).
O encanto de Coimbra até pode ser maior na despedida, como reza a canção de Fernando Machado Soares, mas a beleza da vida académica não fica por viver. Ivete Sangalo, Linda Martini, Bispo, Gustavo Mioto, o cartaz, que balança entre nomes nacionais e brasileiros, está desenhado. Ainda há a típica Serenata Monumental, o Baile de Gala, o Chá Dançante, tradições enraizadas que vão além das oito Noites do Parque, na Praça da Canção, onde cabem 25 mil pessoas. O sistema está bem oleado. “No final do evento, é feita a distribuição de verbas. Uma parte fica para a organização da Queima do ano seguinte”, explica João Caseiro. O resto, dividido milimetricamente em percentagens já previstas, vai para a Direção-Geral da AAC, para as Secções Desportivas – e é sabido que a Académica também é um clube -, para as Secções Culturais com o fado de Coimbra como ícone, para Núcleos de Estudantes que são 26, para o Conselho de Veteranos que tem a tutela da preservação dos valores históricos da festa. “A Queima não é para dar lucro por si só, mas permite-nos ter fundo de maneio para o ano seguinte e é a grande fonte de financiamento para a restante atividade da AAC.” Ainda que haja mais fontes de receita. A Latada, o arrendamento de espaços no edifício da sede, apoios da Universidade de Coimbra, do IPDJ, da Câmara. “Passam vários milhões de euros pela associação académica por ano. Só que também temos grandes encargos financeiros, impostos, salários de funcionários que são quase duas dezenas, atividade política, contratação de serviços de limpeza, advocacia.”
Excluindo a Queima, o orçamento anual ronda 1,4 milhões de euros – na pandemia, sem o evento maior, tiveram que recorrer pontualmente à banca, empréstimo já liquidado. E João, de 23 anos, licenciado em Ciências da Educação e mestre em Administração Educacional, carrega o peso da responsabilidade. Afinal, está à frente de uma associação que conta 135 anos de história. É o segundo mandato como presidente, tomou posse pela primeira vez em maio de 2022, depois da morte precoce do antigo presidente, Cesário Silva, vítima de acidente de viação. Da dureza da perda fez forças e ele, que era vice-presidente, candidatou-se, segurou as rédeas de uma Académica em luto. “Quis assumir por uma questão de estabilidade. Sempre gostei muito de associativismo, deste lado de intervenção social, político, de gestão.” Mergulha nos números que sabe na ponta da língua, sem relutâncias. Só na Direção-Geral conta 63 elementos, “tudo trabalho não remunerado, estudantes das oito faculdades, que se dividem em vários pelouros, de administração, relações externas, gabinete de apoio ao estudante, a direção tem oito elementos”.
Passa o dia inteiro a gerir a associação, todos os dias da semana. É de Oliveira do Hospital, vai a casa uma vez por mês e sempre numa corrida, os pais bem gostavam que fosse mais vezes. “Coimbra está sempre a exigir que regresse. É inquantificável o que já aprendi aqui. De gestão, de direito, de política. É como se estivesse a tirar outro curso. Na verdade, chego a aprender muito mais na associação do que aprendi no curso. É muito exigente.” E entre os muitos milhões que por ali passam, os lucros revertem “ou para o fundo do próximo ano, ou para a manutenção da casa (têm duas papelarias, por exemplo), ou para atividades, a finalidade é sempre o estudante”.
As Secções Desportivas, que são 27, pesam em fama e em verba, mas isso reflete-se. Veja-se o basquetebol masculino da Académica, que está na 2.ª Divisão nacional, o futsal feminino, que está na I Liga, o judo, que teve a atleta Catarina Costa nos Jogos Olímpicos de Tóquio, e podíamos ocupar linhas e linhas de texto nisto. “Somos o segundo clube do país, a seguir ao Sporting, com mais modalidades. A beleza da Académica é essa, temos associados que não são estudantes, desde pequeninos até pessoas já reformadas. A Académica é o clube da cidade de Coimbra, vai além dos estudantes.” Com uma ressalva, o futebol é um organismo autónomo, que usa o nome e símbolo da Académica (e a AAC tem assento na Assembleia Geral), mas tem gestão própria, autonomia financeira. Voltemos aos associados, todos os mais de 25 mil estudantes da Universidade de Coimbra são associados efetivos da Académica. A par disso, ainda há cerca de 3500 associados seccionistas que estão ligados a uma secção em específico como é o caso das Secções Desportivas, também há associados extraordinários que são pessoas da sociedade que livremente se associam à AAC e pagam quota, além de associados honorários, antigos membros, onde se incluem nomes como Manuel Alegre.
Minho, enterrar a Gata custa milhares
Se treparmos o país até ao Minho, é aí que acontece outro dos maiores eventos académicos, logo depois do Porto e de Coimbra. As Monumentais Festas do Enterro da Gata já estão a decorrer. E enterrar a gata não é mais do que uma metáfora para enterrar todos os males e insucessos do ano letivo, um começar de novo. O Gatódromo, no Altice Fórum Braga, só fecha portas na próxima sexta-feira. Até lá, Ana Malhoa, T-Rex, Quim Barreiros ou Wet Bed Gang sobem ao palco, num cartaz “muito baseado no que os est udantes pedem”. É Margarida Isaías, presidente da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), quem o diz. O mote, este ano, é “A gata paga mas bufa”, tema que vai pintar todo o Cortejo Académico, na quarta-feira, em camiões decorados pelos cursos em jeito de manifestação contra a inflação.
O evento está orçado em 900 mil euros e há uma comissão da AAUM que trabalha só no enterro, cada membro fica responsável por determinadas áreas, desde a venda de pulseiras aos transportes, a equipa de segurança, catering, bilheteira, e por aí diante. Mas o trabalho acaba por envolver toda a direção, além de cerca de 100 estudantes voluntários que se juntam. “A AAUM trabalha muitas áreas, o desporto, a área social, cultural, o financiamento a diferentes núcleos, temos que ter fontes de receita e o Enterro da Gata é uma delas.”
A Receção ao Caloiro, os apoios do IPDJ e da Universidade do Minho ou a concessão que fazem do Bar Académico são outras fontes de financiamento. Olhemos, pois, para a estrutura de uma associação que conta com quase meio século e cerca de nove mil sócios entre os 21 mil estudantes da academia minhota. No órgão de direção, estão 35 estudantes, “tudo trabalho voluntário, nenhum recebe”. E depois há 11 funcionários, que trabalham na área administrativa, nos dois espaços do aluno em Braga e Guimarães, nas reprografias da associação, no departamento de desenvolvimento de carreira e um motorista (a Universidade do Minho tem a particularidade de se dividir entre duas cidades). O orçamento anual ronda os cinco milhões de euros.
Margarida está no 6.º ano de Medicina, foi eleita em dezembro, é o primeiro mandato. “É um curso bastante exaustivo, com muitas horas de estágio. Quando gostamos muito fazemos os possíveis para conciliar, mas é complicado.” Em novembro ia fazer o afamado exame Harrison, vai adiar um ano. A agenda é preenchida, entre as presenças em eventos, os grupos culturais, as diferentes secções, a gestão de equipa, o trabalho político, as dinâmicas a nível nacional entre associações académicas. E as tantas atividades, como a Gata na Praia, que leva os estudantes do Minho até ao Algarve nas férias da Páscoa para dias de competições desportivas informais e noites de convívio, “uma atividade sustentável, mas que não gera lucro”.
Em 2022, o Enterro da Gata rendeu 50 mil euros. “São muito poucas as atividades em que temos lucro, e todo o lucro que temos é investido noutras áreas que não devem ter lucro de todo.” É o caso dos grupos culturais, do departamento social ou do desporto universitário “onde há um trabalho bastante reconhecido”. “Estivemos há dias nas fases finais dos Campeonatos Nacionais Universitários e é tudo pago por nós. O hotel para as equipas, a alimentação, é investimento.”
Aveiro, depois da Semana do Enterro
Rumemos até Aveiro, a Veneza portuguesa que fechou a 29 de abril a Semana do Enterro, a grande festa do ano académico, um investimento de 600 mil euros – e as receitas vão apurar-se agora. Wilson Carmo, presidente da Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv), que conta 28 dirigentes, resume o trabalho de meses. “A direção tomou posse a 20 de janeiro e a 1 de fevereiro já estávamos a planear a Semana do Enterro. A decidir os primeiros nomes, a ver orçamentos para produção, tenda, som, luz, logística. Temos mais de 150 estudantes voluntários que nos ajudam.” Aveiro já adotou, em 2022, o sistema cashless que o Porto está a estrear este ano, foi a primeira semana académica a investir, e este ano repetiu o modelo. Na verdade, historicamente, o enterro de Aveiro resultava em “grandes buracos financeiros para a associação”. Em 2019, pela primeira vez em muitos anos, deu um lucro de 19 mil euros. “No ano passado, já conseguimos 80 mil, que investimos numa carrinha que precisávamos, porque além de termos atletas a competir nos Campeonatos Nacionais Universitários pelo país, temos uma estrutura de 44 núcleos, desde as tunas à informática e mais de 400 dirigentes na estrutura desses núcleos.”
Feitas as contas, o objetivo do Enterro é, pelo menos, cobrir os custos do evento. E, apesar das dificuldades, de a AAUAv andar sempre a “contar tostões”, “a semana académica de Aveiro é das mais baratas do país, custa uma média de 5,12 euros por dia aos estudantes”. “Preferimos correr o risco de não ter lucro ao invés de impedir muitos estudantes de irem. A Semana do Enterro é para todos.”
Só que a festa já lá vai e é hora de olhar para uma associação que conta dez funcionários a tempo inteiro, no desporto, cultura, design, limpeza. “Dois na contabilidade, dois no nosso bar que serve refeições, um advogado para servir os estudantes. O nosso funcionário mais antigo tem 30 anos de casa”, refere Wilson, que estudou Ciências Biomédicas e agora está inscrito em dois mestrados, um de Medicina Biomolecular e um de Gestão “para ter algumas bases para gerir a associação”. “Sempre tive este bichinho do associativismo estudantil. Estou aqui por gosto, o gosto de fazer mais pela Academia e pelos estudantes. Mas isto, no fundo, é uma empresa. O nosso orçamento anual é de quatro milhões.” Uma empresa que precisa de receitas. Os principais apoios são do IPDJ e da Universidade de Aveiro, além de patrocínios. “Em boa verdade, no total estes apoios rondam os 550 mil euros.” Fora isso, angariam receitas no serviço do bar que têm na Casa do Estudante, numa loja de merchandising “que vende sweats de cursos” e “numa loja de fotocópias”.
Tudo para investir em atividades, que se multiplicam numa lista infindável. A associação tem um espaço na cidade para os estudantes fazerem voluntariado, “nomeadamente a dar explicações e apoio ao estudo”. Promove a maior competição de desporto informal do país que é a Taça UA (quatro mil estudantes a competir, de outubro a junho, em mais de 15 modalidades, que se resume numa luta de cursos), um festival solidário, workshops, feiras de emprego, um bootcamp de empreendedorismo, concertos intimistas na Casa do Estudante, a Integração em outubro que dura um mês entre concertos no Teatro Aveirense e jogos no estádio do Beira-Mar, “para integrar os novos estudantes na comunidade e na região”. Entre os 18 mil estudantes da Universidade de Aveiro, a AAUAv conta cinco mil sócios.
“O foco que motivou a criação de associações académicas foi o de fazer política educativa, de representar os estudantes, e continuamos a fazê-lo. Mas com o crescimento do desporto e da cultura nas universidades, com as semanas académicas, temos que fazer uma gestão quase empresarial. Temos funcionários, muita coisa a gerir. Juntar pessoas em torno do associativismo universitário, com o propósito certo, sem ser com a ideia de ganhar alguma coisa a nível pessoal, não é fácil mas temos conseguido. Nunca esquecendo que se tivermos lucro, tem que ser investido nos nossos colegas.”
Número de estudantes
80 000. Academia do Porto (inclui Ensino Superior público, politécnico e privado)
25 500. Universidade de Coimbra
21 000. Universidade do Minho
18 000. Universidade de Aveiro
Orçamentos das queimas
2,5 milhões de euros, Federação Académica do Porto
1,5 milhões de euros, Associação Académica de Coimbra
900 mil euros, Associação Académica da Universidade do Minho
600 mil euros, Associação Académica da Universidade de Aveiro
1887
É o ano em que foi fundada a Associação Académica de Coimbra, a mais antiga associação de estudantes do país, com 135 anos