O que mudou na família real britânica com Carlos III

“Rei morto, rei posto.” O velho ditado foi fielmente cumprido já que, apenas dois dias após Isabel II ter dado o último suspiro, Carlos foi proclamado rei de Inglaterra. Fechou-se um ciclo e iniciou-se um outro, que será firmado com a coroação na Abadia de Westminster, a 6 de maio. Entre ruturas familiares, cortes nas despesas e a emergência de assuntos vistos como proibidos no seio da realeza, os ventos de mudança têm agitado os Windsor nos últimos oito meses.

“A rainha morreu pacificamente em Balmoral esta tarde”, anunciava um edital afixado nos portões do Palácio de Buckingham, em Londres, a 8 de setembro de 2022. O comunicado abriu margem ao despertar de uma nova era no Reino Unido e, indiscutivelmente, na monarquia britânica. Isabel II, a soberana que mais tempo reinou, partiu aos 96 anos, dando lugar ao primogénito, Carlos. Aos 73 anos, aquele que durante décadas carregou o título de príncipe de Gales, assumiu o trono, transferindo, um dia após a morte da mãe, o testemunho ao filho mais velho, William. Seguiram-se alterações na linha de sucessão à Coroa, a primeira grande mudança do legado do herdeiro, que foi o homem mais velho a subir ao trono inglês.

Como nenhum dos descendentes pode ser deixado de fora da linha de sucessão – mesmo que faça um pedido de autoexclusão -, os rostos que mantêm viva a linhagem não surpreenderam os britânicos quando a Casa Real apresentou o novo esquema de continuação.

Com a ascensão de Carlos a soberano, o príncipe William – um dos elementos mais populares da família – passou a ser o primeiro na linha de sucessão, seguido pelos três filhos, George, Charlotte e Louis, que ocupam a segunda, terceira e quarta posição, respetivamente. Em quinto, surge o príncipe Harry, que, apesar de ter abandonado as funções como elemento sénior da família real, não pode ser excluído, tal como os dois filhos, Archie, que aparece em sexto lugar, e Lilibet, em sétimo. O oitavo posto da linhagem corresponde ao príncipe André, irmão do rei, seguindo-se o nono lugar, que pertence à filha do duque de Iorque, a princesa Beatriz, que vê a única descendente, Sienna, assumir o décimo lugar da sucessão.

Isabel II morreu, segundo o Palácio de Buckingham, rodeada pelos filhos e netos
(Foto: Lesley Martin/AFP)

A linha que agora acompanha o reinado de Carlos III contempla as mudanças realizadas em 2013, altura em que foi aprovada pela rainha Isabel II a Lei da Sucessão da Coroa – alteração que extinguiu o sistema de primogenitura masculina, eliminando a prevalência histórica dos homens sobre as mulheres. “Profundamente conservadora, a rainha Isabel II vencera as tradições estabelecidas. Quando necessário é capaz de dar uma espanadela para desempoeirar a monarquia”, recorda Marc Roche, no livro “Isabel II – a biografia”, ao destacar o cunho deixado pela monarca, que, apesar de não ter tido efeitos retroativos, beneficiou a princesa Charlotte que, desta forma, não foi ultrapassada por Louis, o caçula dos Cambridge.

Família: uma das maiores agruras de Carlos III

Nos últimos meses, o rei tem vindo a enfrentar desafios pelos quais aguardou pacientemente ao longo de décadas a fio. Além da mudança nas rotinas, desde que assumiu o cargo, o herdeiro já teve de lidar com verdadeiras provas de fogo no seio da família. Num curto espaço de tempo, Carlos III viu no filho mais novo, Harry, e no irmão, André, focos de algumas das maiores preocupações – um fardo que também passou pelas mãos da progenitora, mas que se tem mostrado desgovernado desde o desaparecimento daquela que era vista como o pilar da monarquia.

A rebeldia do príncipe Harry sempre fez as delícias dos tabloides, mas no início de 2020, altura em que o filho de Carlos e Diana decidiu, juntamente com a esposa Meghan Markle, ir viver para os EUA, os holofotes concentraram-se ainda mais em si. A retirada – que ficou conhecida como “Megxit” – caiu que nem uma bomba na Coroa, contudo, Isabel II soube contornar a polémica.

(Foto: Oli Scarff/AFP)

Um ano depois, a monarquia voltava a ser abalada por uma entrevista concedida a Oprah Winfrey. Grávida da filha mais nova, Meghan revelou que teria sido vítima de bullying no núcleo da “firma” e que, ainda mais grave, sofrera racismo por parte de um membro da família.

A tensão entre o casal e os Windsor começou a tornar-se mais evidente, mas o cenário tem vindo a piorar desde que a rainha partiu. Ainda que no primeiro discurso enquanto rei, a 9 de setembro, Carlos III tenha assinalado o nome do filho mais novo e da nora – “Quero expressar o meu amor pelo Harry e pela Meghan”, realçou -, os Sussex têm-se mostrado empenhados em seguir o próprio caminho, mesmo que o trajeto implique assombrar a Casa Real.

Coincidentemente, dois meses após o falecimento de Isabel II, a 8 de dezembro de 2022, a Netflix estreou a série “Harry & Meghan” e, mais uma vez, as revelações geraram controvérsia nos corredores do palácio. “Foi assustador assistir ao meu irmão a gritar comigo, o meu pai a dizer mentiras e a minha avó ali sentada sem dizer nada e a processar tudo”, recordou Harry num dos episódios, ao revelar os bastidores da reunião familiar após o anúncio de que os Sussex se iriam afastar das funções reais. No mês seguinte, o verniz voltou a estalar.

Embora ainda seja curto, o reinado de Carlos III tem sido marcado por polémicas que envolvem Harry e Meghan Markle, bem como pelas desavenças com o irmão André
(Foto: Marco Bertotello/AFP)

“Aterrei sobre a tigela do cão, que rachou debaixo das minhas costas, os cacos a cortarem-me. Fiquei ali deitado por um momento, atordoado, e depois pus-me de pé e pedi-lhe que saísse.” A descrição, um excerto do livro “Spare” (“Na Sombra”, título em português), foi feita pelo próprio Harry, ao relembrar o culminar de uma alegada discussão com o irmão, William, em 2019, na qual o duque de Cambridge terá acusado Meghan de ser “perversa”. O episódio relatado na autobiografia, lançada a 10 de janeiro de 2023, fez emergir uma imagem oposta daquela que o príncipe de Gales transmite, e que, segundo fontes próximas da família, terá enfurecido Carlos III.

Dois meses depois – numa “retaliação”, segundo a Imprensa britânica -, o monarca retirou aos Sussex o usufruto de Frogmore Cottage, a residência do casal no Reino Unido, o que se terá seguido a “uma ordem de expulsão” notificada por Buckingham, noticiou o “The Sun”. O rei não propôs uma nova morada ao filho e à nora, o que significa que estes não terão uma habitação durante as visitas ao país. A última ocorreu no funeral da rainha. A próxima acontecerá no próximo dia 6, sábado, a propósito da coroação. Harry irá comparecer nos festejos em honra do pai, mas desta vez não se fará acompanhar por Meghan, que ficará nos EUA com as crianças. A ausência da ex-atriz espelha o desconforto crescente com os parentes do marido e não faz prever tréguas. É certo, ainda assim, que não é obrigatória a existência de um oceano a separar a família para que o afastamento entre partes seja notório.

(Foto: Andrew Milligan/POOL/AFP)

A relação entre Carlos III e o irmão André nunca foi das melhores. Porém, terá piorado depois do duque de Iorque ter sido acusado de estar envolvido no mesmo esquema sexual que levou Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell à prisão. O escândalo fez com que Isabel II afastasse o filho das funções reais, todavia, Carlos III pretende ir mais longe. Primeiro, o rei de Inglaterra informou o irmão que não havia lugar para ele no Palácio de Buckingham, como tal, os bens do duque de Iorque acabaram por ser retirados da residência oficial do monarca. Agora, o soberano quer que o príncipe saia de Royal Lodge, em Windsor, já que não está a desempenhar qualquer papel como membro sénior da Coroa. André terá recusado a proposta – o que está a preocupar a corte que rodeia Carlos III, levantando o receio de que o terceiro filho de Isabel II siga o exemplo do sobrinho, Harry, e lance uma biografia estrondosa.

A nova realidade dos pilares do soberano

Ainda que os laços de sangue possam ser um dos maiores desassossegos de Carlos III, é no cerne familiar que o monarca encontra suporte para cumprir a missão que o destino se encarregou de lhe atribuir. Camila, com quem está casado há 18 anos, tem sido responsável por acompanhar o marido e, aos olhos do herdeiro, tem sido “um apoio enorme”, confessou numa rara entrevista à CNN, em 2015.

Antes do matrimónio, em abril de 2005, um comunicado da Casa Real tomou uma posição clara: “Pretende-se que a Sra. Parker Bowles use o título SAR A Princesa Consorte quando o Príncipe de Gales subir ao trono”. Um evidente sinal de que Camila, em tempos desprezada pela opinião pública, não usaria o título de rainha. A postura discreta da eterna rival de Diana motivou, contudo, um revés. No ano passado, perto do Jubileu de Platina, Isabel II expressou o desejo de que a nora fosse aclamada rainha consorte quando chegasse o momento.

E assim foi. Nos últimos meses, Camila, de 75 anos, tem envergado o título e, junto do marido, assumido o leme em momentos de relevo. Foi em novembro passado que os reis ofereceram o primeiro banquete em Buckingham, ao receberem o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

A solo, Camila tem dado continuidade ao trabalho de caridade que já desempenhava enquanto duquesa da Cornualha. Pouco mais de dois meses após o falecimento da sogra, a rainha consorte tocou o coração dos britânicos quando decidiu entregar, a crianças que vivem num contexto de carência social, centenas de ursinhos Paddington que a população deixou às portas do Castelo de Windsor e do Palácio de Buckingham na altura das cerimónias fúnebres. Depois de higienizados, os peluches foram atribuídos a instituições e tinham uma mensagem especial assinada pela própria: “Por favor, cuida deste urso”.

Camila acompanha de perto instituições que ajudam vítimas de violência doméstica e participa ativamente em clubes de leitura para crianças. Na imagem, vê-se a rainha consorte a entregar ursinhos Paddington a famílias carenciadas
(Foto: Arthur Edwards/AFP)

Também William e Kate, que em diversas circunstâncias substituem a presença dos reis, sentiram, nos últimos meses, algumas diferenças. Até à morte da rainha, Carlos era o responsável pelos custos do filho mais velho e da família. Com o falecimento da monarca, contudo, William herdou o título de duque da Cornualha, que traz consigo uma propriedade que, em 2022, obteve um rendimento de 26,5 milhões de euros. O dinheiro vai diretamente para o bolso do príncipe de Gales e, apesar de o tornar financeiramente independente, reconhece-lhe um papel cada vez mais distinto.

Em dezembro passado, os Cambridge fizeram a primeira viagem fora do Reino Unido desde que a rainha partiu. Do outro lado do Atlântico, cumpriram uma agenda repleta em Boston, nos EUA, onde visitaram instituições de caridade. Kate – vista como um dos “balões de oxigénio” da instituição – tem vindo a assumir uma posição cada vez mais dominante, mas com a ascensão a princesa de Gales os deveres têm escalado. Além do trabalho que desenvolve na luta pela saúde mental, a plebeia que um dia será rainha tem-se dedicado como patrona do râguebi britânico – cargo anteriormente desempenhado pelo cunhado, Harry.

Estreia como “símbolo do Estado”

Tal como explica o historiador Vernon Bogdanor no livro “The monarchy and the Constitution”, publicado em 1995, “o monarca é o símbolo do Estado. Não tem de ter opinião”. O princípio de não ingerência em assuntos políticos é uma das pedras basilares que permite à Coroa sobreviver em momentos de agitação e esta é uma das máximas às quais as novas gerações não deverão fugir. Será Carlos, conhecido por ser um ambientalista convicto, capaz de manter o dever da imparcialidade?

O monarca teve o primeiro desafio como estadista em outubro de 2022, altura em que indigitou um primeiro-ministro para o cargo. Como manda a tradição, o rei convidou Rishi Sunak, eleito pelo Partido Conservador, a formar Governo, depois de, pouco mais de um mês antes, a mãe ter cumprido a última obrigação pública, ao designar Liz Truss como chefe do Executivo.

A primeira polémica, no entanto, ainda estaria por vir. Em fevereiro, o encontro de Carlos III com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, no dia em que foi fechado um acordo para encerrar as disputas comerciais que resultaram do pós-Brexit, despertou a fúria entre os eurocéticos. “Não consigo acreditar que o número 10 pediria ao rei para se envolver na finalização de um acordo tão controverso”, escreveu a ex-primeira-ministra da Irlanda do Norte Arlene Foster, no Twitter.

Carlos III recebeu, no final de fevereiro, Ursula von der Leyen no Palácio de Buckingham
(Foto: Aaron Chown/AFP)

Apesar das críticas oriundas de múltiplos quadrantes, o Palácio de Buckingham indicou que “o rei tem todo o prazer em encontrar-se com os líderes mundiais se eles visitarem o Reino Unido”. Já Bruxelas vincou que o encontro da líder europeia com Carlos III foi independente das negociações com Sunak, fechando a porta à proliferação de polémicas.

No final de março, Carlos III realizou a primeira viagem internacional enquanto soberano. O périplo europeu deveria ter início em França, mas o encontro com Emmanuel Macron teve de ser cancelado devido aos protestos em Paris. Lado a lado com Camila, o rei cumpriu a viagem inaugural em Berlim, na Alemanha, onde fez história, ao ser o primeiro monarca a discursar no Bundestag (Parlamento germânico).

Décadas depois da família real ser acusada de ter ligações nazis – com registos históricos a apontarem que Eduardo VIII, tio-avô do atual rei, terá apoiado os bombardeamentos do Exército de Hitler a Londres durante a Segunda Guerra Mundial -, Carlos III marcou o início de um novo capítulo nas relações com o Estado, manifestando o desejo de que as duas nações se mantenham unidas “em defesa da Ucrânia”.

Escravatura já não é um tema proibido

Após uma reportagem do jornal “The Guardian” ter relevado, no início de abril, um documento que dava conta de uma ligação histórica da família real com um comerciante de escravos transatlântico, o rei Carlos III apressou-se em mostrar abertura para participar numa investigação que irá examinar a participação da monarquia em teias de escravatura. Esta foi a primeira vez que a Casa Real britânica declarou publicamente que apoia a inquirição em causa, quebrando o tabu relacionado com o tema.

O diário britânico noticiou que um documento de arquivo descoberto pela historiadora Brooke Newman revela que, em 1689, o rei Guilherme III recebeu mil libras em ações da Royal African Company, corporação que estava envolvida no transporte de milhares de escravos de África para a América, o que veio extrapolar a questão da escravatura do Império Britânico, numa altura em que são cada vez mais recorrentes os apelos para reparações da monarquia.

Em fevereiro, o rei fez história ao discursar no Parlamento da Alemanha
(Foto: Ronny Hartmann/AFP)

No final de 2021, durante uma cerimónia em Barbados, que se tornou uma república há dois anos, o então príncipe de Gales fez, pela primeira vez, referência “à terrível atrocidade da escravidão”, aludindo ao facto de os colonos ingleses terem usado escravos africanos para transformar a ilha numa colónia próspera na exploração de açúcar. No Ruanda, no ano passado, o herdeiro ao trono voltou a ter a mesma abordagem. “Não consigo descrever a profundidade da minha tristeza pelo sofrimento de tantos”, assinalou. Mas agora, na pele de monarca, Carlos III prepara-se para deixar um marco.

“Esta é uma questão que Sua Majestade leva profundamente a sério”, pode ler-se numa declaração do Palácio de Buckingham, ao frisar que, “dada a complexidade das questões, é importante explorá-las o mais minuciosamente possível”. Ficou claro que a Casa Real quer apoiar o projeto que vai escrutinar quaisquer ligações entre a monarquia e a escravatura, permitindo o acesso à Coleção Real e ao Arquivo Real, o que resultará na realização de uma investigação que deverá estar concluída até 2026.

Amputação radical de despesas

De modo a tornar a família real autossuficiente, Carlos III tem posto em prática um plano para moderar os custos. O primeiro passo foi dado menos de uma semana depois da morte da rainha Isabel II. Com vista a colocar um ponto final nas ineficiências da instituição, o rei começou por travar o número excessivo de funcionários nas residências reais.

Dezenas de empregados da Clarence House, onde vivia com Camila, foram informados de que iriam ser despedidos, já que Carlos III e a rainha consorte viriam a mudar os escritórios para o Palácio de Buckingham. Quase cem trabalhadores receberam a notificação de demissão enquanto decorria a missa de ação de graças na Catedral de Santo Egídio, em Edimburgo.

William e Kate durante uma visita a Boston, nos EUA. Os príncipes de Gales são das figuras da realeza mais acarinhadas pelos britânicos e são vistos como o futuro da monarquia
(Foto: Jim Davis/AFP)

Nos últimos meses, porém, não foi só nos funcionários que o soberano quis amputar gastos. Carlos III apresentou um plano de cortes no seio da família, como foi o caso da manutenção dos membros trabalhadores da família real e o pedido para que os duques de Sussex desocupassem Frogmore Cottage.

Estas decisões, segundo o jornal “The Evening Standard”, são “apenas o começo dos planos” para reduzir e modernizar a monarquia, uma vez que o rei também pretende acabar com o aluguer subsidiado que a realeza paga em casas de luxo, assim como deseja que os membros da família controlem os gastos com roupas. As mudanças, de acordo com o mesmo jornal, vão intensificar-se depois da coroação.

Maior proximidade com os súbditos

Nos anos 1960, e com o intuito de “humanizar” a monarquia, o príncipe Filipe teve a ideia de mostrar aos súbditos como eram as rotinas dos Windsor. O marido da rainha abriu as portas do palácio para que, pela primeira vez, o povo percebesse que a realeza não era inacessível. O duque de Edimburgo chamou uma equipa da BBC aos aposentos reais e foi realizada uma reportagem, ao longo de 18 meses, sobre o quotidiano da família. A série, lançada em 1969, foi vista por mais de 37 milhões de britânicos. Abriu-se a Caixa de Pandora.

Viu-se a rainha a trabalhar, Carlos a preparar refeições e Filipe a mostrar-se um verdadeiro “rei do churrasco”. Mas, ao mesmo tempo em que aproximou a família real do povo, abriu uma brecha para uma invasão dos media, sobretudo, quando a princesa Diana passou a ser o alvo favorito dos tabloides. O jeito simples que caracterizava a princesa foi o grande catalisador da fomentação de uma imagem mais “normal” da monarquia. Os abraços, os beijos e as palavras reconfortantes acompanhavam a primeira esposa de Carlos em qualquer lugar, mas, apesar da popularidade da princesa, os outros membros da família – inclusive a rainha – sempre optaram por manter um certo distanciamento.

O cenário foi mudando com a frequente participação de William e Harry em eventos públicos, mas é agora que Carlos tem mostrado maior proximidade com os súbditos. A primeira grande interação do novo rei com o povo aconteceu apenas um dia após o falecimento da mãe. Junto aos portões do Palácio de Buckingham, o herdeiro cumprimentou calorosamente a multidão que o esperava, trocando gestos de carinho, que se foram replicando ao longo dos dias de luto. Uma das presentes surpreendeu o rei Carlos III com um beijo no rosto e o momento – que não escapou às lentes das câmaras – tornou-se viral nas redes sociais por mostrar um lado menos óbvio no soberano.

O sucessor de Isabel II cumprimenta a multidão de forma calorosa, numa tentativa de aproximação aos súbditos
(Foto: Yui Mok/AFP)

Espera-se que o elo de proximidade entre o monarca e o povo se adense ao longo do reinado. Na coroação, os trabalhadores do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, sigla em inglês) terão um lugar especial, como forma de reconhecimento do serviço público que prestam e pelo papel que desempenharam num dos momentos mais sombrios do século XXI: a pandemia.

Os funcionários, tal como antigos militares, avançou a “Sky News”, terão direito a um lugar especial numa bancada com 3800 assentos que foi montada em frente ao Palácio de Buckingham, com vista privilegiada para o aceno da família real a partir da varanda – algo que nunca aconteceu numa ocasião desta envergadura associada à família real inglesa.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. E a sobrevivência da instituição monárquica está cada vez mais dependente de momentos como os que vão acontecer no próximo sábado.