O objeto escolhido pela jornalista e escritora Isabel Stilwell.
“Não podia mesmo ser outro objeto. Uma caneta, claro. Embora um lápis também funcione e, à falta de melhor, até um lápis de maquilhagem, desde que permita registar por escrito uma ideia, antes que se esfume no ar. Na prática devia odiá-la, porque os meus primeiros ensaios na escola foram trágicos. Na altura aprendíamos a desenhar as letras com uma caneta de tinta permanente e entre o nervoso e a falta de jeito, esborratava tudo, e mais esborratado ficava quando lhes juntava as lágrimas de vergonha e frustração. A minha mãe pediu que me deixassem usar um lápis, mas quem é que gosta de segurar a diferença entre os dedos? Depois veio o obstáculo gigante da ortografia, e o pensamento que corria mais depressa do que a mão, mas nada disto conseguiu afastar-nos. A mim e às canetas, roídas, quase sempre. Escrevia em todo o lado, a toda a hora e se o diagnóstico de dislexia me fez sentir menos burra, não segui o conselho de que escolhesse uma profissão que não envolvesse canetas. Espreitem na minha mochila e vão encontrá-las, em estojos manchados de tinta, porque me esqueço sempre de lhes pôr a tampa.”
Jornalista e escritora
62 anos