Nuno Moniz, engenheiro e cientista curioso pelo Mundo

Nuno Moniz é professor de investigação nos Estados Unidos

Nuno Moniz é professor de investigação na Universidade de Notre Dame, nos EUA. A Inteligência Artificial é a sua matéria de estudo, concentrada em dois temas: transparência e regulamentação.

Cresceu no meio de computadores no Faial, Açores, entre tecnologia e aparelhos da empresa informática do pai. Pensou estudar História, Música, aprendeu a tocar clarinete, escolheu Engenharia Informática. Mudou-se para o continente, curso no Instituto Superior de Engenharia do Porto, depois professor e investigador na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, desenvolveu uma aplicação que coloca no telemóvel o que se discute no Parlamento, na casa da democracia, fez mestrado, doutoramento em Ciências de Computadores, pós-doutoramento. Até que a vontade de apostar numa carreira científica fora do país deu de si. “É extremamente difícil fazer ciência em Portugal, não propriamente por se ter ou não capacidade, mas porque o financiamento é muito curto”, repara.

Em agosto do ano passado, mudou-se para a Universidade de Notre Dame, norte do Indiana, Estados Unidos da América. Os primeiros meses foram passados a reunir e a conhecer colegas, a desenhar projetos, iniciativas, colaborações. “Aqui a ciência move-se a um ritmo um bocadinho diferente, tudo com muito propósito, não há aquela coisa de vamos ver como é que isto vai”, conta. Neste momento, é professor de investigação, dará uma cadeira de História de Inteligência Artificial no verão.

A Inteligência Artificial (IA) é o seu objeto de estudo. Está a trabalhar em dois projetos, mais três que começaram há pouco, colaborações com pessoas diferentes. Concentra-se em dois temas: a transparência e a regulamentação e políticas à volta da utilização e desenvolvimento da IA. “As capacidades que têm sido desenvolvidas na IA são ultraentusiasmantes, mas não estão, nem de perto nem de longe, nem sequer na direção ou com o potencial para representar algum tipo de problema (daqueles de Arnold Schwarzenegger que vem do futuro para o presente e vai estragar isto tudo – isso é uma fábula completa)”, refere. Essa narrativa, em sua opinião, desvia do que é hoje o impacto da IA em várias dimensões. “A falta de transparência e a sua aplicação em estruturas, incluindo de Estado, a automatização de decisões que depois as pessoas não conseguem perceber o que é que aconteceu.” Discriminação racial e de género, por exemplo.

Nuno Moniz mantém uma grande ligação a Portugal, tem alunos de doutoramento, e está a organizar o Encontro Português de Inteligência Artificial, ideia que surgiu ainda em Portugal, continuou nos EUA, e que terá lugar no Faial, sua ilha nos Açores, de 5 a 8 de setembro.

Há apenas oito meses nos Estados Unidos, voltar a Portugal para quê é a pergunta que fica sempre pendente. Não há data para voltar. “Se pusermos um limite de tempo, isso quer dizer que nunca vamos aproveitar as coisas”, explica. “Tenho oportunidade de fazer carreira aqui com condições que em Portugal são praticamente uma miragem.” Numa universidade, das mais ricas do país, que, realça, “aposta em ciência muito com a mentalidade virada para o impacto societal”. “É uma oportunidade de ouro de compensar muitas das coisas que eu gostava de ter feito, mas que em Portugal é muito difícil fazer.” Continua a descobrir a zona onde vive e trabalha em passeios pelas redondezas, em família, com a mulher e o filho de dois anos e meio.

Nuno Moniz
Localização:
Indiana, EUA 40º N 86º O (GMT -5)
Profissão: professor de investigação
Idade: 35 anos