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Mimicat: muito dona do seu nariz

Fotos: Ilustração: João Vasco Correia

Mimicat é a vencedora do Festival da Canção 2023

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Faz as coisas à maneira dela, sempre “muito focada, muito perfecionista, picuinhas, mesmo”. Tem dois filhos, um com quatro anos e outro com dez meses, gosta de tardes passadas em família e do arroz de pato da mãe.

Em 21 de junho de 2015, a “Folha de São Paulo” anunciava em título o êxito de uma portuguesa: “Mimicat conquista o público no Parque Ibirapuera”. Era a estreia da cantora nos palcos do Brasil e num dos maiores eventos de São Paulo, a Virada Cultural. Ao longo da mini tourné chamaram-lhe “Amy Winehouse do Tejo”, escreveu-se que fazia lembrar “Shirley Bassey e Adele”. A “Vogue Brasil” sublinhou a “sonoridade com perfume vintage”, a aposta num visual retro, condizente, adiantando a razão do nome artístico: Mimi, por ser o apelido que as crianças da família dão às madrinhas; Cat, em representação da personalidade de Marisa Isabel Lopes Mena, a mulher por detrás do alter ego.

2015 foi cheio, com participação na Festa do Avante, Sol da Caparica, EDP Cool jazz, Meo Marés Vivas e Culturgest, cantando “For you”, álbum de estreia editado pela Sony Music no ano anterior (uma das faixa fez parte da banda sonora da novela “Jardins proibidos”). Em 2016, dois singles, num registo pop, fariam parte do segundo álbum, “Back in Town”. Estava, portanto, lançada. Em 2017, inicia um caminho independente, ganha estatuto de desconhecida. Seis anos depois, vencedora do Festival da Canção, pergunta-se: quem é Mamicat? Marisa responde, no discurso de vitória. “Sou uma underdog. Venho de um registo em que não há público. Ninguém sabia quem era, e quando apresentei esta canção foi por todos nós. Por todos os underdogs que andam por aí a cantar para terem uma oportunidade, há séculos, e não conseguem.”

Catarina Monteiro, da agência Bartrender, é testemunha de muitos desses percursos. “Enquanto esteve na Sony era muito conhecida. Como independente, as coisas mudaram. Foi uma luta muito grande. Por isso, aquelas palavras, no final, são muito diretas e sinceras.” Pedro Tatanka, vencedor do festival em 20221, é amigo antigo. “Supertalentosa, com muito caráter, o que é muito importante. Ela vai pelo caminho que quer, é muito dona do seu nariz.” Diz-se “muito orgulhoso e feliz por ver que o trabalho compensa, depois de tantos anos de luta”. Na Eurovisão, acredita, “vão seguramente reparar no talento dela, na grande performance vocal, na imensa energia”. Na perseverança. “Ela vem da livre submissão, caiu no meio de 600 canções, com colossos bem instalados na música, com muito público. Se não acreditasse não teria conseguido”. Faz as cosias à maneira dela, sempre, diz quem a conhece bem. “É muito focada, muito perfecionista, picuinhas, mesmo”, vinca Catarina Monteiro. A agente releva “a jovialidade, a exuberância, a criatividade”. Camaleónica, “a cabeça dela está sempre em movimento”.

Gravou o primeiro disco aos nove anos. Passou a adolescência entre a escola e estúdios de gravação. Participou, com apenas 15 anos, no Festival RTP da Canção 2001. Foi vocalista e autora da maioria das letras dos “The Casino Royal”, banda de Pedro Janela, compositor e produtor de Coimbra, e em 2009 licenciou-se em Som e Imagem pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha.

Tornou-se conhecida em 2014, na editora Sony Music. Tem dois filhos, um com quatro anos e outro com dez meses, casada com “o seu oposto, um homem discreto e muito calmo”, gosta de tardes passadas em família e do arroz de pato da mãe.

Passou por fases em que pensou desistir da música. Foi sem grandes expectativas que se fez convidada do Festival da Canção deste ano. Em vésperas da primeira semifinal ficou sem voz. Cinco dias nas mãos da vocal coach e de uma enfermeira. “Na primeira semifinal ficamos boquiabertos, cantou muito bem. A partir daí tranquilos”, assinala Catarina Monteiro.

Pensava dar “Aí coração”, escrita há dez anos e em cinco minutos, a Ana Bacalhau. Decidiu submetê-la a concurso sem esperança. De tal maneira que se esqueceu de que havia enviado a canção. Mimicat com “Ai coração” representará a RTP, em Liverpool, a 9 de maio.

Marisa Isabel Lopes Mena (Mimicat)
Vencedora do Festival da Canção 2023
Nascimento: 25/10/1985 (37 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Coimbra)