Mel, o doce natural que é controverso

Para ser integrado na alimentação em quantidades moderadas, o mel "deverá ser preferencialmente ingerido ao início do dia

A ingestão de mel acontece há mais de cinco mil anos. Com características benéficas, é também uma fonte de açúcar com a qual se deve ter cuidado. Com moderação, pode ser um substituto a ter em conta para certas iguarias.

Quem é que adoentado, de cama e com dores de garganta, não ouviu que uma chávena de leite com mel era a solução? Ou que uma colher de mel resolvia a gripe em três tempos? Com registos de que é incorporado na alimentação humana há mais de cinco mil anos, o mel é um alimento natural que tem visto as suas propriedades nutritivas benéficas à saúde partilhadas de geração em geração. É certo que tem características positivas, mas há também cuidados a ter, já que se trata de um açúcar simples.

Mas vamos por partes. Há algum fundamento nos conselhos de consumir mel quando estamos doentes? Lillian Barros, nutricionista, adianta que o “mel tem potencial terapêutico devido às propriedades fitoquímicas, anti-inflamatórias, antimicrobianas e antioxidantes, particularmente por causa de duas principais moléculas bioativas – os flavonoides e os polifenóis, que atuam como antioxidantes”. Assim, “a evidência científica sugere o uso do mel no controlo e tratamento de feridas, cancro, asma, doenças cardiovasculares, doenças neurológicas e doenças gastrointestinais”. Mas, ainda que esteja comprovado que há benefícios a retirar da sua ingestão, sabe-se também que a nossa saúde pode sair prejudicada.

“O mel é fonte de açúcares simples, os quais, em excesso, têm impactos muito negativos na saúde”, salienta Lillian Barros. A também fundadora da plataforma Nutricionistas Online explica que “para se obterem os benefícios do mel é necessário ingerir uma quantidade elevada, e simultaneamente seria ingerida uma quantidade elevada de açúcar, o que é contraproducente” para a saúde. Ou seja, para retirarmos do mel aquilo que nos pode fazer bem, estaremos a prejudicar outros aspetos. Assim, classifica Lillian Barros, “o mel acaba por ser um produto algo controverso”.

Vários tipos

Laranjeira, multifloral, acácia, rosmaninho, entre tantos outros. Existem diversos tipos de mel, classificados consoante a flor característica da zona onde as abelhas polinizaram. A época do ano e o ambiente em que foi produzido também pode ter impacto na sua qualidade. Mas ainda que as as características sensoriais sejam únicas de mel para mel, como o cheiro ou o sabor, as propriedades nutritivas são semelhantes entre os vários tipos.

É certo que este alimento, por ser natural, constituiu uma melhor opção face a outros açúcares, como o refinado ou os adicionados, “mas ainda assim não deixa de ser um açúcar, pelo que pode perfeitamente ser dispensado de uma alimentação saudável ou fazer parte dela em doses moderadas”, aconselha a nutricionista.

E que quantidades são estas às quais devemos estar atentos? Uma colher de sopa de mel, equivalente a cerca de 25 gramas, “contém sensivelmente 79 calorias, 20 g de hidratos de carbono, dos quais todos eles são açúcares, alguns micronutrientes em pequenas quantidades, tais como as vitaminas B2, B3 e B6, e os minerais potássio, fósforo e magnésio”. Esta composição confere-lhe um valor nutricional que o diferencia do açúcar.

Dosear o consumo

No entanto, a maioria dos benefícios para a saúde resultantes da ingestão do mel, afirma Lillian Barros, “verificam-se apenas mediante a ingestão de cerca de 50 g/dia, algo que, pela quantidade calórica associada, não será razoável”. “E qualquer valor acima dos 50 g poderá contribuir para o surgimento de doenças metabólicas, como a obesidade e a diabetes.”

20, uma vez que estamos mais ativos, e em conjunto com alimentos que sejam fonte de proteína, de forma a prevenir picos de insulina e a fazer parte de uma refeição saciante”. Desta forma estaremos a evitar tanto o consumo excessivo deste alimento, como a permanência em excesso no corpo dos açúcares.

Se não houver outras fontes de açúcar adicionadas na alimentação, “existe margem para introduzir este alimento”, esclarece a nutricionista. O conselho de Lillian Barros é adoçar receitas com mel em vez de utilizar açúcar simples, “mas sempre numa dose muito moderada”.