Luís Rodrigues: o bombeiro

Luís Rodrigues é o novo presidente da TAP

Quem conhece Luís Rodrigues garante que se aceita agora regressar à TAP é porque sabe que pode alcançar objetivos. “Este é mesmo ‘o’ desafio”, dizem amigos.

É raro encontrar um administrador executivo que agrade a acionistas e a sindicatos. Que mereça a confiança do patrão e elogios aos trabalhadores. Um CEO que assine despedimentos e corte salários e ainda assim veja a recondução no cargo aplaudida, e pedida com empenho, por todos os intervenientes no processo de recuperação de uma empresa. Luís Rodrigues entrou na SATA em janeiro de 2020, incumbido de travar o descalabro da transportadora aérea açoriana, agravada nos anos de pandemia. E cumprir um plano de reestruturação, como quase sempre acontece, nada pacífico. Hoje, acabado de ser nomeado chairman e CEO da TAP, perante um quadro crónico não menos turbulento, com uma privatização às portas e precária paz social, a escolha do Governo é lamentada por açorianos e aplaudida pela transportadora.

Espera o gestor um desafio maior. “Este é mesmo ‘o’ desafio”, dizem amigos. “A minha motivação é ajudar pessoas a atingirem e a superarem objetivos. Ao longo de 15 anos, liderei a implementação de políticas e garanti boas práticas de governança. Tenho fortes credenciais em projetos de transformação/recuperação ou que exijam crescimento rápido por meio da elaboração e implementação de uma estratégia eficaz para atingir os objetivos de negócios definidos. Construo associações sólidas e desenvolvo consenso em vários níveis organizacionais”, garante na página pessoal no LinkedIn, revelando a paixão por “aprender/escutar” e capacidade de “liderar e formar equipas altamente competentes”.

Com Advanced Management Program (AMP) pela Harvard Business School e formação em Economia e Gestão pela Nova SBE, Luís Rodrigues não é novo na TAP. Chegou pela primeira vez, em 2009, como administrador financeiro, tutelava o Ministério das Finanças Teixeira dos Santos. Durante meia década, cultivou a imagem low profile, “se calhar até em demasia”, manifestou reconhecida “visão estratégica”, capacidade de atender a interesses conflituantes. Porém, ainda que avesso ao confronto, se levado ao extremo, não hesita e rompe. Foi assim em dezembro de 2014, abandonando a companhia por divergências com o CEO Fernando Pinto. O mesmo fizera anos antes, saindo da Media Capital, proprietária da TVI. Convidado em 1999 para diretor de marketing – mais uma vez num cenário difícil, com a estação de Queluz muito longe de conseguir aproximar-se de audiências rivais, Luís Rodrigues, que não prescindiu de exercer as funções na plenitude, rompeu. “Como diretor de marketing não se lhe pedia campanhas publicitárias. O papel era mais abrangente, com direito a uma palavra em todas as escolhas de programação. Ora, ao não abdicar desse papel, entrou em conflito com José Eduardo Moniz, coisa que não o surpreendeu”, conta quem assistiu ao processo. “Ele ajudou muito à recuperação da estação. Esteve por exemplo na primeira linha de defesa do ‘Big Brother’. Foi um dos defensores do programa.” Bom a ouvir “é reservado, calado sem esconder o que pensa, e competente ”, diz quem com ele trabalhou na TVI. O gestor é também professor. Após deixar a TAP, liderou a formação de executivos da Nova School of Business and Economics. E de novo um projeto marcado por dificuldades inerentes à crise económica dos anos anteriores, desafio que terá ultrapassado com “excelentes resultados”.

Nascido em Lisboa, em 1965, Luís Rodrigues “é uma espécie de bombeiro de serviço”. Quem o conhece assegura que, se aceita agora regressar à TAP, é porque sabe que pode atingir os objetivos. Nada fáceis, foram anunciados por João Galamba, na conferência de imprensa de apresentação das conclusões do relatório da Inspeção-Geral de Finanças sobre a indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis.

O ministro das Infraestruturas pediu ao novo CEO que “conclua com sucesso o plano de restruturação”, que “devolva confiança e paz social” à companhia de bandeira nacional. Os sindicatos dizem-se “esperançados”. Que a escolha é “acertada”. Nada pouco para início de conversa, atendendo ao que pensavam da antecessora, a francesa Christine Ourmières-Widener, demitida do cargo pelo Governo.

Luís Manuel da Silva Rodrigues
Cargo:
presidente da TAP
Idade: 57 anos
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)