Lola Xavier e a paixão pela Literatura e pela Língua

Lola Xavier é professora de Literatura

Lola Xavier é professora universitária em Macau, dinamiza atividades que colocam alunos em contacto com a riqueza e diversidade do Português. Uma forma de dialogar com outras culturas.

Era boa aluna a todas as disciplinas, a Literatura surgiu por exclusão de partes, inicialmente como expressão, depois como estudo aprofundado que lhe tem enchido os dias, os anos, a vida. “Havia ali uma perceção aliada a um gosto”, confessa. Um gosto que deu de si. O percurso reflete essa entrega. Curso de Línguas e Literaturas Modernas, pós-graduação em Literaturas e Culturas Africanas e da Diáspora, mestrado em Literatura, doutoramento e pós-doutoramento na mesma área. Lola Xavier, de Coimbra, é professora de Literatura na Universidade Politécnica de Macau.

No tempo de estudante, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, fundou um jornal com uma amiga, escrevia poesia e contos, recensões críticas, entrevistas, roteiros por Coimbra. A escrita andava ali. Depois, abriu a porta do ensino, professora de Língua Portuguesa em liceus da cidade dos estudantes e na Escola Superior de Educação de Coimbra, onde deu aulas em licenciaturas e mestrados, foi diretora do curso de Educação Básica.

Num outro país, num outro continente, a mesma paixão. “As literaturas em Língua Portuguesa, que tenho tido o privilégio de lecionar a estudantes chineses de licenciatura e doutoramento, permitem-me usar o Português como meio que dá acesso a outros mundos tão diferentes dos asiáticos, abrindo os horizontes para a reflexão, questionamento e formação humanista, hoje fora de moda, mas tão necessária”, refere. A língua como meio de recriar e aceder a outros mundos, linguísticos e culturais. “Há uma língua com a suas variedades que nos permite comunicar em Macau, em Moçambique, no Brasil, etc., e em cada ponto do Globo que é atualizada veicula uma história e uma cultura diferente. É nessa diversidade que está a sua riqueza”, sublinha.

Neste momento, coordena o doutoramento em Português na universidade de Macau. Coordenar tem sido um karma que não a larga. “A vantagem é que me tem permitido organizar e dinamizar atividades que coloquem os estudantes em contacto com riqueza da língua e das culturas em português, o que transporta a língua para além da sala de aula, tão mais importante se estivermos a trabalhar em contextos que não são de imersão linguístico-cultural”, conta.

Pelo caminho, encontros felizes, vários mestres, o professor e escritor Pires Laranjeira, o professor e especialista em teatro Oliveira Barata, o poeta João Camilo, o convite para fazer o mestrado nos Estados Unidos, a recusa e a sensação de ter perdido a oportunidade para ver como era a vida lá fora. A vontade ficou e veio ao de cima. “Já tinha feito 40 anos, sentia que estava a ganhar raízes em Coimbra como uma árvore que já tem a sua própria terra, uma imagem que me começou a desagradar”, recorda. Até à vaga num concurso internacional para o Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do então Instituto Politécnico de Macau, há oito anos. Entrou, ficou.

Os dias são desafiantes. “Acordamos com uma ideia, ao meio-dia temos outra, ao fim do dia já é outra.” Reflexões constantes e um currículo com cerca de uma centena de publicações, entre artigos em revistas e livros. Anda sempre a pé na cidade do Oriente, gosta de ali viver. E à pergunta se pensa voltar, a mesma resposta. “Não sei responder a essa questão.”

Lola Xavier
Localização: Macau 22º 10’ N 113º 33’ E (GMT+8)
Cargo: Professora de Literatura
Idade: 49 anos