João Galamba: o ministro sem rede

João Galamba é ministro das Infraestruturas

Trabalhador, muito criativo a encontrar soluções, de ação. E também muito impulsivo, traço forte do novo ministro das Infraestruturas. Por isso, o truculento utilizador do Twitter vai abandonar as redes sociais.

Perante o convite do primeiro-ministro, não hesitou. O Ministério das Infraestruturas é um desafio à medida dele, repto tecnicamente exigente. Tal como a secretaria de Estado da Energia, onde chegou pouco conhecedor da matéria e saiu reconhecido pelo setor: “Criativo nas soluções, capacidade de olhar e de estruturar o futuro, sabendo lidar com as crises do presente”. O ceticismo inicial foi caindo, mesmo nos mais insuspeitos: “Primeiro, estranha-se, é verdade, mas depois começa a entranhar”.

Também em 2009, aceitou sem pestanejar o convite de José Sócrates. Para participar no fórum Novas Fronteiras, e, logo depois, integrar as listas do PS às legislativas daquele ano. Com o estatuto de independente, mas atributos que não escaparam ao radar do então primeiro-ministro, de quem foi próximo (proximidade que redundou em “grande desilusão”, afirmaria), e o destacaram nos primeiros dez anos do século, era de ouro dos blogues políticos: retórica agressiva, apetência para a provocação, arcaboiço intelectual, resistência argumentativa, discurso a rondar a insolência. “O abominável Galamba”, na definição de Vasco Pulido Valente, apresentava “um estilo de debate mistura de academia platónica com uma qualquer tasca de um bairro popular”, lê-se em “A blogosfera portuguesa – da coluna infame ao ocaso de uma era”, de Sérgio Barreto Costa.

“Produto blogosférico” assumido – nunca negou que o convite de Sócrates se deveu à presença nas redes -, rejeitou as acusações de oportunismo tático para obtenção de ganhos políticos. Tanto mais que não foi pacífico o primeiro encontro num jantar de bloggers, em novembro de 2008, um mês após o PS ter votado, na AR, contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo – o assunto provocou entre os dois homens discussão acesa que ainda hoje é recordada pelos presentes.

Em entrevistas, tem-se afirmado nada ambicioso. Sem estratégia para o futuro. Porém, no momento em que Sócrates perdeu as eleições de 2011, filiou-se no partido. Nos anos seguintes, com Pedro Nuno Santos entre outros, travou na blogosfera um combate contra o neoliberalismo e a TINA (there is no alternative), afirmando-se um nome a ter em conta pelo PS numa era pós-troika. Da ala esquerda socialista, amigo e aliado de Pedro Nuno Santos nas guerras internas do partido. “Com esta nomeação, António Costa quis evitar a oposição interna, bastante mais temível do que a externa, e moderar assim Pedro Nuno Santos. Mas também sabe que Galamba é muito competente e muito trabalhador, estudioso obsessivo dos dossiês, capaz de fazer um bom papel”, diz um amigo antigo. “Ele gosta de fazer, de concretizar. E, apesar do berbicacho insolúvel que é a TAP, vai ter dinheiro para isso.”

João Galamba nasceu numa família de esquerda, classe média-alta. Filho de um resistente antifascista viveu esse caldo cultural desde a infância, marcada, tal como a adolescência, pelo desafogo financeiro. E pelo interesse nulo na intervenção política. Com Cavaco Silva no poder, João Galamba, ao contrário da maioria dos que agora acompanha, passou ao largo das juventudes partidárias e das associações estudantis.

Era o tempo do bodyboard na Figueira da Foz e das viagens pelo Mundo, prazeres que não abandonaria. E de ouvir Pacheco Pereira, figura que o marcou na juventude – este, sim, hábito abandonado -, a ponto de seguir religiosamente os programas em que o professor e então político participava.

Aluno brilhante, escolheu económicas sem grande ponderação, em grande parte apenas porque gostava de matemática. Iniciou o doutoramento – que não terminaria – na London School of Economics, caminho inevitável para um aluno com média de 17. De regresso a Portugal, foi para o Banco Santander de Negócios, e para a Cluster Consulting, consultora da área das novas tecnologias. Sabia, porém, que não estava aí o futuro. Chegava a vez da política. Às funções de deputado seguiram-se, desde 2018, as de secretário de Estado da Energia, cargo que lhe valeu louros. E dissabores: no âmbito do projeto do hidrogénio verde em Sines, o Ministério Público colocou-o sob suspeita por “indício de crime económico-financeiro”. A resposta, uma queixa-crime contra “a denúncia caluniosa”, foi imediata.

“Não leva desaforo para casa, ferve em pouca água”, diz um amigo, para quem a impulsividade é “um defeito, mas também uma virtude do João”.

Aos que o acusam de arrogância e de intolerância, amigos lembram que é casado com uma mulher de direita, união de um ateu não batizado com uma católica que mereceu a celebração mista.

A impulsividade é indesmentível. Por isso mesmo, a decisão está tomada, garante amigo próximo. “A partir da tomada de posse, intervenções nas redes só as oficiais, e filtradas pelo gabinete de imprensa.” João Galamba vai deixar o Twitter. A ver.

João Saldanha de Azevedo Galamba
Cargo:
ministro das Infraestruturas
Nascimento: 04/08/1976 (46 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)