Inês Machado, a cientista premiada que investiga o cancro

Inês Machado é investigadora científica na Universidade de Cambridge

Inês Machado está em Cambridge à volta de algoritmos, técnicas de Inteligência Artificial e imagens médicas para o diagnóstico precoce de doenças oncológicas.

Chegou no verão passado à Universidade de Cambridge, Reino Unido, depois do curso de Engenharia Biomédica em Portugal, doutoramento nos Estados Unidos, passagem pela Universidade da Irlanda e pelo King’s College em Londres, em projetos relacionados com novas tecnologias aplicadas à medicina, e algumas distinções pelo caminho. Inês Machado, engenheira biomédica, investiga o cancro, novas técnicas baseadas na Inteligência Artificial (IA) com recurso a imagens médicas. Testa modelos para diagnosticar o cancro o mais precocemente possível. “As vantagens são óbvias. Não só resultam numa taxa de sobrevivência mais elevada, como ajudam a minimizar os efeitos secundários do tratamento”, refere.

O cancro do ovário e o cancro do rim são as suas matérias de estudo. “Sabemos que, no caso do cancro do ovário, cerca de 60% das mulheres não respondem à quimioterapia, tomam medicação durante meses e o tumor continua a crescer.” Seria um avanço saber, de antemão, em que pacientes o tratamento funciona para tomar decisões. Por outro lado, o cancro do rim é detetado muito tarde. Inês trabalha em técnicas de ressonância magnética sem injeção de contraste para um rastreio barato e que faça sentido. Adapta algoritmos para classificar tumores em imagem médica. “Estes novos algoritmos conseguem olhar para a imagem e explicar, por exemplo, se estamos na presença de um tumor e de que tipo, salientando partes da imagem que suportam a sua decisão”, adianta. Algoritmos sofisticados que veem para lá do olho humano. Orienta alunos de doutoramento e mestrado e faz parte de uma comissão que está a criar, de raiz, um mestrado integrado na área da IA.

Desde o liceu que sabia que queria seguir ciências. No mestrado, na Fundação Champalimaud, desenvolveu um novo software que permite um diagnóstico mais objetivo de patologias, como o Alzheimer e o Parkinson, que se instala nos smartphones e faz a leitura dos movimentos no dia a dia. “Líamos esses dados e conseguíamos providenciar um diagnóstico mais objetivo.” Depois concorreu a uma das dez bolsas de doutoramento do MIT Portugal, passou cinco anos em Boston, no MIT e no Harvard Medical School. Passava as manhãs no bloco operatório do hospital, com médicos, a assistir a cirurgias para remoção de tumores no cérebro. À tarde, estava no MIT, com engenheiros, a desenvolver novas tecnologias. “Os tumores cerebrais estão localizados junto a áreas muito importantes do nosso cérebro e estas cirurgias são muito complexas, o médico tem de aspirar o tumor e evitar tocar nessas zonas.” No MIT, dedicou-se a arranjar forma de saber em tempo real, com a máxima precisão, onde está o tumor durante a cirurgia. A sua tese de doutoramento ficou em primeiro lugar no Fraunhofer Portugal Challenge 2020, que premeia soluções tecnológicas com impacto positivo na vida das pessoas.

O pai é professor de História, a mãe de Filosofia. Quando se encontram nas férias, conta, “discutem a história da ciência, os desafios da IA ou as possibilidades e os riscos que se abrem com os avanços da engenharia genética”. No ano passado, recebeu a medalha de mérito municipal de Gouveia, sua terra natal. Não troca Portugal por nada, mas enquanto achar que está a aprender continuará onde está. Gosta de viajar e desde miúda que toca saxofone alto. “Aprender música foi aprender uma segunda língua”, garante a cientista.

Inês Machado
Localização:
Cambridge, Reino Unido 52º 12’ 18.9936’’ N 0º 7’ 9.0012’’ E (GMT + 0)
Cargo: investigadora científica na Universidade de Cambridge
Idade: 32 anos