O ar condicionado ou as ventoinhas são a resposta fácil. Mas há outras estratégias - mais amigas do ambiente e que evitam que a conta da luz dispare - para sobrevivermos ao calor que vem aí. Nesta matéria até a decoração conta.
No verão, a temperatura ideal em casa deve rondar os 24 graus. Contudo, conseguir manter o lar fresco nos dias quentes nem sempre é tarefa fácil. É sabido que o conforto térmico não é o ponto forte da habitação em Portugal e o custo dos ares condicionados – além do peso que têm na fatura da luz – é um travão para contrariar isso. Aliás, segundo o INE, de toda a energia que os portugueses gastam nas habitações, só 0,5% é destinada ao arrefecimento. Mas há estratégias, e muitas até só passam pela decoração, para ajudar a manter a casa fresca na época que vem aí.
A lengalenga é antiga, e por isso não é novidade. “Nas horas em que a casa apanha sol direto, é importante baixar o estore ou fechar o cortinado para evitar que o calor entre. E uma coisa que se faz erradamente é abrir as janelas a achar que se vai refrescar a casa, mentira. A janela deve estar fechada nessa fase do dia.” Só quando a temperatura lá fora reduzir, sobretudo ao fim do dia, é que devemos abrir para gerar alguma ventilação – se o cortinado for de linho, que filtra o calor e deixa passar a luz e a brisa, melhor ainda. Esta é a regra número um, segundo Nuno Matos Cabral, designer de interiores e produto, com um trabalho muito focado na sustentabilidade, para manter o ambiente fresco dentro de casa.
Claro que para ajudar ainda mais a refrescar, e simplificando, as ventoinhas de teto ou aquelas que projetam água, ventoinhas nebulizadoras, são uma solução. Mas, se a ideia é evitar investir em equipamentos e fugir a uma fatura da luz a engordar, há outras medidas.
Algumas delas são tão simples como não usar o forno e as máquinas, desde a de lavar louça à de lavar roupa, durante o dia – a regra é usar só à noite, porque emitem calor. E há truques menos óbvios, a começar pelos materiais que temos em casa. “Se temos um sofá de pele, devemos usar um algodão, um linho, uma fibra natural, para o cobrir. Até porque, no verão, por norma andamos de calções ou saias e, em contacto com a pele do sofá, com a transpiração, acaba por aquecer”, aponta o designer. Na mesma lógica, se temos tapetes de lã ou de pelo alto “é inteligente retirá-los, assim o chão da casa não aquece tanto e é mais agradável em contacto com os pés”. Ou, em alternativa, e havendo essa hipótese, trocar por “um tapete em fibra de coco, que além de ser natural é mais fresco para pisar”. E não, não é só pela questão do calor, cobrir o sofá ou mudar os tapetes também é importante visualmente. “Imaginemos, no verão, entrar num lugar decorado com linhos ou num lugar decorado com veludos encarnados. Não é só o tato, se o ambiente for visualmente fresco ajuda a que nos sintamos também mais frescos.”
Nisso, a cor das paredes também tem o seu peso. As mais escuras transmitem um ambiente mais quente, as mais claras trazem um ambiente mais fresco e mais iluminação natural. “Tem a ver com os sentidos, o cérebro recebe uma mensagem diferente. Termos uma sala castanha escura ou uma sala em azuis-claros é completamente diferente. A cor faz diferença.” E a diferença não é apenas visual, a verdade é que a cor das paredes também influencia a temperatura no interior. É só aplicar o mesmo princípio da roupa que usamos. Cores escuras ou fortes absorvem mais luz e geram mais calor. Cores claras absorvem menos luz e tornam a casa mais fresca.
Plantas, muitas plantas
Certo é que as projeções apontam para um verão alargado e quente. Nos últimos anos, as temperaturas altas têm batido recordes e a tendência deverá manter-se. Voltemos, pois, às estratégias para aguentar as vagas de calor dentro de portas. As plantas naturais não são uma resposta imediata quando pensamos em refrescar a casa, mas ajudam, e muito. Quem mora em moradias pode e deve apostar em plantas, árvores ou arbustos no exterior, e em zonas estratégicas, para criar sombras naturais. Porém, elas também são úteis no interior, para quem mora em apartamento. O segredo é abusar, distribuí-las por todo o lado. “As plantas são algo muito presente nos inúmeros projetos que faço de interiores, sobretudo se houver um janelão sem persiana. Não só funcionam como um filtro, como ajudam a melhorar a qualidade do ar e a criar um ambiente mais húmido em casa”, refere Nuno Matos Cabral.
Mais, há que ter atenção às luzes: não ter muitas ligadas e optar por lâmpadas LED, que além de gastarem menos energia, não emitem calor. E aos ambientadores. “Os perfumes para a casa têm influência. No verão não nos apetece ter um cheiro a canela e chocolate em casa. Podemos apostar em cheiros mais cítricos, a limão, laranja, flor de laranjeira.”
Na hora de manter a casa fresca, tudo conta, até os sentidos, desde a visão, ao olfato e ao tato. E fazê-lo de forma mais natural – em vez de recorrermos ao ar condicionado -, retirando tapetes, usando plantas, fechando a persiana nos picos de calor ou cobrindo um sofá de pele com uma manta de algodão, não só é mais sustentável, como é mais barato.
DICAS
● Baixar o estore ou fechar o cortinado nas horas em que a casa apanha sol direto
● Usar ventoinhas de teto ou ventoinhas nebulizadoras (que projetam partículas de água)
● Não usar forno e máquinas de lavar roupa e louça durante o dia
● Cobrir sofás de pele com um algodão
● Retirar os tapetes de pelo alto ou de lã
● Apostar em paredes claras
● Abusar das plantas naturais em casa
● Optar por lâmpadas LED