Gravidez, contraceção hormonal e antibióticos

O "Consultório Médico" desta semana, por Dinis Brito.

É verdade que os antibióticos cortam o efeito da pílula?
Ana Pereira, pergunta recebida por email

A contraceção é uma medida fundamental de planeamento familiar. Muitas mulheres em todo o Mundo utilizam a contraceção hormonal para planear as gravidezes. A contraceção hormonal pode ser efetuada através de comprimidos (pílula), sistemas transdérmicos (selos), implante subcutâneo, sistema intrauterino (aparelho), anel vaginal ou injeção. Estes métodos foram sempre alvo de muita cautela, por parte das utilizadoras e dos profissionais de saúde, no que concerne às eventuais interações medicamentosas que pudessem comprometer a sua eficácia.

Esta preocupação é mais frequentemente sentida com a utilização de antibióticos. De fato, alguns antibióticos podem interferir com a metabolização, ao nível do fígado, de outras substâncias, podendo teoricamente comprometer o efeito contracetivo. Isto é particularmente verdade para antibióticos da família da rifampicina (antibiótico com utilização restrita a casos muito específicos tais como o tratamento da tuberculose), mas não se verifica com outras classes. Sabe-se que esta crença é sustentada por relatos, de mulheres e profissionais de saúde, devido a casos de gravidez não programada que são severamente limitados pela memória dos intervenientes, podendo levar a recomendações enviesadas.

É prática comum recomendarem-se medidas contracetivas adicionais para as mulheres que necessitam de tratamento antibiótico. Tais recomendações podem resultar na interrupção inadequada da contraceção hormonal ou do antibiótico, aumentando o risco de falha do tratamento com qualquer um dos medicamentos.

Salvaguardando a questão da rifampicina (e similares), a maioria da literatura científica não recomenda nenhuma restrição para o uso de qualquer método de contracepção hormonal com antibióticos. Efetivamente, a evidência existente não corrobora uma relação entre o uso concomitante de antibióticos e a quebra de eficácia da contraceção hormonal havendo, contudo, dados limitados para algumas classes de antibióticos.

Em suma, na maioria das situações não se verifica nenhuma redução no efeito dos contracetivos com a toma de antibiótico (atenção à rifampicina) pelo que não deverá interromper o seu método contracetivo salvo indicação médica em contrário.

Até breve.


*A NM tem um espaço para questões dos leitores nas áreas de Direito, Jardinagem, Saúde, Sustentabilidade e Finanças Pessoais. As perguntas para o Consultório devem ser enviadas para o email [email protected].