Gonçalo Lobo Xavier: o príncipe voluntarista

Gonçalo Lobo Xavier é diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição

Conciliador, negociador, diplomata, divertido, alguém que não se leva demasiado a sério. Chamado a explicar os preços dos produtos alimentares, empenha a palavra - “Não há especulação no retalho agroalimentar”.

“Em criança”, diz, “não imaginava que houvesse outros cursos além de Direito e Medicina”. “O Direito vinha do meu bisavô, do meu avô, do meu pai, dos meus irmãos, estudantes, e o jargão jurídico marcava o dia a dia, nos animados almoços e jantares da família.” Nada mais natural a um miúdo de dez anos, filho mais novo, que achar-se destinado a cumprir a tradição.

Engano. Este Lobo Xavier não cumpriu a vocação sanguínea. Não frequentou a Universidade de Coimbra, alma mater familiar. Não mostrou o brilhantismo académico que os pergaminhos do apelido exigiam. Há uns anos, encarou com humor a dedução de um amigo paterno, a quem respondeu que não, não trabalhava no escritório dos irmãos Vasco, António e Bernardo. “Coitadinho, então não estudou, é isso?”.

Ou o Direito ou nada. Dá uma gargalhada. “Como vê, ter ido para Gestão é o meu ponto de honra. De que nunca me arrependi.” O gosto germinou no 9.º ano, governava o país Cavaco Silva. “Falava-se muito de economia e comecei a interessar-me.” Licenciou-se na Universidade do Minho em Gestão e Administração de Empresas, estudos completados nos EUA e na Finlândia. Começou a carreira como estagiário na Sonae Distribuição, em 1997, tinha 25 anos. Entre janeiro de 2013 e setembro de 2018, foi board advisor na Associação das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas e Afins de Portugal, o setor industrial mais exportador do país. “Foram anos esplendorosos da minha vida. Viajei muito, trabalhei muito, gostei muito.” É, desde há cinco anos, diretor-geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição. Viveu a crise, a covid, agora, a guerra. Agora, chamado a explicar, sob holofotes e ataques, os preços dos produtos alimentares, empenha a palavra: “Não há especulação no retalho agroalimentar”.

Sofre com a crítica. Conjuga nele a vontade de mandar e a necessidade de ser amado por aqueles em quem manda. “Entre ser amado e ser temido, prefere ser amado”, diz um amigo. Sem falsa modéstia, Gonçalo Lobo Xavier traça o autorretrato: “Conciliador, negociador, diplomata, divertido, alguém que não se leva demasiado a sério”. E, acrescenta, “voluntarista, para o bem e para o mal”.

A António Saraiva, presidente da CIP, merece os melhores elogios: “Muito assertivo, corajoso, um príncipe nas relações pessoais e profissionais, diplomata, muito educado e correto. Não deixa nenhum dossiê por tratar, por mais difícil que seja, e a correção não o impede de ser frontal, correto, rigoroso e muito profissional”.

O meio reconhece: “Conseguiu um nível para a associação que é incomparável com o passado, sendo encarado como parceiro pelos poderes públicos”. Não prescinde da sua opinião e fala regularmente com ministros.

“Conversamos muito. Aconselhamo-nos mutuamente. E sendo um divertido, um homem de festas e um relações públicas, poderia dizer-se que é um bom vivant. Mas, no caso dele, estamos perante alguém que se tornou um profissional incansável”, sublinha o irmão António Lobo Xavier.

É um falso calmo. “Por vezes sou tomado pela fúria, entre cinco e 40 segundos de fúria, o chamado ‘ataque Xavier’ segundo os meus filhos”, revela o próprio. Enfurece-o a deslealdade. “Tenho bastante compreensão pela preguiça, sei bem que a natureza humana é dada a pecadilhos. Mas para deslealdade, nada.” Há quem encontre nele “uma alma aflita”, dramática e teatral, que o próprio sabe ridicularizar como ninguém. Desde logo, com uma gargalhada. “Festeiro”, é com igual prazer convidado e anfitrião. “Sorriso fácil, afável, muito gentil, junta à sua volta amigos por vezes muito improváveis”, conta uma amiga antiga.

Vítima da mordacidade dos irmãos – “a minha pouca memória era muito gozada” -, é hoje caracterizado pelo “humor britânico” e pela boa disposição. “Acordo invariavelmente bem-disposto e com energia.” António Saraiva vai além: “O Gonçalo é um ser humano feliz e esse bem-estar com a vida extravasa para os outros”.

Impróprio para o futebol – apenas a circunstância de ser canhoto lhe valeu algumas convocatórias -, cultiva o aprumo físico em maratonas e meias-maratonas. As férias na neve são “momentos dele com os filhos” – Rosário, dedicada à gestão, Salvador, às artes.

Dado “a muitas saudades”, “nostálgico”, porém de bem com o passado, cita livremente Sinatra: arrependimentos tem alguns, poucos, fez o que tinha a fazer e persistiu, sem exceção. Gonçalo Lobo Xavier nasceu a 4 de abril de 1972, uma terça-feira, em Coimbra. Dois dias antes, a família, burguesa, conservadora, católica apostólica romana, celebrara o Domingo de Páscoa.

Gonçalo Cristóvão Aranha da Gama Lobo Xavier
Cargo:
diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição
Nascimento: 04/04/1972 (50 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Coimbra)