Gémeos Seabra, os senhores dos dentes

Humberto e Mauro Seabra são médicos-dentistas no Luxemburgo

Humberto e Mauro mudaram-se para o Luxemburgo com dois anos. Ainda voltaram a Portugal para estudar, mas haveriam de vingar no Grão-Ducado.

Houve um tempo, já bem longínquo, em que sempre que viravam costas ao país do coração não continham as emoções. “Sempre tivemos uma ligação muito forte a Portugal. Quando éramos miúdos e íamos aí passar as férias de verão, no regresso ao Luxemburgo chorávamos até Vilar Formoso.” Hoje, umas três décadas depois, já não sucumbem ao pranto, mas “a saudade aperta sempre”. A nostalgia de casa não os impediu de vingar no Grão-Ducado, ainda assim. Humberto e Mauro Seabra, gémeos de 36 anos, naturais de Mortágua (distrito de Viseu), são proprietários do Centre Médico-Dentaire Cloche D’Or, uma prestigiada clínica dentária instalada numa nova e fervilhante zona financeira do país.

O facto de conhecerem os cantos à casa como poucos também terá tido o seu papel nesta narrativa de sucesso. Apesar de terem nascido em Portugal, rumaram ao Luxemburgo logo aos dois anos – com os pais, que nessa altura decidiram emigrar -, e por lá ficaram até à faculdade. Aí, voltaram à casa de partida. “No Luxemburgo não há faculdade de Medicina nem de Medicina Dentária”, esclarece Humberto. Então, foram fazer o curso ao Porto. Mas o destino já parecia traçado. “Depois, durante umas férias, viemos fazer um pequeno estágio com uma amiga, que nos convidou para vir trabalhar com ela, porque ia abrir uma clínica.” Eles aceitaram de imediato. Corria então o ano de 2010.

Oito anos mais tarde, já com muita experiência e know-how acumulados, ousaram dar um passo mais destemido. “Surgiu a oportunidade de criarmos um espaço à nossa imagem e achámos que tínhamos de a agarrar”, recorda Mauro. Desde então, tem sido sempre a crescer. Hoje, têm uma equipa que inclui dez médicos e sete funcionários e que cobre uma variedade de especialidades da medicina dentária – da ortodontia à endodontia, passando pela odontopediatria e a estética.

“Quando começámos, uma grande parte dos nossos pacientes eram portugueses, até porque fomos dos primeiros [portugueses] a trabalhar no Luxemburgo”, aponta Humberto. Hoje, já não é assim. Mauro tenta explicar porquê. “Apesar de haver muitos dentistas estrangeiros a instalarem-se cá, somos cada vez mais procurados por uma população multicultural. Estarmos instalados numa zona privilegiada, com muitos bancos, também ajuda nisso.” Isso e o facto de falarem cinco línguas – além das três do país (o luxemburguês, o alemão e o francês), ainda o inglês e, claro, o português.

A prova de que estão hoje plenamente entrosados no país que também se foi fazendo deles é que Mauro até já enveredou pelos caminhos da política. Além de integrar a comissão da igualdade e da circulação da comuna em que vive (Roeser), ainda se prepara para concorrer à câmara local, pelo Parti Populaire Chrétien-Social (CSV), de centro-direita. “Agrada-me a ideia de ter um papel ativo junto da comunidade. E gostava de poder fazer algo em prol da comunidade portuguesa.” Até porque as saudades, as malditas das saudades, não lhes dão descanso. “Um dia gostávamos de voltar. O Luxemburgo é a estabilidade financeira, mas Portugal é a estabilidade emocional.”

Nome(s): Humberto e Mauro Seabra
Localização: Luxemburgo 49° 36’ 42’’ N 6° 07’ 47’’ E (GMT+1)
Profissão: médicos-dentistas
Idade: 36 anos