Frutos exóticos. Um mundo no prato

O primeiro mito a desconstruir sobre os frutos exóticos é que estes só podem ser consumidos frescos, sozinhos, após a refeição

As cores garridas, o cheiro intenso ou o aspeto extravagante podem levar-nos a recusar estas propostas, mas experimentar diferentes sabores vindos de lugares longínquos é uma forma de aventura à mesa. E nunca foi tão fácil consegui-los.

Um fruto exótico nada mais é do que um fruto que é cultivado num lugar longínquo daquele em que nos encontramos. As condições atmosféricas e do solo fazem com que determinados frutos só prosperem em alguns locais do Mundo. Para todas as restantes localizações, eles são, muitas vezes, desconhecidos. Exóticos. Mas o crescimento dos transportes e até a introdução da ciência na agricultura fazem com que estes produtos estejam cada vez mais perto de nós.

Mas como é que podemos dar uma primeira oportunidade ao desconhecido? O chef Elad Budenshtiin sugere, antes de ingerir, experimentar o fruto exótico com todos os restantes sentidos: olhá-lo, senti-lo e cheirá-lo. Depois de familiarizado com o novo ingrediente, diz, será mais fácil chegar ao próximo passo e saber o que fazer com ele.

“Depois de prová-lo será óbvio a cada um se prefere utilizá-lo fresco, numa salada, esmagá-lo para um molho ou adicioná-lo a um ensopado.” A decisão, depois de provar o fruto exótico pela primeira vez, será natural, afirma Elad Budenshtiin, responsável pela cozinha do restaurante Tantura, um espaço de cozinha mediterrânica em Lisboa, no qual os frutos exóticos têm um papel preponderante.

Adoçar os pratos

O primeiro mito a desconstruir sobre os frutos exóticos, aliás, é que estes só podem ser consumidos frescos, sozinhos, após a refeição. Não podia haver maior engano, acredita o chef. “É ótimo adicionar algum doce a um prato principal.” Um exemplo: ao cozinhar frango, “adicionar uma fruta”, quer seja inteira ou, fazendo uma compota, adicioná-la à marinada.

O chef israelita faz questão de trazer a sua cultura local para os pratos que confeciona em Portugal. A maioria dos ingredientes exóticos que utiliza, conta, são ainda difíceis de encontrar por cá, por isso tem de os trazer de Israel. “Mas felizmente temos cada vez mais lojas e pequenos mercados israelitas em Lisboa, o que tem facilitado a gestão.”

E que ingredientes são estes? Tendo Israel um clima quente e seco, a maioria dos frutos utilizados por Elad Budenshtiin são, também eles secos. Falamos de frutas e folhas desidratadas. O limão-persa, menos ácido e com um toque adocicado, é um dos primeiros exemplos dados. Outro produto comum nas criações de Elad é a flor de laranjeira, que, “ao adicionar apenas umas gotas pinta, como que por magia, o prato com leves sabores de primavera”. Mais conhecida por cá é a tâmara, também presente na cozinha do Tantura.

Na verdade, os frutos exóticos não são uma tendência nova. Alguns começaram até a ser plantados em Portugal e tornaram-se comuns, pelo menos nas bancas ou nos quintais locais. Um desses casos é a fisália. Oriunda da América Central e do Sul, pertence à família dos tomates, e, atualmente, é presença comum em mercados portugueses – hoje plantada em terras lusas.

A pitaia, o tamarilho, o tamarindo, o cunquate, o abacate, a manga, o kiwi, ou a romã são outros exemplos de frutos exóticos que, com o tempo, começaram a ser consumidos de forma regular em Portugal.

Sobre a cultura portuguesa, o chef Elad Budenshtiin diz ser “aventureira” e aberta a provar, sem rodeios, alguns dos frutos exóticos utilizados na sua cozinha. “Há sete anos, quando chegámos a Lisboa, tínhamos a sensação que seria difícil introduzir alguns produtos, mas encontrámos uma cultura ávida por explorar novos sabores e experiências.”