Se uma pessoa parte uma perna e faz fisioterapia para recuperar, por que razão não se dá tempo a um funcionário para se reabilitar psicológica e emocionalmente? A fórmula é conhecida: estar bem, trabalhar melhor, produzir mais. Só que da teoria à prática vai uma longa distância. Há muito por fazer e para fazer. Mesmo assim, há bons exemplos para contar (salas para sestas e para jogos, oferta de seguro de saúde, dias de folga para quando a cabeça não está bem, consultas de psicologia gratuitas, horas de voluntariado no horário laboral, linha telefónica para falar). São a exceção, não são a regra.
O edifício é antigo, a fachada cuidadosamente preservada, largas e altas portas envidraçadas, no topo está escrito Blip Web Engineers, é uma tecnológica de software de ponta. É segunda-feira, dia habitualmente tranquilo, alguns funcionários, cada equipa decora o seu “bairro” a gosto, com quadros, desenhos, bandeiras de países, um poster de Michael Jordan, vasos com plantas. Cada colaborador, e são 650, faz o seu horário, não há hora de entrada e de saída. A Blip está aberta 24 horas por dia, sete dias por semana, num open space gigante. Quem quiser pode levar o seu animal de estimação para a empresa.
A cozinha tem snacks disponíveis todo o dia com fruta, cereais, iogurtes, legumes, queijo, fiambre. Mais adiante, uma sala com mesa de bilhar, pingue-pongue, jogos de tabuleiro. O lounge tem sofás e pufes e fica no meio e no alto do edifício com vista a toda a volta. O terraço tem cama de rede, barbecue, matrecos, mesas, horta biológica, uma estrutura de ferro para exercício físico. Mais abaixo, a sala de sestas e descanso, escura, com aquário ao fundo. Ao lado, um grande auditório com almofadas nas bancadas de madeira.
Beatriz Gomes, lead people partner da Blip, é psicóloga e fala da estratégia da empresa para o bem-estar mental, físico, social e financeiro dos colaboradores. A empresa é vista como uma segunda casa, a visão é integrada, o modelo de trabalho contempla três cenários – à distância, presencial, híbrido. “Cada pessoa é responsável pelo seu tempo e pelo que tem de assegurar”, refere. Caso a caso, portanto, e para cada um dos três cenários há um apoio financeiro fixo mensal seja para despesas em casa, seja para despesas em transportes.


A Blip tem stickers com mensagens positivas ou mais tristonhas que os funcionários podem colocar em si ou nos outros. “É necessário retirar o tabu que ainda existe e legitimar o que é saúde mental”, defende Beatriz Gomes. Dizer o que se sente, não vestir uma capa para ir trabalhar, assumir fragilidades. “Tem sido feito um esforço grande a nível de formação”, adianta.
Pela empresa, há fórmulas informáticas e equações só para quem entende escritas em quadros brancos, há móveis antigos misturados com modernos, sofás em vários espaços, um mural colorido numa parede, uma minibiblioteca. O ambiente está calmo, há gente em reuniões remotas, com e sem auscultadores na cabeça, um funcionário trouxe a viola, uma rapariga vai para o terraço com o portátil. As salas de reunião são transparentes, há beirais de plantas a toda a volta lá em cima. O bem-estar emocional e a saúde mental não são brincadeira. “Acreditamos, e a própria literatura indica-nos isso mesmo, que a inteligência emocional acaba por ser uma peça fundamental”, realça Beatriz Gomes.
A saúde é uma área delicada. A CUF, com uma rede de clínicas e hospitais privados espalhada pelo país, mais de 13 mil funcionários atualmente, apresenta-se como a única em Portugal, na sua área, com a certificação de Empresa Familiarmente Responsável. A criação de ambientes de trabalho saudáveis, a promoção de medidas estruturais para promover o bem-estar de quem trabalha, o reforço da prevenção nesta área, fazem parte da sua estratégia, segundo Mariana Ribeiro Ferreira, diretora de cidadania empresarial da CUF. A cultura organizacional está atenta ao tema. “A preocupação com o bem-estar dos nossos colaboradores e dos seus familiares sempre esteve presente na CUF, desde a sua fundação, e é uma marca da cultura da empresa que também se materializa nos seus valores, designadamente no que respeitam ao desenvolvimento humano, integridade e ao respeito pela dignidade e bem-estar”, garante.
A CUF tem consultas de psicologia e sessões de coaching gratuitas para os seus funcionários e familiares, formação em liderança promotora de saúde mental para os seus líderes, ciclos de webinars com temas como a importância do autoconhecimento, relevância do sono, saúde mental de crianças e jovens. Promove ações de sensibilização sobre saúde mental para administradores e diretores, organizadas pela Associação Manicómio. Além disso, assumiu a coordenação do cluster da saúde, na associação Grace, e contribuiu para o desenvolvimento de um kit de ferramentas para empresas justamente sobre saúde mental em contexto laboral.

Mas não só. A CUF, que alargou os apoios na área da psicologia aos filhos dos funcionários, fez uma parceria com a start-up Spot Game, para desenvolver um jogo. “É uma ferramenta educativa e gratuita para as escolas, através da gamificação de conteúdos de saúde dirigidos a alunos dos 2.º e 3.º ciclos, que promovem a saúde mental”, diz Mariana Ribeiro Ferreira. No ano letivo passado, o jogo chegou a mais de 1400 alunos e a mais de uma centena de professores.
A Função Pública também investe na área. A Câmara do Porto começou a trabalhar o bem-estar e a saúde mental dos seus funcionários ainda antes da pandemia, através de programas, iniciativas, medidas. “Era uma preocupação e um dos objetivos assumidos na nossa estratégia”, revela Catarina Araújo, vereadora responsável pelos recursos humanos, além da saúde e da qualidade de vida, juventude e desporto, serviços jurídicos e proteção civil. Quis fazê-lo de forma sistemática, integrada, contínua. Até hoje, até agora. “É um grande desafio, considerando o perfil dos nossos trabalhadores, tão diversificado e tão homogéneo.” São 4184 com uma média etária de 49 anos. “Esta diversidade obriga-nos a desenvolver ações específicas para determinadas carreiras”, repara.
Em maio de 2018, a Câmara arrancou com o curso “Ouvir o que não é dito, primeiros socorros em saúde mental” para os dirigentes, começando do topo para chegar a todos. “Há um grande estigma, um grande tabu em volta das questões da saúde mental, e começámos por aí, por desconstruir”, recorda. O que se pensava e sabia sobre o tema, substituir mitos por informação adequada. Depois, abriu-se a linha telefónica interna “Trabalhador +”, com número próprio, não é uma extensão, garantindo a confidencialidade. “É uma linha de proximidade e confiança.” Tiram-se dúvidas, responde-se a questões, encaminha-se para outros serviços se houver necessidade. Também aqui, é preciso saber ler os sinais.

O preço e os custos por nada se fazer
O segundo relatório “Custo do stress e dos problemas de saúde psicológica no trabalho”, da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), publicado em fevereiro, é claro. As complicações relacionadas com stress e saúde mental dos trabalhadores, que resultam em absentismo e quebras de produtividade, estão a custar às empresas nacionais até 5,3 mil milhões de euros por ano. Uma despesa que representa, lê-se no documento, “um valor equivalente ao que o Governo gastou em 2021 em medidas para mitigar os impactos da pandemia.” A OPP sustenta que a aposta em saúde mental nas empresas reduzirá perdas em pelo menos 30%.
“É necessário olhar para este puzzle e perceber o que é preciso fazer para que ele encaixe”, alerta Filipa Palha, psicóloga clínica, presidente e fundadora da ASM – Aliança Portuguesa para a Promoção da Saúde Mental no Local de Trabalho, professora na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica, no Porto. A saúde mental no local de trabalho não é apenas responsabilidade do empregador, ainda há estigma e preconceito em falar do assunto, vem-se notando abertura do meio patronal, nem sempre há condições para fazer o que se quer fazer. Em seu entender, este tema deve ser integrado na sociedade de forma consistente e duradoura, num trabalho conjunto, sistemático e alargado. “Se há uma área em que temos de fazer mais e melhor, com o conhecimento mais avançado neste contexto, é esta. As mudanças necessárias, a reflexão necessária, a definição de boas práticas, é algo que tem de ser trabalhado e ajustado à realidade de cada atividade profissional”, considera.
Há coisas a acontecer. A Blip oferece seguro de saúde aos colaboradores que se estende a todos os elementos do agregado familiar, disponibiliza consultas de psiquiatria e psicologia, dá dias para apoio à família e para quando não há condições emocionais ou físicas para trabalhar. São 650, recorde-se, engenheiros de software, com uma média etária de 32 anos. “Os benefícios são ajustados à progressão da faixa etária”, explica Beatriz Gomes. Por isso, há novas políticas de parentalidade à vista.
Adélia Monarca, psicóloga e professora da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica, fala com os seus alunos destas temáticas de uma forma séria e rigorosa. É preciso fazê-lo. Se é verdade que a saúde mental nunca esteve tão exposta, o contexto pandémico destapou-a de forma flagrante, confrontando a sociedade com novas realidades no mercado laboral – o teletrabalho é um exemplo disso -, mas não quer dizer que tudo esteja resolvido. “Houve um catalisador para falarmos nesse assunto, que foi o contexto pandémico, mas sempre existiu esta preocupação e este problema”, observa.
Ainda há muito por fazer e para fazer. Acabar com o estigma associado à doença mental, desde logo. “Passa tudo por uma cultura organizacional que se centre no apoio e que valorize os trabalhadores de uma forma efetiva.” Até porque as empresas têm uma tarefa que se chama responsabilidade social. “Uma coisa é o discurso, outras são as políticas”, constata Adélia Monarca. E há discursos contraditórios, que se faz e não se faz, que se vai fazer e não se levanta uma palha.
Não há pozinhos mágicos. “Não é por se ouvir falar muito que temos a tradução em ação que seria necessária”, argumenta Filipa Palha. “Não há milagres, não chega a todos os sítios onde podia chegar, não chega à maioria dos trabalhadores, à maioria dos contextos de trabalho.” É preciso chegar a todo o lado. “Não podemos ficar só pela conversa. Toda a gente sabe o preço que pagamos por não fazer nada”, reforça a presidente da ASM.
A Câmara do Porto disponibiliza aulas gratuitas de ioga. A vereadora Catarina Araújo continua a falar do trabalho feito. Em 2019, um programa de liderança para dirigentes de topo e intermédios, formação focada na saúde mental e bem-estar. Nesse ano, apoio psicológico externo, consultas pagas pela Autarquia, sem número limite – 186 pessoas beneficiaram desta ajuda até este momento. Em 2020, chega a certificação na conciliação da vida profissional, familiar e pessoal, o terceiro município a nível nacional e o único do norte a receber a distinção.


Em 2020, a pandemia. “Aí nós, que já estávamos despertos para essa área, avançámos com mais medidas, informação e sensibilização nos cuidados de saúde e bem-estar em tempos de pandemia”, lembra Catarina Araújo. O olhar recaiu sobretudo nos grupos de maior risco, que estavam na linha da frente em tempos de medo e incerteza, polícias municipais, bombeiros sapadores, coveiros, jardineiros. As outras ações de formação continuaram e continuam com os ajustes necessários. Em novembro de 2022, realizou-se o 3.º Fórum de Saúde Mental no Local de Trabalho com a partilha do que estava a acontecer na Câmara. A saúde e o bem-estar psicológico em contexto laboral são presenças constantes no percurso formativo. A vereadora sabe, contudo, que há um longo caminho pela frente, até pela resistência em falar abertamente destes temas.
Olhar para dentro é essencial. “Numa grande empresa como a CUF, cuja grande maioria dos colaboradores cuidam de outras pessoas, é muito importante garantir que as equipas estão bem acompanhadas e de boa saúde”, sublinha a diretora de cidadania empresarial do grupo. O que é feito nesse sentido? “Avaliamos, de forma regular, e de acordo com as melhores práticas internacionais, os riscos psicossociais da organização. Trata-se de uma ferramenta de diagnóstico e de conhecimento aprofundado, que permite antecipar e mitigar situações relacionadas com o bem-estar dos colaboradores.” Os resultados dessa avaliação permitem adequar a intervenção a diversos grupos profissionais, equipas ou locais de trabalho, conforme as atividades.
A Blip faz parte de um grupo maior e isso, destaca Beatriz Gomes, é uma fonte de inspiração – a start-up criada em 2009 no Porto é agora tecno hub da Flutter, gigante internacional do entretenimento online, de jogos e apostas desportivas, com sede no Reino Unido e mais de 18 milhões de clientes em todo o Mundo.
A forma de atuar nesta matéria está no seu ADN, o trabalho remoto é uma realidade na Blip antes da pandemia, não é disruptiva por o utilizar, é disruptiva por fazer antes da covid parar o Mundo. Os objetivos a que se propôs nesta matéria têm sido alcançados, não quer dizer que seja tudo perfeito.
Beatriz Gomes diz que não há uma métrica para medir o impacto destas medidas, mas há evidências. “Maiores índices de bem-estar, menores níveis de abstenção, maiores níveis de produtividade.” “Há dias que podem tirar quando estão menos bem, seja por motivos físicos ou psicológicos”, exemplifica.

Estigma e iliteracia, dois grandes obstáculos
Este é um terreno difícil. O solo é árido. “O estigma e a iliteracia associados à doença mental são dois fatores que complicam este trabalho”, sustenta Filipa Palha. Há muito a fazer, portanto, e desde cedo, desde que a criança nasce, em sua opinião. Assim como se ensina os benefícios de uma alimentação saudável, também é necessário falar de saúde mental para o bem-estar psicológico que ajuda a autoestima, a tomar boas decisões, a lidar com a frustração e a pressão dos pares. Quanto mais cedo, melhor.
O mercado de trabalho tem vindo a mudar, o teletrabalho, com a pandemia, tornou-se a regra e não a exceção, os procedimentos tradicionais e pouco flexíveis perdem espaço, exigem-se modelos diferentes. “A nova geração já começa a ter uma maior abertura para o tema e a perceber que o trabalho não é tudo na sua vida, que precisa de outras condições para um equilíbrio”, salienta Filipa Palha. Só que a engrenagem não está oleada. “A nossa realidade continua aquém daquilo que seriam as necessidades a todos os níveis: informação, sensibilização, intervenção primária.” Intervenção precoce e garantia de cuidados integrados e contínuos de qualidade. O número de psicólogos nos centros de saúde e nas escolas é insuficiente. Filipa Palha insiste no apoio continuado e integrado nesta área. “Uma pessoa parte uma perna, é operada, põe gesso, faz fisioterapia para recuperar, o potencial de recuperação é de 100%. Na saúde mental, acontece a mesma coisa.” Ou seja, é necessário acesso a intervenções psicossociais, recuperar para voltar ao trabalho, caso contrário, frisa, teremos doentes crónicos sem terem necessidade de serem doentes crónicos. É como tocar numa ferida sem saber muito bem o que fazer.
A Blip é uma tecnológica, um mundo à parte, modelo moderno, trabalha-se essencialmente por projetos, não se entra às nove da manhã e sai-se às cinco da tarde. Os laços de convivência e de interesses comuns são reforçados nas comunidades Blip que se reúnem para partilhar experiências, técnicas ou não técnicas. São mais de dez, de ioga, música, pilates, música, cerâmica, padel, enologia, futebol, motards, em breve haverá a de dança. Estas comunidades são apoiadas financeiramente pela empresa. Há ainda três grupos de colaboradores voluntários que ajudam a manter viva a cultura da empresa. Um trata da organização de dias temáticos, como o São João e o São Martinho, com atividades a preceito. Outro grupo trabalha as questões da diversidade e inclusão, das questões LGBTQIA+. E outro da defesa de comportamentos sustentáveis dentro de portas com ações amigas do ambiente.
A Blip tem também um programa de assistência para colaboradores e seus familiares de acesso a um conjunto de serviços gratuitos com o propósito de promover o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, com consultas de aconselhamento financeiro, por exemplo. E toda uma plataforma à disposição com cursos ligados à gestão de tempo, importância do sono, técnicas de respiração, ioga, bem-estar. “Não é na reatividade que queremos atuar, é na previsibilidade”, indica Beatriz Gomes. Não é agir depois de acontecer, é prever antes de acontecer. A Blip tem partilhado a sua experiência em várias circunstâncias laborais e académicas. Há interesse. “Sabemos qual a nossa orientação, está muita coisa a acontecer, mas há muito mais a fazer. Sem saúde mental, não fazemos nada”, diz Beatriz Gomes.
A CUF tem bolsas de estudo para quem não tem formação superior, apoios para a compra de material escolar para os filhos no início do ano letivo, 40 horas anuais para atividades de voluntariado em horário de trabalho. “A saúde mental já foi classificada como um dos grandes desafios do século e as empresas responsáveis sabem que têm um papel a desempenhar nesta matéria, contribuindo para o bem-estar dos seus colaboradores e para aumentar a sua literacia em saúde”, afirma Mariana Ribeiro Ferreira. “Não está tudo feito, há vários desafios nesta matéria”, admite.

As evidências demonstram benefícios diretos para os trabalhadores, para a sociedade e para as empresas, quando se investe em saúde mental em contexto laboral. Adélia Monarca insiste no que é necessário. “Criar uma cultura de apoio que seja sustentada no diálogo e nas necessidades efetivas, e no desenvolvimento de medidas e de práticas alinhadas com as necessidades dos trabalhadores.” Uma cultura de respeito, de empatia, de equilíbrio, que valorize quem trabalha, onde se possa falar e falar sobre estar mal, sobre saúde mental. Para isso, é preciso tempo, pessoas competentes para prestar essa ajuda dentro das empresas. No fundo, disponibilidade e investimento.
Cada organização é uma organização, com os seus modelos, procedimentos, idiossincrasias. O trabalho não é todo igual, as funções também não, os perfis idem aspas. “O mundo do trabalho mudou, os perfis mudaram com mais exigência, mais solicitações, mais pressões internas e externas”, descreve Adélia Monarca. Faz-se mais, em menos tempo, com menos recursos. Depois ganha-se mal, não se recebe a tempo e horas, as condições não são as melhores, falta motivação, empenho, a produtividade diminui. “As organizações têm de ser mais proativas e não tão reativas”, defende a professora. E, por vezes, as lideranças que têm um papel-chave também não estão bem a nível emocional. “A saúde mental tem de ser um pilar dentro das organizações.” Caso contrário, continuaremos a falar em burnout, stress, ansiedade, baixas médicas, absentismo.
Uma em quatro pessoas terá um problema de saúde mental num determinado momento. Há relatórios oficiais, documentos validados, linhas de orientação internacionais nesta matéria há anos. “O estigma está no nosso ADN. Somos um país que investe muito pouco em saúde mental, em literacia em saúde mental”, refere Filipa Palha. Mas é preciso fazer, identificar sinais, precaver, ajustar o trabalho para evitar agudizar problemas, ajudar quando é preciso ajudar. A saúde mental no trabalho tem de ser falada. “Temos de aprender a ter esta conversa, a falar sem medos, a não nos sentirmos desconfortáveis.”
A ASM – Aliança Portuguesa para a Promoção da Saúde Mental no Local de Trabalho, que Filipa Palha preside, surgiu em outubro do ano passado com um propósito condensado numa frase no seu site: “Contribuir para ultrapassar o silêncio e o estigma em torno da doença mental, e para a adoção de modelos de trabalho promotores da saúde mental”. Nos seus objetivos diários estão o estudo, desenvolvimento, implementação, avaliação e disseminação de boas práticas de saúde mental no trabalho. Tem já mais de 50 associados entre empresas, organismos públicos, pessoas em nome individual. Tem um conselho consultivo e um conselho científico. A 17 de novembro realiza o seu 1.º Congresso Nacional de Saúde Mental no Local de Trabalho, na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), em Lisboa. Mais uma oportunidade para falar no assunto. E pôr o dedo na ferida.