Morte de jovem de 17 anos às mãos da polícia francesa, com tiro à queima-roupa, voltou a mergulhar o país num turbilhão de confrontos e violência.
A origem
Tudo começou numa operação stop realizada em Nanterre, cidade francesa que faz parte da região metropolitana de Paris. Nahel Merzouk terá sido mandado parar por dois polícias, alegadamente por infringir as regras de trânsito, mas acabou baleado por um deles. Inicialmente, as forças policiais garantiram que o disparo tinha acontecido por o jovem estar a conduzir o carro na sua direção, mas a versão rapidamente foi desmentida por um vídeo que circulou nas redes sociais.
O vídeo
Nas imagens é possível ver os dois polícias de pé, ao lado do carro parado, sendo que um deles tem a arma apontado ao condutor. É ainda audível a frase: “Vais levar com uma bala na cabeça.” Um dos agentes dispara então à queima-roupa, enquanto o carro arranca. O veículo ainda percorre alguns metros, mas acaba por se despistar. E o condutor morre pouco depois. O caso reacendeu a controvérsia sobre a atuação da polícia francesa, nomeadamente em bairros desfavorecidos.
Quem era Nahel
Nahel Merzouk era um jovem de ascendência argelina e marroquina, com apenas 17 anos. O adolescente vivia sozinho com a mãe numa zona pobre da periferia de Paris e, segundo os advogados da família, não teria antecedentes criminais.
“É uma instrumentalização inaceitável da morte de um adolescente”
Emmanuel Macron
Presidente francês
Primeiro Nanterre, depois o país
Rapidamente a violência tomou conta do país, com numerosos confrontos e incêndios em edifícios públicos e nas ruas. Centenas de autocarros foram danificados. Mas também centros comerciais, cadeias de grande distribuição, agências bancárias e escolas. Nem a residência do presidente da câmara de L’Haÿ-les-Roses, Vincent Jeanbrun, escapou à fúria dos manifestantes.
45
mil foi o número de agentes mobilizados para a região da Ilha de França, para fazer face aos tumultos que tomaram conta de várias cidades.
Homicídio voluntário
Dois dias depois do sucedido, o polícia de 38 anos que disparou à queima-roupa sobre Nahel foi presente a tribunal, tendo sido acusado de homicídio voluntário. O agente em causa ficou em prisão preventiva.
“Chegou o momento de o país abordar seriamente os problemas profundamente enraizados”
Ravina Shamdasani
Porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a propósito da discriminação racial nas forças de segurança francesas
Eventos cancelados, redes à lupa
Na sequência da onda de tumultos que tomou o país, Emmanuel Macron, presidente francês, ordenou o cancelamento de grandes eventos e a monitorização das redes sociais (por acreditar que a divulgação de vídeos com cenas de vandalismo estava a alimentar a insurgência). Em várias cidades, a circulação de autocarros foi suspensa.
17
A idade média dos desordeiros, segundo dados avançados por Macron. O líder do Eliseu garantiu ainda que um terço dos milhares de detidos eram jovens, “por vezes muito jovens”.
Milícias de extrema-direita
Em algumas cidades, foi detetada a atuação de milícias de extrema-direita que, munidas de tacos, instigaram os confrontos e repetiram slogans racistas.