Dar voz aos mais afetados pelas alterações climáticas, a missão de Maria Fernandes-Jesus

Maria Fernandes-Jesus é docente universitária e investigadora

Envolver comunidades marginalizadas e jovens nos processos de tomada de decisão é o foco das investigações de Maria Fernandes-Jesus, que se fixou em Inglaterra mas não esquece Portugal.

São as injustiças sobre aqueles que sofrem com as alterações climáticas, mas não são devidamente ouvidos pelos decisores, que movem Maria Fernandes-Jesus. A madeirense, que cursou Psicologia na Universidade do Porto, rumou ao Reino Unido em 2020 e fixou-se na Universidade de York St John, onde encontrou a “estabilidade laboral” que lhe faltava em Portugal.

É ali que por estes dias dá início a um projeto-piloto sobre o envolvimento político de migrantes em questões relacionadas com as alterações climáticas. Para já começa a conhecer as histórias de pessoas que chegaram àquele canto do Reino Unido vindas do continente africano, o mais afetado pelas alterações climáticas.

São uma ínfima parte dos que sofrem. “A maior parte dos migrantes climáticos não saem do seu país ou então vão para outros países no mesmo continente. O que chega à Europa é uma percentagem mínima. Faz sentido perceber a sua visão. Temos de olhar para isto”, defende a investigadora, explicando que muitas vezes os migrantes são acolhidos em “condições muito precárias, em campos de refugiados, e é difícil conseguirem voltar a ter uma casa”. A situação, desabafa, “envolve muitas injustiças e o número [de migrantes climáticos] vai continuar a aumentar”.

Maria Fernandes-Jesus quer por isso perceber como é que os grupos que sofrem mais com estas questões ambientais podem ser envolvidos de forma eficaz nos processos de tomada de decisão. “O que têm eles a dizer sobre o tipo de futuros que podemos construir?”

Mas o trabalho de Maria Fernandes-Jesus nesta área não fica por aqui. Apesar da distância, continua ligada a projetos de investigação em Portugal. Atualmente integra a equipa que se debruça sobre os projetos “Futuros Climáticos e Transformações Justas: Narrativas e Imaginários Políticos dos Jovens” e “Redes transnacionais para o desenvolvimento regenerativo na Europa: uma perspetiva comparada sobre mobilização de base e influência em processos políticos”, ambos financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

“É frequente ouvir-se dizer que as pessoas deviam participar, envolver-se mais face ao problema das alterações climáticas”, mas para isso é preciso que haja “uma resposta a essa participação, dar voz e conhecer o que estão a reivindicar”, refere a investigadora. “Vários estudos mostram que quando as pessoas participam, quando tentam manifestar a sua opinião, são confrontadas com falta de poder e influência. Isso ajuda a explicar “porque é que perdem a motivação para participar e para se envolverem no futuro. Quando o fazem não são verdadeiramente ouvidas ou não são consideradas”, lamenta.

Maria Fernandes-Jesus considera por isso muito importante que se continue a aprofundar as formas de envolver as comunidades, sobretudo as mais marginalizadas, para que não sejam excluídas das decisões que lhes mudam a vida.

Maria Fernandes-Jesus
Localização: York, Reino Unido 53.964650 N 1.080533 O (GMT 0)
Cargo: docente universitária e investigadora
Idade: 37 anos