CR&F. Uma aguardente, uma história com 128 anos

João Portugal Ramos, o pai, e João Maria, o filho, assumem as rédeas da empresa secular, não descurando os pormenores e o seu legado, procurando inovar e aumentando o portefólio da marca (Foto: Ernesto Fonseca)

Confiança e partilha são valores da marca que junta as primeiras letras dos apelidos dos seus três fundadores. Uma herança preservada com cuidado e todo o respeito. Líder no mercado nacional, está a conquistar territórios lá fora.

Em cada garrafa, o sabor da portugalidade. Na tradição, o seu maior trunfo. Na experiência, o seu chão. Pelo caminho, um portefólio robusto e consistente com líquidos de referência. Esta história é feita de gente com garra e visão, que acreditou no potencial do que tinha nas mãos. Francisco Ribeiro de Carvalho, o primeiro de todos. Manuel Joaquim Ribeiro, sócio número dois. Joaquim Nunes Ferreira, o terceiro a entrar no negócio em 1900. Com as primeiras letras dos seus apelidos nasceu a marca CR&F. Tem mais de 100 anos e continua a inovar.

Os seus rótulos chegaram a ser produzidos à mão com tesouras de alfaiate e as garrafas produzidas a sopro. Nos anos 50 do século passado, a dona Beatriz, funcionária, criou o característico lacre da aguardente CR&F, que se mantém até hoje, em sua honra. Vendas a crescer, negócio firme, o trajeto permaneceu na rota ao longo dos anos. Em 2016, num leilão de carta fechada, a empresa volta a ser portuguesa. Sai uma multinacional de capitais norte-americanos e japoneses, entra o saber e a experiência no setor vinícola de João Portugal Ramos. João Maria Portugal Ramos, seu filho, enólogo, admite que foi preciso coragem para comprar a empresa. Valeu a pena. O bichinho da prova adapta-se a novos perfis e há sempre caminho para desbravar.

“A marca tem força”, garante João Maria. Uma marca que se confunde com o que produz: aguardentes envelhecidas em cascos de carvalho. Encorpadas, ricas, complexas. Aquela cor topázio escuro, típico do envelhecimento em barricas feito agora em Vila Nova de Gaia. Na boca, o equilíbrio e a densidade de citrinos, frutos secos, caramelo, mostarda, leite-creme tostado, chocolate preto. “Uma aguardente portuguesa de muito boa qualidade com características que a tornam inconfundível”, descreve o enólogo. A aguardente velha CR&F Reserva é a maior e mais antiga referência da casa, envelhecida em cascos de carvalho. A aguardente velha CR&F Reserva Extra mantém a alma, não descura pormenores. A aguardente bagaceira CR&F enriquece o legado, o seu estágio é feito em antigos cascos de Vinho do Porto.

Em 2020, os 125 anos de história são celebrados com 1895 garrafas numeradas de uma aguardente dos primórdios dos primórdios – 1895 é o ano de fundação. Em 2022, a marca lança a CR&F XO Fine&Rare, aguardente criada na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, que envolveu produtores da zona e uma apurada seleção de lotes antigos, o mais velho com mais de 40 anos. “É uma aguardente moderna, mais elegante, mais fresca, a primeira destilada por nós para a CR&F”, revela João Maria.

Experiência e tradição

O portefólio alarga-se, dão-se pequenos retoques na imagem, investe-se na comunicação. “Estamos a criar produtos de valor acrescentado.” Há projetos, há objetivos. “Queremos inovar o consumo de aguardente que ainda é muito tradicional”, refere o enólogo. O método de produção, a temperatura certa, o blend perfeito fazem parte da fórmula inicial, com segredos bem guardados, como convém. “Queremos aperfeiçoar o momento do consumo”, reforça.

Uma marca tão portuguesa, mais de um século de tradição, a confiança que vai passando de geração em geração, aquele foco permanente no perfeccionismo. São estas as bases. “Há um respeito enorme por esta marca portuguesa, queremos manter o seu legado, continuar a herança e, devagarinho, imprimirmos um cunho da nossa enologia”, adianta João Maria. O orgulho, a máxima atenção a todos os detalhes, a responsabilidade de fazer o trabalho bem feito. “Tentamos sempre manter o que está para trás para tentarmos melhorar. Continuamos muito curiosos.”

Antes de 2016, as exportações andavam pelos 5%, agora chegam aos 25%, a mais de 20 países – Canadá, Estados Unidos, Luxemburgo, França, Angola, sobretudo ao mercado da saudade. “Conseguimos espicaçar os parceiros a ir mais além da portugalidade.” Por cá, a CR&F continua líder de mercado. Em qualquer copo.

História

1895 Francisco Ribeiro de Carvalho torna-se exportador de vinhos e aguardentes no Ginjal, em Almada. As primeiras vendas são feitas no mercado africano.

1898 Francisco Ribeiro de Carvalho e Manuel Joaquim Ribeiro juntam-se, ficam sócios, criam a sociedade Carvalho & Ribeiro.

1900 Negócio a crescer, Joaquim Nunes Ferreira entra na empresa que passa a chamar-se Carvalho, Ribeiro & Ferreira – CR&F. Nome que mantém até hoje.

1943 Vendas aumentam, instalações alargam-se, constrói-se um centro de vinificação, inovador para a época. As adegas, a destilaria e os armazéns abrem-se a visitas.

1950 Surge a primeira aguardente CR&F Reserva.

1967 Produção ao rubro, garrafas de vinho a envelhecer, aguardente com muita procura.

1970 Produção limitada de aguardente velha numa garrafa de cristal, preciosidade para os clientes da marca.

1980 Surge a primeira aguardente CR&F Reserva Extra.

1995 Centenário assinalado, a empresa é comprada pela Costa Pina, o legado CR&F permanece.

1999 Produção focada nas aguardentes, negócio em franco crescimento. O envelhecimento muda-se para Vila Nova de Gaia.

2005 A marca é comprada por uma multinacional do setor de bebidas que se compromete a manter os padrões de qualidade e excelência.

2016 João Portugal Ramos, produtor de vinhos e enólogo, adquire a marca com uma estratégia de inovação e aperfeiçoamento. A empresa volta a mãos portuguesas.

2020 125 anos de história, lançamento de 1895 garrafas numeradas de uma aguardente que remonta às suas origens.