Carlos Mota Santos: o bom sobrinho em casa fica

Carlos Mota Santos é chairman e CEO da Mota-Engil

Formal e institucional, não se intimida ou atrapalha. E nunca olhou para os cargos que teve como um favor. Pragmático, reflexivo, focado, o novo líder da Mota-Engil define-se em três palavras: “Ambição, felicidade e gratidão”.

“Foi um bom menino, é um bom rapaz.” O patriarca António Mota não esconde o apreço pelo sobrinho e afilhado. Carlos, único filho de Maria Manuela, a mais velha das três irmãs, acaba de ser o escolhido para lhe suceder no topo da maior construtura portuguesa, caminho familiar iniciado há 76 anos por Manuel António Mota, e a passagem de testemunho enche-o de orgulho. “Filho único, mas sem mimo. Nem em casa nem no trabalho”, continua António, não poupando reconhecimento ao recém-nomeado CEO e chairman da Mota-Engil. “É muito preparado. Começou do início. Andou pela Polónia, foi responsável pela América Latina e, ultimamente, andou comigo, a segurar-me na mala. A vida dele foi acompanhar o tio nos bastidores, onde teve sempre uma boa relação com todos.”

Padrinho de batismo e de casamento de Carlos Mota dos Santos, recorda “um miúdo muito alegre e divertido, muito ligado aos primos, dado a grandes brincadeiras de férias”. Mas também diz: “O Carlos transitou com grande rapidez da juventude para a ponderação”. Amadurecimento que se notava já em 2012, quando teve pela primeira vez assento na Comissão Executiva, então liderada por Jorge Coelho (falecido em 2021), também figura central no percurso do gestor – “Só quando o perdi percebi o quanto era importante para mim”.

António Lobo Xavier é também testemunha dos primeiros passos que o conduziriam ao topo, por entre primos direitos, sem disputas fratricidas. “Recordo o profissionalismo, o foco, a reflexão, o equilíbrio, a sensatez no trabalho.” E, acrescenta, “a coragem de discordar”. Não é fácil discordar de António Mota, líder de convicção, de instinto, de faro. De emoções e de muito sucesso. Em reuniões do Conselho de Administração, marcadas pela boa disposição e pelo sentido de humor, traço do patriarca, o então jovem de 34 anos, o primeiro dos dez netos do fundador a sentar-se na Comissão Executiva, mostrava-se “focado, calado, reservado, apresentando as áreas dele, por vezes dossiês difíceis, de forma convincente e bem preparada”, acrescenta o advogado. Formal e institucional, Mota dos Santos não se intimida ou atrapalha. E nunca olhou para os cargos que teve como um favor. “Tenho uma esperança muito grande na terceira geração, que é melhor preparada do que a segunda. O meu sonho de ter pessoas de família com muita qualidade e bem preparadas para prosseguir o trabalho realizou-se”, orgulha-se o patriarca.

A teimosia do novo líder da Mota Engil tem-lhe rendido mais bens do que males. “Detesto perder. Fico a remoer por dentro e a cismar, não obstante tenha aprendido com alguns insucessos.” Concursos que se perdem, investimentos falhados, desilusões com parceiros de negócios. “Traições, mesmo. Nesses casos, não sendo de explodir, corto de vez. Quando acaba, acaba.” Tem na família o centro. A mulher, médica, e os três filhos – Rodrigo e Luís, futuros engenheiros. E Beatriz, “a menina que faz o que quer de mim, porque aprendeu com a mãe”.

As amizades, fazem parte do essencial. “Sou um colecionador de amigos, adoro convívios e jantares.” Necessidade premente que explica com a experiência de filho único, apesar de tantos primos. “Sempre gostei muito de me divertir, e diverti-me muito na juventude, mas também me sentia sozinho. E eu detesto a solidão.” Quem o vê na empresa, apesar de afável, não adivinha “o lado bem-disposto e divertido”. António Lobo Xavier conhece-lhe o “entusiasmo pela vida, o sentido de humor e a boa conversa”. Sobre paragens longínquas, sobre arte, sobre o Porto – “A cidade que adoro”. Sobre música, fã dos Metallica, sente-se ainda hoje “semi-roqueiro”. E sobre Engenharia, paixão antiga. “Houve tempo em que quis ser advogado, não sei porque é que tal me passou pela cabeça.”

Para Francisco Seixas da Costa, ligado à empresa há dez anos, “há muito que a terceira geração da família Mota está a ser preparada para dar continuidade à empresa”. Carlos Mota Santos “tem todos os requisitos pessoais para assegurar uma excelente liderança”, acrescenta.

Herdou do avô “o humanismo e o amor à família”. Tem por objetivo “fazer o que fez a segunda geração e entregar à seguinte uma Mota-Engil melhor” do que a que recebeu, promete o novo CEO. Aos 44 anos, define-se em três palavras: “Ambição, felicidade e gratidão”. O tio e padrinho, treinador do Benfica em jogos de computador nas horas vagas, encontra-lhe um único defeito: “É do F. C. Porto”.

Carlos António Vasconcelos Mota dos Santos
Cargo:
chairman e CEO da Mota-Engil
Nascimento: 13/05/1978 (44 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Porto)