Define-se “centro-esquerda socialmente e centro-direita na economia”, recusa fações, porém não esconde afinidades: Mota Amaral, com quem trabalhou no Governo Regional dos Açores, e Passos Coelho.
“Não pertenço a grupos, a grupinhos, a grupelhos.” Será o passado “independente e livre” que leva o Conselho de Jurisdição Nacional do PSD a escolher Carlos Costa Neves para instrutor do inquérito interno ao alegado conluio de militantes sociais-democratas e socialistas na divisão de algumas juntas de freguesia do distrito de Lisboa, nas últimas eleições autárquicas.
“Não pertenço a fações deste ou daquele”, repete o açoriano. Conta que na ilha se sente um político nacional. No continente, um político regional.
A “natureza livre” vem da terra em que nasceu, filho, neto e bisneto de terceirenses. “As pessoas da Terceira não gostam de vínculos, de amarras, não há preto e branco, bons e maus.” Características naturais acentuadas “pelo trajeto e vida”. O pai, oficial do Exército, leva a família de missão em missão, de quartel em quartel. Geografias, povos, pessoas, casas muito diferentes, mais de quarenta, “abrem horizontes”.
Passa por Angra do Heroísmo, Guiné-Bissau, Évora. E Timor, a melhor e mais forte influência. Numa primeira fase, ali vive dos três aos sete anos. Na segunda estadia, dos 15 aos 17. Toda a infância e adolescência. “Tenho, por isso, uma relação emocional muito forte com Timor. E ainda hoje mantenho amigos desses anos.” Aos 15, estranho ao mundo civil, quer seguir a vida militar, para tristeza paterna. O Direito surge por influência de uma visita. No âmbito de um programa que previa a viagem de estudantes do continente às colónias, a família recebe em Timor um jovem apaixonado pelo Direito. As loas que o continental, de 22 anos, tece ao curso e à universidade depressa seduzem o adolescente.
Viaja para Lisboa. Tem 17 anos, vive numa residência universitária, no Lumiar, torna-se trabalhador-estudante. Dois anos depois, em 1974, com 19 anos, é pai. “Tenho um filho do 25 de Abril.”
Nos anos quentes da Revolução e da vida associativa vota nas listas do MRPP, mas ao contrário do colega Durão Barroso, dois anos mais novo, não se filia. Hoje, define-se “centro-esquerda socialmente e centro-direita na economia”, recusa fações, porém não esconde afinidades: Mota Amaral, com quem trabalhou no Governo Regional dos Açores, e Passos Coelho, de quem foi ministro dos Assuntos Parlamentares, em “colaboração intensa”, depois de ter ocupado, em 2005, a pasta da Agricultura, Pescas e Florestas.
À isenção que o partido lhe reconhece, acresce “a experiência”: 11 anos no Governo Regional dos Açores, oito anos de Parlamento Europeu, dois anos na presidência do PSD Açores. E dois mandatos na Assembleia da República, deputado pelos círculos de Castelo Branco e do Porto.
“Poucos percorreram tanto este distrito como ele”, diz Carlos Sá Martinho, ex-deputado de Castelo Branco. Tornaram-se amigos. “O Carlos chama-me irmão, o que me deixa muito orgulhoso.” Descreve o açoriano: “Personalidade discreta, gosta de estar no seu canto, bom conversador, seguro, íntegro e de confiança”. Um ilhéu sem pressa: “Nem à mesa, nem nas tarefas que lhe confiam”.
Enquanto ministro da Agricultura, Pescas e Florestas, assina com Telmo Correia e Luís Nobre Guedes o polémico despacho que concede a aprovação de um empreendimento turístico da empresa Portucale. É por isso uma das testemunhas do processo que acaba sem condenados. Vive nos Açores. Ao telefone, enquanto fuma, garante que uma ilha nada tem de claustrofóbico. “Do campo vê-se o mar e o mar é liberdade.” Gosta de um “rijo dia de inverno” e do calor intenso de verão. Destino de férias: Cabo Verde.
Não fosse político escolhia a diplomacia. Avesso à unanimidade e aos consensos, gosta de compromissos. Considera-se “sensato, razoável tranquilo”. Por vezes, subestima-se. “É um defeito”, diz, “a que também pode chamar-se prudência”. Em matéria de defeitos, gostava de abrandar na necessidade de antecipar e ficar a pensar no que ainda não aconteceu.
Determinado na defesa do que acredita, há um “ensinamento” que não esquece: “Enquanto tu estiveres a bater o que estou eu a fazer?”. Ou seja: “Se bates também levas”.
Carlos Henrique da Costa Neves
Cargo: instrutor do inquérito interno do PSD ao alegado conluio de militantes sociais-democratas e socialistas na divisão de algumas juntas de freguesia do distrito de Lisboa, nas últimas eleições autárquicas
Nascimento: 16/06/1954 (69 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Angra do Heroísmo)