Carlos Cortes, o organizador

Carlos Cortes é o novo bastonário da Ordem dos Médicos

Hiperativo e muito arrumado, o dia do novo bastonário da Ordem dos Médicos começa às cinco da manhã, com uma reflexão sobre a véspera.

O dia começa às cinco da manhã, com reflexão e anotações sobre a véspera. “Procuro sempre ver o que correu menos bem e aquilo em que posso melhorar. Depois, tomo um café na varanda, rodeado de árvores, a ouvir e a ver o que me cerca.” Os estoicos clássicos são fontes de sabedoria. “Com Séneca e Marco Aurélio, e também com a idade, aprendi a controlar-me. A deixar de me preocupar com aquilo que não depende de mim para me concentrar apenas no que está nas minhas mãos.”

Carlos Cortes é o novo bastonário da Ordem dos Médicos. Chefe de serviço no Centro Hospitalar Médio Tejo e atual presidente do Conselho Regional do Centro vai substituir Miguel Guimarães a partir de 14 de março. “Um hiperativo”, dizem amigos, sem “tempo para ter tempo”. Ele garante: “Durante a campanha eleitoral estive extremamente sereno. Concentrei-me no processo da campanha. O resto, já não dependia de mim”.

Nem sempre foi assim. “Interiormente era tudo menos calmo, vivia com uma carga de preocupação enorme. Sofria muito por antecipação. Depois percebi que muitos desses problemas acabavam por não acontecer.”

Nasceu em Lisboa “por acaso”. Filho de comerciantes, tem sangue ribatejano (mãe de Tomar) e do Alentejo (Cercal). Sonhou ser diplomata. A medicina veio por pressão familiar. Aceitou, porém, às escondidas dos pais, candidatou-se a Coimbra. Queria sair de casa. “Em Coimbra comecei a gostar de medicina e a abrir ao mundo.”

Paula Gama, apesar de mais nova sete anos, conheceu-o na faculdade. Recorda um finalista “muito interventivo nas Reuniões Gerais de Alunos, sempre envolvido nas causas estudantis”. Na luta contra as propinas, por exemplo, contestação que assombrou Cavaco Silva, primeiro-ministro, e o ministro da Educação, Couto dos Santos. Recorda ainda o médico que em 2011 agregou milhares de colegas numa página de Facebook, gerando um movimento que levou a greves e a concentrações à porta do ministério tutelado por Paulo Macedo.

“É das pessoas com maior aptidão social que eu conheço”, diz a amiga e colega no Centro Hospitalar Médio Tejo. Não consegue imaginar o adolescente que Carlos Cortes diz ter sido: “Introvertido e muito envergonhado”. Revoltado com os pais, enfiado nos livros e nos estudos, frequentador assíduo e solitário das salas de cinema da capital. “Via um filme por dia”, diz. Esse miúdo desapareceu com a vida associativa e académica de Coimbra. “Até porque nesses anos encontrei a mulher da minha vida.”

Dulce Diogo é cirurgiã de transplantes. Também ela não reconhece no marido o jovem tímido. “Não apanhei essa fase, mas continua a ter momentos de introspeção, sendo um leitor compulsivo e um colecionador de filmes.”

O marido é “obcecado por regras”. Por isso, “pede a quem lida com ele que seja igualmente regrado e tenha o mesmo cuidado”. Ordem, da secretária, sempre impecável, ao roupeiro, organizado por cores. “Se por acaso utilizámos o gabinete dele há que o deixar tal e qual o encontrámos. É muito natural vê-lo a passar os dedos pelos móveis, a verificar se há pó.” O próprio aceita: “É uma coisa por demais. Quando, ao fim de semana, a casa começa a ficar desarrumada, fico quase infeliz”. Com os filhos – Joana, de sete anos, e Francisco, de 11 – é “demasiado disciplinador”.

Paula Gama define as marcas distintivas: “Como diretor de serviço é muito bom a atribuir tarefas porque sabe aproveitar como poucos as características das pessoas. Sabe levar a água ao seu moinho, por vezes recorrendo ao humor, estabelecendo uma ética do trabalho”.

Dulce Diogo releva o lado reivindicativo “potenciado pela enorme capacidade de agregar pessoas”. Incluindo adversários. “Não o faz por gestão política, mas sempre que entende que essas pessoas podem ajudar.”

Amigos e familiares dizem que o pior defeito é o tempo que passa ao telefone. “Se lhe mandar um email às três da manhã, sou bem capaz de receber de imediato a resposta. Está constantemente alerta”, exemplifica Paula Gama. Quanto aos vícios, é bem capaz de ser apanhado a roer as unhas.

Carlos José faria Diogo Cortes
Cargo:
novo bastonário da Ordem dos Médicos
Nascimento: 05/01/1970 (53 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)