Carlos Abade: um homem do terreno

Carlos Abade é presidente do Turismo de Portugal

Colaboradores do novo presidente do Turismo de Portugal descrevem um chefe viciado em trabalho, que em momentos de stresse “utiliza o sentido de humor e a gargalhada para desanuviar o ambiente”.

Nos protocolos de apoio à reabilitação do património, na apresentação de linhas de ajuda financeira às empresas, nas sessões de esclarecimento por todo o país, a responder a dúvidas, a apresentar soluções, a comprometer a palavra, era ele quem comparecia e dava a cara. “Um homem de ação, um homem do terreno”, diz Pedro Machado, “num trabalho permanente de proximidade aos territórios no que compete ao investimento”.

O presidente do Turismo Centro de Portugal está confiante: “Carlos Abade é um profundo conhecedor da máquina do turismo, muito em particular das entidades e das equipas regionais. Respeitado a nível nacional, com muita consistência técnica, estará seguramente muito à vontade nestas funções”. As de líder do Turismo de Portugal, um dos mais internacionalmente elogiados institutos nacionais.

Há 27 anos ligado à casa – entrou em 1996 como jurista do Fundo de Turismo -, ninguém a conhece como ele. “Dos funcionários que estão na porta até a administração, no 9.º piso, sabe quem é toda a gente”, afirma Pedro Machado. O Turismo do Porto e Norte alinha no otimismo, pela voz do presidente, Luís Pedro Martins: “O Carlos é um profundo conhecer do Instituto. O maior desafio será manter a dinâmica do turismo, recordes atrás de recordes, tentando atrair mercado de alto rendimento”. Todo o ano, em todo o território.

“Gosto de estar no início das coisas, de ver nascer, de ver acontecer, de sentir a esperança das pessoas ao longo do processo. Se me metessem no gabinete morria”, diz o próprio. É de fácil relacionamento e tem pulso. É tolerante e pode cortar a direito. É bom ouvinte e resiste aos lobbies. É avesso a murros na mesa e muito incisivo. Gosta de criar pontes e é teimoso. “Sou Carneiro de signo e, portanto, sim, um pouco teimoso.” É discreto e não reprime a gargalhada que o distingue numa sala cheia. “A gargalhada destaca-se tanto quanto a competência, o empenho, a dedicação. Trabalha que nem um louco”, define o advogado Paulo Amil. Conhecem-se há três décadas. São compadres, ainda hoje se cruzam nas férias grandes, em Tavira. “Durante anos, jogámos cartas. Nós contra as nossas mulheres. Raramente ganhámos.” Conhecem-se muito bem. “Não é pessoa para manifestar sentimentos, talvez quando o Benfica ganha, mas, mesmo aí, muito moderadamente”, rotula o amigo sportinguista. Os colaboradores confirmam. Descrevem também um chefe viciado em trabalho, que em momentos de stresse “utiliza o sentido de humor e a gargalhada para desanuviar o ambiente”. O responsável pela nomeação, Nuno Fazenda, acrescenta: “Um profissional com provas dadas e reconhecidas pelo setor”. O secretário de estado do Turismo, Comércio e Serviços adiciona: “E uma equipa que saberá estar à altura dos desafios que se colocam ao setor”.

Foi “descoberto” por Maria José Catarino, que em 2000, então responsável pelo Departamento de Análise e Acompanhamento do Investimento do Instituto de Financiamento e Apoio ao Turismo, resgatou o jovem advogado ao departamento jurídico. “Sempre que me vem visitar, costumo recebê-lo com amêijoas”, revela a algarvia já aposentada, realçando no amigo o prazer da mesa. “Fui buscá-lo. Reparei nele. Orgulho-me imenso de ter percebido as suas potencialidades – muito trabalhador e sempre do lado da solução.”

Da primeira infância, sob o céu de África, Carlos Abade guarda o cheiro a terra, a memória de “um povo caloroso”, a dor pela morte do pai, funcionário de uma companhia de navegação e o luto materno (a mãe trabalhava nas Linhas Aéreas de Moçambique). Chegado a Lisboa, esperava-o Odivelas. Tinha seis anos. Cresceu depressa. “Sentia que tinha de ajudar a minha mãe.” A relação é inabalável. “Não prescindo de estar com a minha mãe todos os dias.” Nem dos amigos e afilhados – não tem filhos. “De um copo de bom vinho e de pensar.”

Para ele, “não há vida sem música”. “De Bach a Imagine Dragon, passando por Aretha Franklin, The Cure, Dire Straits, Mariza ou Amy Winehouse.” Considera-se um bailarino muito capaz e um razoável cantador de fado. A mulher, quadro do instituto na área da regulação da inspeção de jogos, assiste com frequência a interpretação de “Ó gente da minha terra” e “Ai Mouraria”. O novo presidente do Turismo de Portugal gosta de viajar cá dentro. Algarve e Douro. Évora, pela gastronomia. Serra da Estrela na primavera, praia das Maçãs e Meco no inverno. Sintra, sempre.

É licenciado em Direito, pela Universidade Internacional de Lisboa, com formações em Avaliação de Empresas e Análise de Investimentos pela Universidade Católica de Lisboa, em Gestão Pública pelo INA – Direção-Geral da Qualificação dos Trabalhadores em Funções Públicas e em Financiamento de Projetos pelo Institut Universitaire de Hautes Etudes Internationales de Monte-Carlo, no Mónaco.

Carlos Manuel Sales Abade
Cargo:
presidente do Turismo de Portugal
Nascimento: 05/04/1968 (55 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Maputo)