Bioplásticos que contam histórias

Biomateriais nascem com base em subprodutos que moldam objetos recicláveis e compostáveis para vários setores da indústria. É economia circular, é poupança energética. E a imaginação é o limite.

Folhas de oliveira, cascas de laranja, borras de café, cortiça, ardósia e xisto são alguns dos subprodutos naturais que podem servir de base a biomateriais que dão corpo a novos produtos biológicos, biodegradáveis e compostáveis, ao gosto e vontade da indústria, do mercado, do negócio. Na produção, é tudo muito semelhante à dos plásticos convencionais, só que há várias diferenças. Estes novos bioplásticos representam uma poupança energética que pode chegar aos 65% e estão preparados para voltar à terra, ao solo. E não só.

Estes materiais ecológicos têm uma palavra a dizer e não são iguais aos demais. “A verdadeira diferenciação é a customização de um produto que pode contar uma história própria, um conceito que se queira contar”, adianta Ricardo Neto, diretor-geral da MPlastic, do Grupo MSTN, especializado na conceção e produção de soluções de higiene e bem-estar, localizado em Vagos, que, no final do ano passado, integrou a b4Logic, spin-off da Universidade do Minho, que desenvolve esta matéria-prima sustentável e biodegradável. “Um bioplástico que pode contar uma história de economia circular com subprodutos naturais, sejam orgânicos, sejam inorgânicos”, descreve o responsável, mestre em Biotecnologia. Destes biomateriais pode surgir tudo ou quase tudo, ou seja, tudo o que é passível de ser injetado. Pratos, copos, talheres, garrafas, sacos de compras, sacos do lixo, películas de cobertura, artigos promocionais, embalagens de maquilhagem, artigos descartáveis de saúde e beleza. Tudo o que o mercado quiser, indústrias diversas como a agricultura, a cosmética, a têxtil, a automóvel, entre outras.

A ideia é aproveitar o que não é utilizado e criar bioplásticos para novas composições sem entupir o Planeta. Do mercado para o mercado com um cunho pessoal. Artigos personalizados, feitos à medida de cada negócio, com o seu ADN. “A capacidade de adaptar a sua história a um produto diferenciador e com uma oferta muito interessante”, sustenta Ricardo Neto.

Uma inovação, uma formulação exclusiva para cada marca. Essa customização quer criar uma relação emocional com os consumidores e com os empresários. Ricardo Neto exemplifica: uma empresa que se dedica à produção de ostras pode ter uma embalagem feita com cascas de ostras.

A circularidade, a valorização de subprodutos, a proteção do Ambiente, um planeta mais saudável, guiam este trabalho com olhos postos no futuro. O conhecimento técnico e científico permite a manipulação dos subprodutos, de forma a garantir uma correta combinação com as bases poliméricas biodegradáveis.

A equipa de investigadores – composta por Raul Fangueiro, João Bessa, Fernando Cunha e Carlos Mota – tem dois números bem presentes: apenas 9% dos cerca de 400 milhões de toneladas de plásticos, produzidos todos os anos em todo o Mundo, são reciclados. Enquanto isso, os aterros estão lotados, os recursos naturais são sugados a alta velocidade, o ar fica irrespirável. Estes novos bioplásticos também nascem para tentar contrariar estas duras realidades.