Biofabics: pelo, lã e cabelo “natural” produzidos em laboratório

A utilização desta tecnologia poderá ir muito além do têxtil (Foto: Freepik)

A Biofabics, uma spin-off da Universidade do Porto, está a desenvolver, com parceiros holandeses e checos, folículos capilares “naturais” com potencial para as indústrias têxtil e biomédica.

Envergar um casaco de pelo sem provocar sofrimento a animais vai ser possível em breve. A Biofabics, uma spin-off da Universidade do Porto, está a desenvolver, com parceiros da Holanda e República Checa, uma tecnologia que permite produzir folículos capilares em laboratório. Vão substituir pelo, lã e até cabelo.

A indústria ligada ao têxtil e moda “é enorme e tem bastante influência na economia e na ecologia, já que se trata de uma indústria bastante poluente e, na questão concreta das peles, não é amiga dos animais”, conta Pedro Costa, CEO da Biofabics. “Vimos aqui uma possibilidade de utilizar o nosso conhecimento da biomedicina e da cultura de células e tecidos para recriar a pele com pelo em laboratório e, um dia, também em fábricas, em biorreatores, não sendo mais necessário recorrer a animais.”

A Comissão Europeia percebeu a importância do projeto e atribuiu um apoio no valor de quatro milhões de euros, dos quais 700 mil são direcionados para a Biofabics. Cada uma das empresas contribui com diferentes conhecimentos. A da Holanda é perita na questão celular, modificando as células para poderem gerar as características adequadas e em quantidade. A da República Checa produzirá uma matriz em que as células serão colocadas para adquirirem a forma dos tecidos naturais. A portuguesa está focada na cultura dos tecidos.

Pedro Costa, CEO da Biofabics

A intenção é demonstrar que “é possível desenvolver este tipo de tecido, de maneira artificial, a partir de biópsias”, acrescenta Pedro Costa. Ou seja, continua a ser pelo natural, mas produzido de forma artificial.

A utilização desta tecnologia poderá ir muito além do têxtil. Na área biomédica, explica Pedro Costa, “também pode ter muita utilidade para modelos de estudos de fármacos, cosméticos, para gerar cabelo implantável para humanos”, entre outras aplicações.

O projeto tem um horizonte temporal de cinco anos, mas a Biofabics tem recebido várias manifestações de interesse por parte de investigadores e também de empresas têxteis, nomeadamente da zona do Vale do Ave.

A empresa tem muitos outros projetos em andamento, que passam pela criação in vitro de tecido cardíaco, ósseo, cartilagem, entre outros; o desenvolvimento de modelos de intestino para otimizar a alimentação de peixes em aquacultura e até um estudo relacionado com Alzheimer.