O novo diretor nacional da PSP é muito elogiado: “Sabe mandar, ouvir, ser justo”. Gosta de motas, de nadar. Acima de tudo, de pessoas.
Nasceu em Maputo e da cidade, que então se chamava Lourenço Marques, trouxe, aos nove anos, o aroma africano da terra molhada, que nunca esqueceu. Mudança de vida marcada por dificuldades, contacto com bairros agressivos que contrastavam com a felicidade e segurança das ruas moçambicanas, onde aprendeu a jogar à bola. Corria 1975 e a vaga de retornados. As origens familiares durienses acabariam por conduzi-lo a Favaios. Aí descobriu o pão, famoso, o Moscatel e o Douro. Porém, já adolescente, apesar da proximidade ao rio, faltavam-lhe as piscinas e a prática da natação, modalidade em que chegou a competir nos anos de África. Retomada depois, quando a família decidiu tentar a sorte na capital. Ainda hoje, contam amigos, gosta muito de nadar. Quase tanto quanto dos passeios de mota, junto ao mar. “Mas, acima de tudo, gosta de pessoas”, afirma quem o conhece bem.
Descrevem-no “humanista”. “Sente a dor dos outros, sempre numa atitude humilde, de ajuda.” Há exemplos: “Na preparação da Jornada Mundial da Juventude, vendo que as instalações que albergariam os polícias estavam atrasadas, e conhecendo o défice de pessoal dos serviços sociais, ele próprio ajudou. Não é normal ver um superchefe acartar e montar camas”.
O “superchefe” tem 58 anos e é o novo diretor nacional da PSP. Dizem-nos que merece elogios. Que por onde passa faz amizades. Seja no comando regional dos Açores, o último que liderou, ou na Divisão de Trânsito de Lisboa, onde impôs o tratamento igual para todos os condutores. “Sabe mandar, ouvir, ser justo”, destaca um oficial da PSP. “O que cria anticorpos em determinados setores, tanto mais que, sendo afável, é frontal.”
A escolha de José Luís Carneiro criou grande expectativa nos sindicatos. Desde logo, pelo contraste, de personalidade e visão, com o antecessor, o carismático e “securista” que queria patrulhar bairros sensíveis com blindados. A comparação com Magina da Silva é inevitável: “Foi uma escolha inteligente no sentido de alterar um pouco do passado, colocando uma pessoa mais próxima do diálogo com os sindicatos”, diz Paulo Jorge Santos, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da PSP (ASPP). “Com Magina da Silva, alguém muito robusto do ponto de vista psicológico, tínhamos divergências.”
“Teremos um diretor nacional que ouve e dialoga com os sindicatos, resolvendo problemas que até agora não se resolveram. Pelo contrário, quem estava só criou problemas. Temos esperança de que o novo diretor tire a PSP da situação que a transforme numa polícia do século XXI”, assume Armando Ferreira, do Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL). “O superintendente-chefe é alguém que conhece a estrutura de comando da PSP. Ao contrário do anterior, foi comandante de esquadra de polícia, de divisão e polícia, e comandante do comando da polícia, esteve no departamento de operações.”
Bruno Pereira, líder Sindicato Nacional dos Oficiais da Polícia (SNOP) releva a “personalidade cartesiana, a fidelidade a princípios, o comprometimento, a preocupação com os problemas da instituição”. Mais: “É um pessoa inclusiva e disponível para discutir com detalhe e franqueza os assuntos que estão em cima da mesa”.
O perfil do diretor nacional é importante. “Mas mais importante”, realça Paulo Jorge Santos, “é conhecer as condições políticas que irá ter”. “Se não forem criadas as condições políticas para o mandato, nada melhora. Temos expectativas de mudança, esperamos mais peso político do novo diretor que, já deu para perceber, criará espaço para diálogo”, observa.
Tem o sindicalismo no sangue, lembram os dirigentes dos sindicatos, referindo o facto de Barros Correia ter sido o primeiro presidente da associação que daria origem ao SNOP. E as “injustiças” de que terá sido vítima quando, regressado de São Tomé e Príncipe, onde esteve como adido policial, foi colocado na prateleira.
Em pequeno não queria ser polícia. Não gostou da experiência na Academia Militar. Matriculou-se em Engenharia e na Escola Superior de Polícia. Só depois de estar na PSP percebeu que seria esse o seu destino. É licenciado em Ciências Policiais e pós-graduado em Relações Internacionais. É casado, tem um filho e um cão, o Peúga, rafeiro resgatado ao canil.
José Augusto de Barros Correia
Cargo: Diretor nacional da Polícia de Segurança Pública
Nascimento: 06/02/1965 (58 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Maputo, Moçambique)