As feridas voltam a abrir no coração de Paris

A comunidade curda saiu à rua para manifestar a sua revolta perante as três mortes

A comunidade curda francesa está de luto. O assassinato de dois homens e uma mulher por um reformado com “ódio patológico” a estrangeiros trouxe a contestação às ruas e a lembrança de um caso por resolver.


As três vítimas do maquinista reformado

Dois homens e uma mulher foram mortos a tiro num centro cultural curdo em Paris. Emine Kara, do movimento das mulheres curdas em França, e o artista e refugiado político Mir Perwer foram duas das vítimas. O suspeito é um francês de 69 anos, maquinista reformado, com crimes raciais no cadastro, referenciado pelo seu “ódio patológico” a estrangeiros. Tinha saído da prisão dias antes.

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Militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) foram mortos a 9 de janeiro de 2013 na mesma zona de Paris. Assassinatos que estão por esclarecer quase dez anos depois.

“Os curdos da França foram alvo de um ataque hediondo no coração de Paris”
Emmanuel Macron
Presidente da República francesa

Homicídio por motivos de etnia e religião
O suspeito foi detido e hospitalizado numa unidade psiquiátrica. Primeiro, foi aberto um inquérito por homicídio e violência agravada, depois, foi indiciado por homicídio e tentativa de homicídio por motivos de raça, etnia, nação e religião, e ainda aquisição e posse não autorizada de armas. O ministro da Administração Interna francês revelou, em declarações públicas, que o atirador queria “obviamente atacar estrangeiros”, não especificando se seriam curdos. A segurança da comunidade curda foi reforçada.

Mira apontada à Turquia
O Conselho Democrático Curdo em França não tardou a reagir. Criticou a mensagem que se tenta passar de que o atirador é “apenas um simples ativista de extrema-direita”, garantindo que se tratou de um ataque terrorista e revelando que houve ameaças da Turquia antes de tudo acontecer. Falou em “assassinatos políticos” e desafiou as autoridades francesas a cortar a cooperação com os serviços de inteligência turcos. A história de ostracização dos curdos pela Turquia é longa.

Manifestações e gás lacrimogéneo
A comunidade curda saiu à rua para manifestar a sua revolta perante as três mortes. Começou de forma tranquila, a tensão aumentou, confrontos com a polícia, violência, gás lacrimogéneo. Dias depois, estava novamente na rua para uma marcha de homenagem às vítimas. No norte da Síria, no dia 25 de dezembro, centenas de curdos do país manifestaram a sua dor e apontaram o dedo à Turquia.