André Pestana: sprinter de fundo

André Pestana é coordenador do Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (STOP)

“Bom negociador, capaz de fazer pontes, mas leal à luta dos professores.” Do tempo universitário guarda o gosto pelo basquetebol, pelo atletismo e pela dança. “O Pestana caiu no caldeirão”, dizem amigos, de tal forma “é cheio de energia”.

Em novembro de 2017, ganha forma a ideia de avançar. Há muito que participava em lutas docentes e movimentos de professores, fazendo por isso “todo o sentido” aproveitar a experiência e dar seguimento ao empenho num movimento reivindicativo novo. Decidido, após “breve auscultação à classe cada vez menos representada”, faltava-lhe o nome. E o nome apareceu, numa viagem de comboio, quando próximo do Entroncamento uma placa de sinalização lhe passa pelos olhos. STOP. “Foi uma espécie de fenómeno”, brinca.

Em fevereiro de 2018, lança o Sindicato de Todos os Profissionais de Educação, sob o ideal mosqueteiro “Um por todos e todos por um”, e promovendo imediatas ações de luta – pelo fim do amianto nas escolas e a greve às avaliações, a medida que trouxe notoriedade ao movimento.

O coordenador do mais novo dos 23 sindicatos do setor estava longe, porém, de imaginar o destaque que teria. Num quadro dominado por Mário Nogueira, o poderoso líder da FENPROF, o STOP apresentava-se “independente e democrático, apartidário”, rejeitando “formas de luta absolutas, de pára-arranca, isoladas”. E consolidava nos estatutos mandatos consecutivos finitos para os dirigentes. “Orgulho-me de ter sido uma proposta minha. Neste sindicato ninguém vai fazer carreira.” Daqui a uns anos, vê-se “de regresso à escola”. “Uma escola que quero encontrar melhor, num país que respeite mais o trabalho de todos os trabalhadores.”

De uma família com tradição à esquerda, militou na Juventude Comunista, organização que abandonou por reconhecer “a falta de democracia nos países com um regime comunista”. E também no BE, partido de que também saiu.

Hoje, para o sindicalista, “todos são bem-vindos ao movimento, exceto partidos racistas e xenófobos”, numa alusão ao Chega. “Tenho amigos de Esquerda e amigos de Direita e é e isso que também me define – tolerância pelas opiniões contrárias.”

Quem o conhece, confirma “o lado negociador, capaz de fazer a ponte”. Mas contrapõe “a lealdade total à luta dos professores”. O próprio avisa: “Os associados mandam. Nunca nada será decidido ou acordado nas costas deles”.

Primeiro, a “luta da classe, depois as questões pessoais”. Por isso, entende não ser altura de avançar com o prometido processo judicial contra o ministro da Educação. “Chamou-me mentiroso duas vezes e não é agradável para uma avó ou uma mãe verem o neto e o filho insultado. Por isso, o processo virá. Por agora, porém, a prioridade é a luta dos professores.” Por isso, está disponível para se reunir com João Costa, no dia 20.

“Os meus filhos dizem-me que há um mês que não têm pai.” Os tutores do coelho Bowie e dos muitos periquitos que a família alberga têm sete e dez anos. “Os professores e colegas já começam a meter-se com eles, na brincadeira, por causa do pai.”

A tempo inteiro na liderança do sindicato desde setembro de 2022, o mediatismo não o perturba. Embora reconheça “que as solicitações têm sido muitas e a logística avassaladora”. Mais do que nunca se nota “a imensa desorganização organizada de que a minha mulher se queixa”, e a letra “cada vez mais ilegível”.

Os pais, dois professores do ensino público, bem o avisaram: “Se fores para Biologia, vais acabar professor”. Aconselharam Medicina ou Informática. Mas o filho tinha o sonho de trabalhar na Amazónia ou no Sri Lanka. Conseguiu-o, com a tese de doutoramento sobre o efeito das alterações climáticas na Amazónia. “É isso que digo aos meus alunos – persigam os sonhos.”

André Pestana passou por escolas de Serpa, Cascais, Lisboa, Oeiras, Montemor-o-Velho. “Aprendi a fazer limonada quando a vida me dá limões. Mas nem sempre é possível. Perante as adversidades maiores, como a perda, choro desalmadamente.”

Do tempo universitário guarda o gosto pelo basquetebol, mantendo jogos semanais com um grupo de amigos. Pelo atletismo, em tempos praticado na Académica de Coimbra. “Sou um bom sprinter, mas sei que a luta em que estou agora é uma maratona.” E pela dança. “Adoro. Sempre adorei. Era muito extrovertido, cheio de energia, capaz de passar horas nas pistas de dança. Quem não me conhecesse diria que fumei qualquer coisa ou bebi bastante. Não, a primeira vez que bebi tinha 24 anos. O que se passa é o que dizem os meus amigos: ‘o Pestana caiu no caldeirão’.”

André Pestana da Silva
Cargo:
coordenador do Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (STOP)
Nascimento: 10/01/1977 (46 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Coimbra)