Ana Paula Bernardo: a militante discreta

Ana Paula Bernardo é deputada da Assembleia da República pelo Partido Socialista e relatora da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP

A autora do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP dispensa atenções e holofotes. Pouco conhecida entre os deputados, é muito elogiada na UGT. Trabalhadora dedicada, economista com muita solidez técnica, incapaz de fazer “fretes” ou aceitar “ditados”.

Sabia que a esperava tarefa espinhosa. “A Paula andava preocupada. Porque tinha em mãos um relatório muito político, de uma comissão muito partidária, que a colocava no centro do furação.” João Proença explica a apreensão da amiga: “Sendo sobretudo uma técnica, a vertente política não a deixa tão confortável. Não tem tanto traquejo, nem tanto à-vontade. É uma posição claramente ingrata. Além disso, como pessoa tímida e muito avessa a ocupar as atenções, dispensa holofotes mediáticos”. Porém, “não é capaz de declinar ou de recusar trabalhos. A todos dedica muito empenho”.

Contava com críticas, sim. “Fosse qual fosse o texto. Mas nunca a este ponto. Nunca com esta violência”, diz o antigo secretário-geral da UGT, referindo a acusação consensual dos partidos: Ana Paula Bernardo prestou-se a fazer “um frete descarado” ao Governo e ao Partido Socialista.

“Acreditou que os partidos viam o relatório tal como ela o entende – o início de um processo de diálogo, tendo em vista a construção de um texto final.” A relatora contava, diz o amigo, “com uma perspetiva negocial, considerando as omissões matéria negociável”. Ainda mais porque falamos de “uma mulher de pontes”. Foi ele mesmo que a admitiu como quadro da central sindical, para o pelouro dos assuntos económicos. “A única pessoa que admiti pessoalmente e devo dizer que veio a revelar-se uma magnífica contratação.” Põe as mãos no fogo: “O texto não lhe foi ditado. A Ana Paula não é desse tipo”.

Quem é a autora do relatório da comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão a TAP, agora apodada de tendenciosa? Vários deputados contactados, alguns deles companheiros de bancada, não sabem responder. “Poucas falas, muito reservada e pouco mais sabemos”. Na UGT, porém, não só a conhecem bem como assumem rasgados elogios. “Extremamente séria, muito consistente e competente. Se um dia fosse grande queria-a comigo. É um excelente braço direito”, diz Lina Lopes, dirigente da central sindical. Trabalharam em colaboração de pelouros durante dois mandatos. “É realmente tímida e reservada, mas devo dizer que quando se acha com razão, não torce. É um furacão. Quando acredita no que faz defende a sua dama.”

Bernardo prefere trabalhar sozinha. Carlos Alves, jurista, é uma das poucas exceções. “Sou muito amigo e portanto suspeito, mas a Paula é das pessoas mais competentes e profissionais que conheci. Trabalhámos muitas vezes a quatro mãos, sei bem do que falo. E digo mais: sendo socialista no seu âmago, não é sectária. Pelo contrário. É muito experiente em contextos de diálogo e de confronto em sedes de diálogo social. Acredito que neste momento se sinta muito injustiçada.”

João Proença confirma: “Os pareceres dela foram sempre muito respeitados pelos parceiros sociais. É uma economista de referência da UGT, à qual prestou um magnífico serviço”. De tal forma que Rui Oliveira e Costa não hesitou em sugerir o nome da sindicalista a Marcelo Rebelo de Sousa quando o presidente da República procurava consultores para área do trabalho. Marcelo seguiu a sugestão. Em 2016, Ana Paula Bernardo tornou-se consultora da Casa Civil do Presidente, função que abandonaria em 2022, quando a convite de António Costa entrou no Parlamento.

“É sempre uma mais-valia”, diz João Proença. A deputada pelo distrito do Porto e o antigo secretário-geral da UGT partilham origens beirãs. Com oito anos, Ana Paula, filha de emigrantes, trocou Pau, cidade universitária e industrial do Sul da França, onde nasceu, por Ínguias, freguesia de Belmonte. Aí fez o ensino secundário, terminando o 12.º ano em Lisboa. Recebida na capital por familiares, ingressou em Economia. “Vem de uma família humilde. Julgo que o pai era pedreiro”, conta Carlos Alves. Já funcionária da UGT, inscreveu-se no PS, com atividade partidária sempre muito discreta. “A vida dela foi a UGT”, diz Proença.

Membro da Comissão Permanente da UGT, responsável pelas áreas do Emprego e da Segurança Social, representante da Central na Comissão Permanente de Concertação Social e no Conselho Económico e Social, Ana Paula Mata Bernardo estreou-se como deputada pelo PS nas eleições legislativas de Janeiro de 2022. Participou na Comissão de Orçamento e Finanças e na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão. A Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP deu-a conhecer aos portugueses.

Ana Paula Mata Bernardo
Cargo:
deputada da Assembleia da República pelo Partido Socialista e relatora da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP
Nascimento: 20/10/1968 (54 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Pau, França)