Alexandrina Cruz, a avançada

Alexandrina Cruz é a nova presidente do Rio Ave

Reservada e cautelosa nas decisões. Muito séria e de palavra, revelam amigos. Diz o que tem a dizer. A nova presidente do Rio Ave, a primeira mulher a liderar um clube da Liga, anda há 19 anos no futebol.

Quando em 2013, em entrevista ao site do Rio Ave, a então vice-presidente financeira afirmava não fazer ideia se dali a dez anos estaria no clube, o mais certo seria não imaginar que, sim, estaria, como seria presidente, inaugurando uma novidade no futebol português – é a primeira mulher presidente de um clube da Liga principal.

Na verdade, ainda na mesma entrevista, perguntada se veria como possível uma mulher ocupar a cadeira até agora “masculina”, foi clara: “Sim, mas não eu, porque não está nas minhas pretensões”. Por último, traçou o perfil de um futuro candidato: “Capacidades de liderança, de tomar decisões no tempo certo, de rodear-se das melhores pessoas, nas diversas áreas”.

Novos tempos e circunstâncias – a demissão do atual presidente, a precária situação financeira e desportiva, em razão do impedimento de inscrever jogadores – fizeram-na avançar. “É uma mulher corajosa e valente, caso contrário não teria tomado esta decisão. Olhe que ninguém mais quis”, frisa José Gaifem, sócio antigo do clube, um dos primeiros a apoiar a candidatura solitária de Alexandrina Cruz. “A situação é má”, avisa. Conhece-a há 20 anos. “Trabalhava na Câmara de Vila do Conde. Era uma miudinha com ambição e muito amor ao clube.”

Alexandrina Cruz nasceu na Junqueira, uma das freguesias mais importantes da cidade, filha de “um senhor com muito poder, presidente de Junta muito ligado ao PS”, diz José Gaifem, e de uma empresária. Partido Socialista e Rio Ave, tradições familiares herdadas. Com o pai, militar, “aprendeu que um aperto de mão vale mais do que um contrato”, dizem amigos. Da mãe, o gosto pela gestão. “É astuta, reservada, cautelosa nas decisões. Muito séria e de palavra”, descreve Gaifem, que é também dono de um restaurante conhecido na terra. “Gosta muito de peixe grelhado, de panaché e de sobremesa, sempre um doce.” Muito doceira, confirmam outros amigos.

Diz o que tem a dizer. “Verdades que doem. Nesse sentido pode ser cruel”, afirma Raquel Santos, consultora de imagem. Partilharam casa e vida académica em Vila Real, onde Alexandrina se licenciou em Gestão, depois de ter também ponderado Direito. “Era muito arrumada.” E a única do grupo que gostava e percebia de futebol. E se, em relação à política, a militante da Juventude Socialista preservava a inclinação da amiga PSD, quanto a futebol tanto insistiu que Raquel, nascida na Póvoa de Varzim, terra do grande rival, é rio-avista.

À primeira vista não é “tão afável quanto isso”, diz Raquel, que além de amiga é sócia de Alexandrina numa empresa de moda e consultadoria de imagem. “Mas depois conquista, porque é divertida.” Gosta de receber. “De apresentar mesas lindas.” É requintada. Porém, também sabe estar entre cervejas e tremoços. “Ou sardinhas, no Senhor de Matosinhos.”

Não perde a pose. Aparentemente, nada a desconcerta. Poucos percebem o “nervoso que lhe dá ver jogar o clube no estádio”. Por isso, prefere o sofá, com a partida em retrospetiva, na companhia do filho Miguel, 12 anos, e de Simba, o cão da família. Muito reservada, low profile, pede aos amigos que não publiquem fotos dela nas redes sociais. Talvez por isso tenha estranhado que a relação com Miguel Ribeiro, presidente da SAD do Famalicão, clube igualmente da I Liga, tenha sido tema da campanha eleitoral. “Para mim não é assunto”, disse a jornalistas. É orgulhosa. Custa-lhe dar o braço a torcer. Amigos e familiares a quem pediu conselho, de todos ouviu “não te metas nisso”.

Chegou ao clube em 2004, para as funções de tesoureira. “Tinha dela boas informações, mas não a conhecia bem”, diz Paulo Carvalho, presidente à época. O antigo dirigente continua: “A Alexandrina é uma cabeça desempoeirada, não gosta de palco, não gosta de ser protagonista. Vai ser uma líder discreta, mas essa não é a principal característica. A que melhor a define é ser muito focada. Não dá passos em falso”.

Conhece a casa como ninguém. “Para mim vai ter um único senão. Se avançar para a constituição de uma SAD, vai deitar o clube a perder. O Rio Ave desaparecerá.” A presidente ainda não decidiu. Grande contadora de histórias, dizem, gosta de as contar do fim para o princípio. Há 19 anos no futebol, o fim parece estar longe.

Maria Alexandrina da Silva Costa Cruz
Cargo:
nova presidente do Rio Ave
Nascimento: 22/06/1977 (46 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Vila do Conde)