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Metalúrgica Alba. No imaginário coletivo há mais de 100 anos

Pedro Martins Pereira, bisneto do fundador da Alba e atual gerente da empresa metalúrgica centenária de Albergaria-a-Velha (Foto: Pedro Correia/Global Imagens)

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A criatividade, a qualidade e o elevado sentido de responsabilidade social fizeram da metalúrgica de Albergaria-a-Velha uma referência nacional. Continua a fabricar os icónicos bancos de jardim, tem loja online e um recuperador de calor assinado por Souto Moura.

A história é longa, consistente, robusta. A Alba, metalúrgica que se tornou referência em Portugal e colocou Albergaria-a-Velha no mapa, permanece numa página dourada da indústria nacional. Os bancos de jardim que povoam praças e jardins tornaram-se imagem de marca. Havia mais produtos no seu catálogo: colunas de iluminação em ferro fundido, caixas de correio, tampas de saneamento, bocas de incêndio, louça de alumínio, panelas de três pernas, fogões a lenha, ferros de engomar a carvão, contadores de água. A inovação marcou a sua vida pelas mãos de um empresário visionário, Augusto Martins Pereira, com jeito para o desenho e olho para o negócio. E uma veia altruísta.

A fundição nasceu em 1921 em Albergaria-a-Velha e não tardou a afirmar-se, a mostrar de que fibra era feita. Vendia para as colónias ultramarinas, penetrou nos Estados Unidos, Espanha, França, Itália. No auge, deu trabalho a 700 operários, construiu hospitais, cineteatros, um bairro social. No início da década de 50, apresentava o primeiro carro de competição verdadeiramente português.

Augusto Martins Pereira andava alguns passos à frente do seu tempo, sempre a matutar na próxima novidade, queria rentabilidade, evitar operações e passos inúteis, simplificar meios e modos de trabalho. Sempre atento às necessidades dos espaços públicos e dos lares portugueses, com um traço artístico que se notava no que saía da Alba. Chegou a fabricar autoclismos, esmagadores para uvas, prensas para bagaço. O mercado precisava, o mercado tinha, com um toque de design fora do vulgar para a época.

Pedro Martins Pereira, bisneto do fundador, engenheiro metalúrgico e de materiais, comprou a marca na viragem deste século. As recordações são muitas. As férias da escola eram passadas na fábrica do bisavô, a 25 tostões por dia, chegou a chefe de fundição e diretor técnico. “A Alba tinha alguns aspetos que a caracterizavam: uma grande criatividade, uma grande qualidade e um elevado sentido de responsabilidade social. Era uma empresa muito criativa, mais cara do que as outras, que vendia mais do que as outras”, conta. “É uma marca que tem uma história muito bonita”, sublinha.


Nas mãos, uma herança de família, um percurso sólido, uma marca reconhecida. Pedro Martins Pereira reestruturou a empresa e concentrou-a em três áreas de negócio. Mobiliário urbano, com os bancos Alba e as colunas de iluminação. Equipamentos para água, com tampas de saneamento em compósito, juntas, portinholas e postos de incêndio. Aquecimento, com salamandras, recuperadores de calor e fire pits, a mais recente novidade – lareiras a lenha para o exterior, com peças em aço corten, com dupla função, para aquecer e fazer grelhados. É a última grande aposta. O fire pit modelar com grelhas da Alba acaba de ser distinguido com uma menção honrosa na Bienal Internacional de Desenho de Espanha. Resistente a altas temperaturas, grelhas em aço inox, pedra de basalto. Para ser utilizado em boa companhia, na lógica ancestral dos convívios no jardim à volta da fogueira.

Design e sustentabilidade

O design é ponto de honra e Pedro Martins Pereira, também gerente da Larus, empresa de mobiliário urbano, tem estabelecido várias parcerias nesta vertente. Com visibilidade, reconhecimento, sucesso. O arquiteto Souto Moura desenhou um recuperador de calor com lenheiro para a Alba que, em 2014, venceu um dos maiores prémios mundiais de design, o Red Dot. Vidro serigrafado, câmara de combustão, sistema de autolimpeza, chaminé oculta, pés nivelantes.

O designer Francisco Providência assina a salamandra Remade, produzida em 70% com sucata de ferro fundido reutilizada e que, em 2016, marcou presença no festival de design Tent London, um dos mais importantes eventos de design do Mundo. A economia circular é uma preocupação constante. “Desenhamos à dimensão da matéria-prima para tirar o máximo partido dos materiais e não haver desperdício”, revela Pedro Martins Pereira.

A Alba adapta-se à realidade, acompanha os dias que correm. “Não tento manter o que a Alba era, tento fazer com que a empresa acompanhe os tempos, colocá-la na linha da frente. O meu bisavô era o maior concorrente de si próprio, sempre a tentar fazer coisas melhores. É uma perspetiva que herdei.”

Nesse sentido, a aposta recente num site da Alba com uma loja online. “As vendas online são uma frente comercial muito forte”, observa Pedro Martins Pereira. Neste momento, o foco está no mercado nacional e em duplicar as vendas até ao fim do ano. Em 2024, passa-se para a internacionalização da empresa. “Não olho para o passado da Alba com nostalgia, mas com um profundo respeito e alguma emotividade”. E com extrema sensibilidade pelos aspetos estéticos.

Cronologia

1921 Augusto Martins Pereira, empresário e empreendedor, natural de Sever do Vouga, com um currículo em várias fundições do país, um curso noturno da área em Boston, cria a Fundição Lisbonense em Albergaria-a-Velha. Tinha 36 anos.

Augusto Martins Pereira (à esquerda)

1928 Nasce a marca Alba que, seis anos mais tarde, conquista a medalha de ouro da Exposição Industrial Portuguesa.

1930-1980 A metalúrgica tem um vasto catálogo de produtos. Bancos de jardim, fogões a lenha, colunas de iluminação, fogareiros, bocas de incêndio, tampas de saneamento.

1938 Nasce a banda Alba.

1941 Fundado o Sport Club Alba, clube em que chegaram a jogar juntos trabalhadores da Alba e a família Martins Pereira. Nesse ano, é inaugurada a primeira casa do bairro de rendas baratas para os funcionários da Alba.

1943 O fundador da Alba é agraciado com a comenda de Mérito Industrial que reconhece a inovação da sua obra no desenvolvimento do país.

1947 O refeitório da Alba, a cozinha e sopa dos pobres entram em funcionamento.

1950 Inauguração do Cineteatro Alba, mais um investimento da empresa.

1953 Inaugurado o novo Hospital da Misericórdia e a Casa da Criança, mais duas obras da Alba.

1960 Augusto Martins Pereira morre a 2 de maio, os descendentes assumem a empresa.

1974-1990 A empresa vai perdendo mercados e entra num lento declínio.

2001 Pedro Martins Pereira, bisneto do fundador, compra a Alba.

2021 Cem anos da Alba.

2022 Lançamento de novo site com loja online.