Abusos sexuais na Igreja Católica. E o flagelo foi descerrado

A Conferência Episcopal Portugal, liderada por D. José Ornelas, prometeu “tolerância zero” em relação aos abusadores

Relatório da Comissão Independente aponta para perto de cinco mil crianças vítimas de abusos no seio da Igreja Católica. Peritos pedem que possam apresentar queixa até aos 30 anos de idade e o afastamento imediato dos abusadores em funções. Igreja promete agir, mas recusa caça às bruxas.

512
O número de denúncias validadas pela Comissão (25 foram enviadas ao Ministério Público por ainda não terem prescrito). O grupo de trabalho aponta para um número estimado de 4815 vítimas, admitindo, no entanto, que terá sido “muito mais do que isso”.

Pedido à AR
Invocando a idade das vítimas e “aquilo que nos ensinaram sobre a dificuldade em verbalizar”, a Comissão sugeriu à Assembleia da República que as vítimas menores de idade possam apresentar queixa até perfazer 30 anos, em vez dos atuais 23 (o que tem efeito nos prazos de prescrição).

Repensar confessionários
Entre as recomendações que constam do relatório da Comissão, destaque para o alerta de que a Igreja tem espaços físicos que devem ser revistos e, no caso dos confessionários fechados, abolidos.

“Não chega retiros espirituais e retiradas transitórias de situações porque não há milagres. Por mim, obviamente, afastava-os [os abusadores em funções]”
D. José Ornelas
Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa

Abusos reiterados
A comissão concluiu ainda que a esmagadora maioria das crianças foi abusada mais do que uma vez e 27,5% mais do que um ano. Outra constatação: a penetração, o sexo anal e o sexo oral associam-se mais a vítimas do sexo masculino e a espaços de retiro enquanto os toques nos genitais e o sugestionamento de práticas sexuais estão mais associados ao sexo feminino e a espaços do quotidiano dos sacerdotes.

77%
A percentagem de padres abusadores entre o total de elementos ligados à Igreja que violentaram crianças, uma percentagem alta, quando comparada com dados apurados noutros países. Também particularmente elevada, em relação a outras realidades, é a percentagem de vítimas femininas (42,2%, contra 52,7% de vítimas masculinas).

“CADA CASO É UM CASO. [É IMPORTANTE] NÃO ANDARMOS À CAÇA DE BRUXAS, PARA QUE AS PESSOAS QUE REALMENTE COMETERAM CRIMES SEJAM PUNIDAS”
PEDRO STRECHT
COORDENADOR DA COMISSÃO INDEPENDENTE PARA O ESTUDO DOS ABUSOS SEXUAIS DE CRIANÇAS NA IGREJA CATÓLICA

100
O número (aproximado) de abusadores que ainda mantêm funções na Igreja, segundo estimativa da Comissão, que entregará essa lista até final do mês.

CEP promete agir
Em resposta às revelações da Comissão, a Conferência Episcopal Portugal, liderada por D. José Ornelas, prometeu “tolerância zero” em relação aos abusadores (“desde que seja provado”, ressalvou o bispo), admitindo a necessidade de rever a formação nos seminários e de criar metodologias para identificar casos. Mas não foi esclarecido se haverá lugar a indemnizações.