Filipa Bento mete as mãos no barro para a modelagem final de copos, taças, jarras de parede. Tudo artesanal do início ao fim. A.Risca é o projeto que criou depois de deixar a enfermagem.
A olaria é centenária, tradicional, única em Setúbal, do oleiro Joaquim Mateus. O oleiro Manuel trata da parte inicial conforme os traços desenhados. Filipa Bento assiste e entra em ação na roda do oleiro para os retoques finais. A seguir, é hora de ir ao forno cozer duas vezes. Depois pintar e envernizar. Todas as peças são feitas à mão. Únicas, portanto. A matéria-prima é barro vermelho. A nova coleção de A.Risca (já vamos ao nome) sai antes do próximo Natal.
Filipa Bento era enfermeira, sentiu-se desencantada com o panorama da profissão, despediu-se no ano passado. Muda e não muda, faz e não faz, procurou o que realmente lhe dava prazer, sempre gostou de decoração e de trabalhos manuais, tinha feito alguns workshops de cerâmica. “Comecei a pesquisar o que podia fazer, pensei numa nova área dentro da decoração”, conta. No verão do ano passado, pensou lançar artigos de pôr na mesa, bateu à porta da olaria setubalense, pediu para ver, ajudar e aprender como os objetos que tinha idealizado ganhavam formas. Correu bem, lançou-os em novembro, a tempo do Natal passado como era o seu propósito.
São copos e taças que são fruteiras, saladeiras e vasos, de vários tamanhos, canecas e jarras de pousar na mesa, mealheiros tradicionais, frapés. E jarras de parede lançadas na primavera que são um sucesso. “Tudo de barro vermelho que fica à vista, uma homenagem a esta matéria que não é tapada totalmente.” “Tudo feito e pintado à mão, não há nada industrial”, acrescenta. Pratos e jarros voltarão ao catálogo, de onde saíram temporariamente. E há novos modelos em perspetiva, alguns em barro branco, para o próximo Natal.
As riscas e os traços na diagonal são uma espécie de imagem de marca. As cores não são à toa. Num brainstorming com a mãe, Isabel Rosário, professora de Biologia e Geologia, uma força da natureza veio à conversa. “Sendo os vulcões matéria-prima da Terra, sendo o barro uma matéria natural, todas as nossas cores têm um nome de um vulcão”, adianta. Etna é para o branco, Vesúvio para o verde, Fuji para o rosa. Há contexto e há ligação.
A.Risca é o nome do projeto. Filipa Bento tinha dois objetivos com o batismo. “A ideia de arriscar noutra área e um nome que nada tivesse a ver com barro, com cerâmica.” “Gosto de tanta coisa e de fazer tanta coisa”, confessa. A partir de Setúbal, a ex-enfermeira agora artesã tem as suas peças à venda no Instagram – o site ainda há de surgir -, em algumas lojas na Praça do Bocage e no Mercado do Livramento, em Setúbal, e num espaço em Albufeira. Em breve, chegarão a outras lojas, em Espinho e em Évora. Peças a partir de dez euros.