A angústia com o preço das casas é velha

Cartoon de Rocha Vieira sobre o valor das rendas de casa em Lisboa, em 1919, publicado n’“O Século Cómico”: suplemento humorístico de “O Século”,n.º 1112, de 7 de abril de 1919

A rubrica "Máquina do Tempo" desta semana destaca a "crise imobiliária" em Lisboa no pós-Primeira Guerra Mundial.

Quantas vezes ouvimos dizer que a História se repete? Corria o ano de 1919. 0 país (e o resto do Mundo) ainda sofria com o desgaste económico-social do pós-Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Registava-se em Portugal uma enorme carência de habitação para as classes mais desfavorecidas, com condições de higiene e salubridade. O cartoon que aqui vê – publicado n’“O Século Cómico”, um suplemento humorístico do jornal “O Século” – retrata essa urgência de medidas.

Com o dinheiro que os mais pobres tinham quase só era possível arrendar casotas de cães. O problema era sério. Em abril desse ano, o Ministério do Trabalho retomou a iniciativa legislativa, no âmbito da habitação social, de introduzir um novo conceito ao projetar a construção dos chamados Bairros Operários – Bairros Sociais.

Uma ideia, à época, inovadora do Ministro do Trabalho, que se inseria nos objetivos socialistas de “promover a educação e a melhoria do alojamento como bases da emancipação do operariado” e “para o levantamento do nível moral e intelectual dos trabalhadores”. A frase foi proferida por Augusto Dias da Silva, ministro do PS, partido que pela primeira vez integrou um Governo da I República.

Parece mentira, mas essa carência habitacional voltou agora a registar-se – mais do que nunca – às mãos de um governo socialista. Não tanto pela ausência de opções no mercado, mas antes pelos preços altíssimos que atingiram. As medidas já foram anunciadas. Estão para consulta. Aguarda-se.