12 de março de 1514. A grande embaixada portuguesa em Roma

Xilogravura de Hanno, o elefante indiano branco, provavelmente albino, com o nome dado em homenagem a um antigo general de Cartago (Tunísia)

A rubrica "Máquina do Tempo" desta semana destaca o dia em que uma comitiva enviada por D. Manuel I desfilou pelas ruas romanas cheia de pedras preciosas e um elefante.

Numa altura em que Portugal era nação pioneira em diversos domínios e rica devido ao comércio com outros continentes, o rei D. Manuel I enviou para a Santa Sé uma faustosa embaixada.

Na agenda, havia vários objetivos. Reiterar a obediência do soberano português ao Papa Leão X e, ao mesmo tempo, apresentar-lhe certas propostas, que se podiam reunir em dois grupos: as de caráter geral, no sentido do fortalecimento doutrinário e institucional da Igreja Católica, e as relacionadas com aspetos mais específicos da orientação política de D. Manuel.

A comitiva foi liderada por Tristão da Cunha, homem da confiança do rei. A nau que transportava a embaixada partiu de Lisboa nos finais de 1513, passou por Alicante e Maiorca e, por fim, chegou a Porto Ercole, na costa italiana. O resto do percurso foi feito por terra.

O desfile foi cuidadosamente preparado e cumpria as regras protocolares da época. Era acompanhado por um conjunto de tambores e trombetas e integrava os embaixadores de outras nações e várias autoridades civis e eclesiásticas de Roma. No total, mais de 100 pessoas. Uma exibição pública que fez sensação na corte pontificial, tanto pela sumptuosidade dos trajes e riqueza dos presentes, como pelo exotismo do séquito.
Pelas 14 horas, do dia 12 de março de 1514, há precisamente 509 anos, a embaixada entrou nas ruas de Roma.

A data, o primeiro domingo de Quaresma, foi escolhida pelo próprio pontífice, o que revelava a importância concedida ao evento. O rei enviou a Leão X pedrarias, tecidos e joias, um cavalo persa, uma onça de caça, um leopardo e um elefante vindo da Índia, que executava diversas habilidades.

Foi, aliás, este animal que mais marcou o cortejo, quando o seu tratador o fez ajoelhar, por três vezes, em frente à varanda onde estava o Papa e, sobretudo, quando aspergiu os cardeais e a multidão com a água de um balde. Hanno, assim se chamava o paquiderme, foi a mascote do Papa durante quase três anos. A comitiva só foi formalmente recebida pelo Papa na semana seguinte.

Papa Leão X, num detalhe da obra “Ritratto di Leone X con i cardinali Giulio de’ Medici e Luigi de’ Rossi”, de Raffaello Sanzio

E, apesar dos chamados “pontos gerais” do rei português não terem sido atendidos, aqueles que interessavam mais a D. Manuel foram considerados e satisfeitos, sendo a sua obra na propagação da fé católica largamente recompensada com diversas bulas.
No fim, a exibição afirmou de forma clara o poderio de Portugal, sendo o país reconhecido pela “descoberta” e “conquista” de “novos territórios” e a sua “soberania” sobre eles.