Estima-se que esta doença afete 30% dos adultos saudáveis e 50% dos imunossuprimidos. Pode manifestar-se em qualquer altura da vida após o desenvolvimento da varicela, mas é mais comum com o avançar da idade.
A Zona, ou Herpes Zoster, é uma infeção causada pela reativação do vírus Varicella-Zoster, da família dos Herpes Vírus Humanos, que também provoca a varicela. É uma infeção que, regra geral, se resolve sem grandes complicações, mas é uma doença que provoca dor e comichão. A Zona é contagiosa apenas por contacto direto com o líquido das vesículas, e não por gotículas, e somente transmissível a pessoas que nunca tiveram varicela.
“Este vírus é habitualmente adquirido durante a infância, manifestando-se nessa altura sob a forma de varicela. Posteriormente, permanece latente no nosso sistema nervoso (habitualmente nos gânglios da raiz dorsal ou nos gânglios sensoriais dos nervos cranianos), podendo ser reativado mais tarde sob a forma de Zona”, adianta Cláudia Brazão, dermatologista no Hospital de Santa Maria (Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte) e professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Como se manifesta? Normalmente, por lesões cutâneas que causam muita dor e comichão e que se desenvolvem apenas num dos lados do corpo, principalmente na região do tronco. Mas também pode afetar outras zonas, incluindo o rosto e os olhos. “Tipicamente, a manifestação inicial da infeção corresponde a formigueiro, comichão, ardor, aumento da sensibilidade e dor (que pode ser muito intensa) no local afetado. Posteriormente, dá-se o surgimento de vesículas agrupadas com líquido que rebentam e dão lugar a feridas com crosta escura com cicatrização ao longo de duas a três semanas”, refere a dermatologista.
O stress físico e emocional, a radiação ultravioleta, a febre ou um trauma local, também podem desencadear a doença
Segundo as estimativas, a doença afetará 30% dos adultos saudáveis e 50% dos imunossuprimidos. Pode manifestar-se em qualquer momento após o desenvolvimento da varicela. “A infeção pode surgir em qualquer altura da vida após a manifestação da varicela, mas é mais frequente com o avançar da idade e, sobretudo, em situações de depressão do sistema imunitário (infeção pelo vírus da imunodeficiência humana, doenças autoimunes, doenças oncológicas, quimioterapia, radioterapia, terapêuticas imunossupressoras, entre outras)”, revela Cláudia Brazão.
A que sinais prestar atenção? “O surgimento de formigueiro, comichão, ardor, aumento da sensibilidade ou dor num dos lados do corpo, de forma localizada e sem outra razão aparente, sobretudo se estiver associado a pequenas borbulhas vermelhas ou com líquido, deve fazer com que o afetado suspeite desta infeção e motivar a procura de observação médica para início precoce de terapêutica”, responde a especialista.
Na maioria dos casos, a infeção resolve-se sem complicações associadas. Há, no entanto, casos mais problemáticos mais frequentes nos idosos e pessoas com sistema imunitário suprimido. Segundo a dermatologista, a complicação mais frequente, que afeta até 20% dos doentes, é a nevralgia pós-herpética, ou seja, uma dor neuropática intensa que pode permanecer mesmo após a resolução da infeção.
Outras complicações incluem paralisia facial transitória, zumbido, vertigens, alterações oculares, infeção disseminada, ou seja, lesões cutâneas em várias partes do corpo em simultâneo), sobreinfeção bacteriana e, em casos mais raros, hepatite, pneumonite e meningoencefalite.
O tratamento da Zona implica a utilização de medicação antiviral específica, que deve ser iniciada o mais cedo possível, de forma a prevenir as possíveis complicações
Atualmente, não existe um tratamento capaz de erradicar este vírus. Contudo, existem algumas formas de prevenção que podem minimizar a probabilidade da sua reativação. Cláudia Brazão dá vários exemplos. Evitar a exposição prolongada ao sol. A radiação ultravioleta tem efeitos benéficos para a pele, sim, mas a exposição prolongada sem proteção contribui para uma depressão do sistema imune local, com aumento do risco de vir a desenvolver a doença.
Outra medida é minimizar o stress. “O stress pode deixar o nosso sistema imunitário fragilizado, contribuindo para o desenvolvimento da doença. É recomendado aliviar o stress através de atividades relaxantes ou de lazer, como a prática de exercício físico, a meditação ou até através de momentos com a família e amigos.”
Dormir bem é aconselhado também porque descansar pouco ou ter um sono de fraca qualidade são fatores que contribuem para a imunossupressão e, por consequência, facilitam o surgimento da infeção. “É recomendado que os adultos durmam pelo menos oito horas por noite e cumpram medidas de higiene do sono para melhorar a sua qualidade.” À mesa, alimentação rica em frutas e vegetais para fortalecer o sistema imunitário. “Atualmente, existem também vacinas que estão recomendadas para a prevenção da doença, com bons perfis de eficácia e segurança demonstrados nos ensaios clínicos”, sublinha a médica.
