Vindimas fazem-se cada vez mais cedo e a culpa é do clima

As vindimas começaram mais cedo este ano. Muito mais cedo. Culpa do calor excessivo, implacável desde maio. Está a ser assim em 2022, assim continuará a acontecer no futuro, antecipam os produtores. O vinho, esse, seguirá, talvez com outras características que os tempos atuais pouco permitem antecipar. Porventura diferente, mas igualmente estimulante.

Em Almeirim, há vinha que nasce das pedras. Calhau rolado, assim lhe chamam. Onde a Natureza apenas oferece paisagem rude, a mão humana faz crescer vinha e nascer vinho. É na Quinta da Falua que se opera tamanho milagre. E é das mãos e das ideias de Antonina Barbosa que se produzem todos os anos néctares como o Conde Vimioso ou o Falua, aproveitamento generoso de castas como a Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Castelão. Brancos, tintos, até rosés dali saem.

Tal como na generalidade do país, também em Almeirim, onde o sol do Ribatejo bate forte e não perdoa, o calor de verão veio mais cedo e mais violento. As uvas ressentiram-se, viram o seu ciclo normal alterar-se, obrigaram a medidas que, se fossem sugeridas há alguns anos alguém consideraria loucura aplicá-las. A vindima na Quinta da Falua começou na segunda semana de agosto e seguiu o calendário de muitas outras nas diferentes regiões demarcadas, salvo raras exceções. “Parece impensável mas até acabou por acontecer dentro do que é hoje em dia um ano normal. Já em 2021 as iniciámos pela mesma altura. Primeiro o espumante, depois o restante, semana após semana”, diz Antonina Barbosa.

Se em anos anteriores a vindima antecipada era raridade, “como aconteceu em 2017, logo no primeiro dia de agosto”, nos últimos anos vem-se tornando regra. E neste 2022, em particular, rebentou a escala. “Tem tudo a ver com as alterações climáticas, sem dúvida alguma”, sentencia Antonina Barbosa, ela que também tem vinhedo de vinho verde em Monção, no Alto Minho, que pede vindima antecipada, um quase fenómeno. “Os níveis anormais de temperaturas altas são cada vez mais precoces, as secas mais severas. É uma tendência que veio para ficar”, assegura a produtora e enóloga. “Tudo isto conjugado acaba por alterar o ciclo da videira.”E como se altera esse ciclo, dantes tão certinho e ordenado que parecia infalível? “A partir de uma determinada altura, uma planta estaciona, o que faz com que a maturação não avance. Como no Tejo tivemos imensos dias com temperaturas acima dos 40 graus, as plantas tiveram de se defender”, explica.

(Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

Rendidas as uvas às evidências do clima agreste, houve que ensaiar estratégias para que não se estragassem, não se desgastassem, não morressem e deitassem a perder um ano inteiro de investimento árduo. “Tudo assentou num bom trabalho de viticultura, aí é que está a chave do sucesso. A qualidade das uvas tem muito que ver com esse trabalho na vinha”, considera a produtora.

Como segredos não existem, Antonina Barbosa conta à “Notícias Magazine” onde concentra atenções para que nada falhe e a uva sobreviva incólume. “Houve que adaptar a vinha às novas condições climáticas. É sempre importante dar atenção à questão da irrigação (mais especializada e adaptada à nova realidade), à folhagem, à quantidade de verde que temos nas plantas.” Receita aplicada, depois é só esperar pela colheita “no tempo certo, quando a maturação atinge o ponto ótimo.” Com a garantia clara de que o “vinho continuará a manter a qualidade.” E que a produção não sofrerá cortes nem alterações.

Antonina Barbosa, enóloga e produtora da Quinta da Falua, em Almeirim, onde se desenvolvem videiras entre calhau rolado, um terroir emblemático. Este foi mais um ano em que a vindima precisou de começar cedo devido ao calor
(Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

“Um ano especial”

Este ano, as uvas andam loucas. Ou melhor, tornaram-se loucas à conta de uma outra loucura, a do calor extremo, que obrigou a medidas extremas e raras e antecipou sobremaneira a tradicional época das vindimas. Ao contrário do que é habitual, arrancaram nos inícios de agosto, algumas, nas semanas seguintes, outras. Quando normal seria que tivessem arrancado, no mínimo, no final deste mês ou pelos princípios de setembro. Tem sido assim país fora, de norte a sul. Até na Madeira, como será contado mais à frente. Surpreenderam produtores, espantaram proprietários de vinhedos, atemorizaram quem pensa que a qualidade do vinho poderá não ser a mesma. Há exceções, claro, como nas regiões do Dão e da Beira Interior, onde ainda nem sequer começaram mas não tardará que avancem, ou em Lisboa e na Península de Setúbal, onde apenas esporádicas exceções confirmam uma regra que se multiplica pelo resto do território nacional. Porque elas, as uvas, mandam. E a loucura do clima manda nelas.

Bernardo Gouvêa é presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), tutelado pelo Ministério da Agricultura. E tem andado numa roda-viva neste mês de agosto de muita vindima. Corre o país todo, região a região, para acompanhar colheitas, falar com produtores, perceber a terra, auscultar no terreno preocupações, ambições e realidades. No fundo, para acompanhar uma situação que tem muito de inusitada e levanta dúvidas e questões precisamente por ser tão pouco habitual.

O retrato que traça Bernardo Gouvêa é de um país de vindima desigual. Onde o consenso não existe porque os ataques do clima foram díspares em cada região vinícola, por vezes até dentro da mesma. Fenómenos diferentes que devem ser tratados com distintas especificidades. “Estamos num ano muito especial, que teve uma durabilidade de temperaturas altas como não se via há várias décadas”, aponta. Resultado, a uva ressentiu-se, os produtores tiveram de se adaptar. “O calor prejudicou vinhas e regiões”, resume.

Mas não há razão para preocupações de maior, acredita o líder do IVV. O vinho vai sair de bom, de qualidade, independentemente da zona do país onde for produzido. “Desde que as uvas tenham a maturação adequada para serem recolhidas, a vindima antecipada é a melhor opção. Sobretudo é bom que arranquem as castas brancas, tanto no Alentejo como no Douro, por exemplo”, explica. Porque o importante é o produto final e esse não sofrerá alterações de maior, confia Bernardo Gouvêa. Podem sofrer alterações, ligeiras ou mais acentuadas, é verdade. Para o caixote do lixo das más experiências é que provavelmente não irá. “O que está em causa é conseguir colher as uvas com acidez aceitável.” Nada que seja do outro Mundo, nada que obrigue a desesperos de maior. Pelo contrário, “pode ser, até, bastante desafiante”.

A acidez que em 2022 diferencia os vinhos portugueses tem explicação lógica. “Justifica-se com os períodos de calor prolongado vividos a partir de maio, que não foram compensados por noites de arrefecimento acentuado. Essa situação conduziu a um elevado stresse hídrico da planta, a fotossíntese parou, os bagos não desenvolveram e criaram polpa pouco evoluída. As videiras foram severamente afetadas, mas não estamos, como alguns possam imaginar, perante uma questão de queimadura da uva”, descreve Bernardo Gouvêa.

E há que acostumar a tal cenário. “Esta é uma exceção à regra que vamos começar a observar com mais recorrência daqui em diante. As alterações climáticas trazem com elas um grande grau de imprevisibilidade. Prever que tipo de fenómeno nos traz o futuro é muito difícil. A única certeza é essa mesma imprevisibilidade.” E que a colheita 2022 vai dar “muito bons vinhos, como acontece em anos de calor”.

“Vinhos que vão sofrer”

Descendo o mapa a sul e estacionando no Baixo Alentejo, já é possível ver vindimar fora do tempo. Como em (quase) todo o imenso território alentejano, aliás. Em Cuba, por exemplo. Atente-se no exemplo da Herdade do Rocim, 150 longos hectares, 110 dedicados em exclusivo à vinha. E um enólogo e produtor, Pedro Ribeiro, com vinha também nas redondezas de Leiria, mais a norte, pouco surpreendido por ter colheita precoce no tempo. “É uma tendência que vem dos últimos anos. Com as alterações climáticas, as vinhas, que tinham características certas, foram mudando. As castas já não amadurecem tão rapidamente e foram sendo substituídas por outras mais precoces”, desfia Pedro Ribeiro.

Ali, tudo começou no início de agosto com base de espumante e brancos. Rosés uma semana mais tarde. As uvas que darão o tinto 2022, essas, ficarão para o final do mês, quiçá para o início de setembro.

Para se defender de tragédias e as evitar, Pedro Ribeiro passou a utilizar métodos que eram alternativa esporádica e agora são quase regra permanente. “Uso caulino como protetor solar das vinhas, o que não era nada comum. Temos de nos adaptar a novas práticas”, enfatiza. “Quando comecei nesta área, há 20 anos, o normal no Alentejo era que a vindima arrancasse no início de outubro. No Douro a mesma coisa. O que as coisas mudaram em duas décadas…”, constata.

Pedro Ribeiro, enólogo e produtor da Herdade do Rocim, situada entre a Vidigueira e Cuba, no Baixo Alentejo, explica que com as alterações climáticas as castas já não amadurecem tão rapidamente e por isso foram sendo substituídas por outras mais precoces
(Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

A culpa, volta a dizer Pedro Ribeiro, é das alterações do clima, que trouxeram desafios novos e preocupações singulares. “Há vinhos que vão sofrer, regiões que serão mais afetadas do que outras. Embora ainda seja tudo uma incógnita que o tempo ajudará a resolver.” Palavra de especialista, Pedro Ribeiro prevê que o futuro trará consigo “novas plantações e variedades que se adaptarão a um diferente grau de exposição solar. E vinhos com menos concentração alcoólica. No fundo, teremos outras formas de conduzir a vinha e o vinho”. Ideia que vai ficar para trás, guardada nos manuais da vitivinicultura, como imagem do passado, é a de que “a vinha pode durar entre 30 a 50 anos”. Para Pedro Ribeiro, “isso é impossível de suceder”. Porque em período tão alargado de tempo “acontece muita coisa e muda muita coisa, também”.

O futuro próximo, esse, é o mais plausível de ser antecipado. Ganhar tempo ao tempo e antecipar estratégias tentando adivinhar o que irá nas intenções do grosso dos consumidores é mesmo chave certa para conduzir o curto e médio prazo. “As modas passam mais rápido do que as plantações de vinha. A tendência atual são os vinhos menos pesados e densos, frescos, fáceis de beber.” Precisamente as características que sobressaem das uvas que sofreram com o calor excessivo. “Parece, até, propositado”, ri-se Pedro Ribeiro. Que já não consegue rir-se com a realidade que as alterações climáticas estão a conceber e que levam a situações quase impensáveis para quem anda na área e por ela é apaixonado. “Quem diria que em Inglaterra, por exemplo, já é possível produzir espumante com tanta qualidade como os champanhes produzidos em França?”. Sim, quem diria?

(Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

“Vindimar tem mesmo que ser na hora certa”

Também na Bairrada se celebra a vindima antes do habitual. Filipa Pato, que com o marido, William Wouters, forma uma produção de vinhos de sucesso no mercado, como o Nossa Calcário, começou dia 17 deste mês. E a culpa tem o destinatário de sempre. “As alterações do clima provocam desequilíbrios maiores, obrigam a mais rega, alteram a normalidade”, enuncia. As uvas “amadurecem mais rápido”, levando a que sejam recolhidas cedo. “Vindimar tem mesmo que ser na hora certa”, vinca.

Na quinta de Filipa também se começam a ver modificações na forma como as plantações são encaradas para que delas continue a nascer fruto vivo e de qualidade. “Utilizamos 100% de sequeiro, não temos rega”, isto numa região onde a chuva já foi abundante e é cada vez mais rara. “Também produzo menos por videira, opto por viticultura biodinâmica, o que torna a planta mais robusta e com raízes profundas. E a fertilização é natural, feita por ovelhas e porquinhos, que ajudam a criar húmus”, revela.

(Maria João Gala/Global Imagens )

“A vantagem da Bairrada é que tem influência atlântica. Ou seja, a neblina da manhã ajuda à maturação da uva. É um microclima especial que favorece a vinha”, frisa Filipa Pato.

Filipa Pato, produtora e enóloga da Bairrada, começou as vindimas no dia 17. Esta é uma região onde a chuva já foi abundante e se tornou cada vez mais rara. A vantagem tem sido a influência atlântica que ajuda à maturação da uva (Maria João Gala/Global Imagens )

Completamente afastado da costa, o vinhedo do Douro continua pujante e a dominar a paisagem. Por lá, vindimar é verbo que se aplica no presente do indicativo. Como na Quinta de Nápoles, a dois passos da linha imaginária que divide os distritos de Viseu e de Vila Real, pertença da Niepoort, empresa clássica que vai na sexta geração a pensar o vinho sempre em primeiro lugar.

Os homens começaram a vindimar logo na semana inaugural de agosto. “Por causa do calor”, reitera Daniel Niepoort, à semelhança do que repetem os produtores de vinho por esse país fora, sem olhar a latitude geográfica. “Tem sido cada vez mais precoce a cada ano que passa. Para que o vinho possa ter um equilíbrio importante, um sabor e uma acidez corretos”, segreda.

Vindimas na Quinta de Nápoles (propriedade da Niepoort) em Têdo, Santo Adrião (entre Viseu e Vila Real).
Este ano, em virtude de ter sido um ano muito quente e seco, as vindimas também começaram bastante mais cedo do que é habitual, conta Daniel Niepoort, que vê nisso um novo desafio
(Adelino Meireles / Global Imagens)

O que vai sair da colheita é quase certeza. Também do Douro partirão para o mercado vinhos de teor alcoólico mais baixo. “De 11, 12 graus”, estima Daniel Niepoort. “As pessoas estão a procurar muito isso. Se bem que cada ano é diferente por si, depende da qualidade da uva. Um desafio novo e estimulante”, garante. “E que adoramos”, refere com entusiasmo. Porque o vinho é “respeito pela parcela, pela vinha velha”. Como se tivesse de ser mimado para que dele nasça sabor que fique na memória.

(Adelino Meireles / Global Imagens)

“Não se pode facilitar”

Se região houve que as agruras da meteorologia pouparam a preocupações maiores foi a dos Açores. Ali, o ano foi de chuva, como quase todos os anos são de chuva naquelas nove ilhas que atravessam o Oceano Atlântico, meio caminho entre a ponta ocidental da Europa e o extremo leste do continente americano. Agradeceram as vinhas, sempre ávidas de água regular que as alimente e lhe dê bom fruto que mais tarde virará vinho.

“Arrancámos com a vindima dia 16 de agosto”, conta à “Notícias Magazine” Bernardo Cabral, enólogo consultor da Picowines. Pode parecer data antecipada no tempo, tão parecida que é com o calendário vindimal que este ano vai marcando a temporada vinícola em Portugal Continental. Mas não, em terras açorianas, em particular na ilha do Pico, é a normalidade a mandar. “Noutros anos também começámos a vindimar por essa altura. Embora já tenha acontecido, como, por exemplo, em 2018, optarmos pelo início de agosto”, descreve Bernardo Cabral. Uma exceção à regra, esse 2018. “Os Açores raramente têm vagas de calor extremo. O clima é regularmente húmido e chuvoso”, 2022 confirmou-o e deixou que o processo de recolha da uva fosse o mesmo de sempre. “De qualquer forma, é preciso estar sempre muito atento para não haver surpresas. Cada ano tem características diferentes e não se pode facilitar”, avisa o especialista que, além dos Açores, trabalha com outras quintas espalhadas por Portugal e conhece bem os detalhes e particularidades de cada colheita.

E as consequências que o repentismo brusco e bruto do clima pode ter na qualidade final dos vinhos a apresentar ao público. “As massas quentes prolongadas provocam uma degradação mais rápida dos ácidos, o que leva a vinhos menos alcoólicos. Tem acontecido uma mudança dramática a esse nível”, observa. “Se para espumantes isso é excelente, para tintos de certas regiões, como o Alentejo, pode alterar as características habituais desses vinhos. Aliás, o Alentejo é um bom exemplo porque começa a ser cada vez mais comum lançar tintos com 12 graus de álcool, quando há poucos anos era impensável falar de um tinto alentejano com menos de 14”, exemplifica Bernardo Cabral.

“Esperar para ver”

No outro arquipélago português instalado no Atlântico, os dias de calor foram mais inclementes do que nos Açores. As temperaturas altas acabaram por afetar o rendimento e crescimento das uvas na Madeira – a mesma realidade do continente, lá está – e as consequências foram o que se sabe: vindimas que chegaram cedo, tão cedo como raramente por lá chegaram.

O produtor António Maçanita que o diga, ele que tem vinha montada na pacata ilha do Porto Santo. “Começámos a vindimar dia 6, dez dias antes do que em 2021 e 15 dias antes do que em 2020”, afirma. Foi a primeira fase. A segunda arrancou esta semana, também mais cedo do que o previsto. “As primeiras parcelas estavam bem, as segundas um pouco atrasadas”, detalha.

Vão dar cor, brilho e sabor ao projeto mais recente de António Maçanita, a Companhia de Vinhos dos Profetas e dos Vilões, original designação que denomina um conjunto de vinhos que pretendem aproveitar as potencialidades das castas Caracol e Listrão, tão raras como esquecidas na Madeira, agora redescobertas e aproveitadas por António Maçanita, ele que antes tinha já explorado castas improváveis nos Açores. “O que isto nos ensina é que o clima está cada vez menos previsível”, carimba o produtor que na Madeira transforma o impossível em possível. Que não está surpreendido, apenas resignado por perceber que ao homem de nada vale antecipar o imprevisível. “Em 2017, a vindima ocorreu ainda mais cedo”, lembra.

As consequências, essas, são igualmente tudo menos previsíveis. O clima manda, o clima mandará. E o clima não é o mesmo de antes. Não conseguindo dominá-lo, há que lhe seguir as regras. Ano após ano, colheita após colheita. “Uma coisa é certa, da forma como as coisas estão, as vinhas não iriam aguentar-se”, assegura António Maçanita. E daqui em diante? “É esperar para ver.” Porque pouco ou mais se pode fazer perante tanta incerteza.

A mesma incerteza que já faz parte do quotidiano da vinha e do vinho. Que veio com os calores tórridos provocados pelo aquecimento global, irresponsavelmente acelerado pela indelicadeza do homem em lidar com a Natureza e a biodiversidade, desprotegendo-as e oferecendo-lhes um homicídio lento e descarado. Que fizeram escalar o mercúrio do termómetro até temperaturas quase pornográficas acima dos 40 graus, dias após dias, semanas a fio, assim desde maio. Que fizeram desaparecer do calendário noites frescas. Que arruinaram os sonhos de uma primavera e de um verão amenos, tão do agrado da vinha. As uvas não escaparam. E o vinho também não escapará. Mas chegará à mesa de quem o aprecia e o toma como néctar oferecido por deuses. Como sempre chegou. Desta vez apenas diferente, talvez. Como diferente tem sido a época das vindimas neste 2022 de canícula que (quase) tudo estragou à sua volta. As uvas, também. Essas uvas que andam loucas…