Uma luva para autoexame regular da mama

Amigos uniram-se para tornar a Senseglove uma realidade, depois da prima de um deles ter tido cancro. Dispositivo médico chegará ao mercado em 2024.

Francisco Nogueira estava a concluir o mestrado em Engenharia Biomédica quando diagnosticaram um cancro da mama à prima Filipa. Do debate do tema com os pais, ambos profissionais na área da Saúde, nasceu a ideia: um dispositivo médico que ajudasse as mulheres a detetarem nódulos ou outros sinais de cancro quando fazem a autoapalpação mamária. Um que não deixasse grande margem para esquecimentos ou inseguranças quanto a interpretar o que tinham sentido. Até porque, as estatísticas apontam que o cancro da mama corresponde à segunda causa de morte por cancro na mulher. Em Portugal, anualmente são detetados cerca de sete mil novos casos (1% nos homens).

O projeto ficou a germinar até que a pandemia obrigou o jovem recém-formado a abrandar os planos para a carreira profissional, deixando-lhe margem para explorar a ideia. É aqui que entra o amigo de longa data Frederico Stock, um optometrista com mestrado em Gestão, que se juntou ao projeto.

Em meados de 2021 é formalizada a empresa Glooma e começa a materializar-se a Senseglove, uma luva com sensores que funciona como um dispositivo médico de rastreio, pois deteta as diferenças de pressão no tecido. Quando há alguma alteração, uma aplicação notifica a mulher. A aplicação também lembra mensalmente a necessidade de realizar a autoapalpação.

Este dispositivo permite detetar quaisquer anomalias que surjam na textura do tecido mamário e controlar outras (por exemplo, quistos) que já existam

“A intenção é combater o facto de as mulheres com cancro da mama não irem o mais cedo possível o médico. As mulheres devem fazer autoapalpação todos os meses, mas muitas não fazem por falta de confiança, por não saberem ou até esquecimento”, destaca Frederico Stock.

“O que existe atualmente é a autoapalpação da mama e isso requer muita interpretação das mulheres e causa medo e ansiedade”, acrescenta, explicando que o objetivo é “tirar de cima do sexo feminino a pressão da interpretação da apalpação”.

Os empreendedores já fizeram a prova de conceito no hospital CUF Descobertas. “Conseguimos uma precisão de 90%, sendo os restantes 10% falsos positivos”, ou seja, não houve nenhuma alteração não detetada, constata Frederico.

Atualmente decorre um estudo mais abrangente e está em curso o processo de certificação. A intenção é que a Senseglove seja considerada um dispositivo médico para ser usado em casa, não substituindo as consultas de rotina ou exames.

Estima-se que a documentação para certificação junto das autoridades médicas seja submetida até final do ano. Em 2023 decorrerão testes pilotos e no início de 2024 a luva para autoxame mamário deverá estar no mercado.