Um satélite para captar energia na Lua

Nuno Borges Carvalho, responsável pelo projeto de investigação que quer colocar painéis solares na Lua, na câmara anecoica da Universidade de Aveiro

Equipa da Universidade de Aveiro prepara mini protótipo para captar energia no espaço com novas tecnologias. A missão é alimentar uma estação espacial para humanos. Ou seja, dar-lhe suporte de vida.

Um satélite, painéis solares, maquinaria e novas tecnologias, para captar energia da Lua. A ideia da Universidade de Aveiro (UA) agradou à Agência Espacial Europeia, entre vários projetos internacionais que analisou. Há luz verde para avançar. No próximo mês, entrega-se a prova de conceito para mostrar a viabilidade, depois passa-se para a construção de um mini protótipo. Um ano, no máximo, e estará pronto.

Qual é a ideia? Colocar painéis solares a bordo de um satélite que andará à volta da Lua. Com que objetivo? “Energizar a futura estação habitável que querem construir na face da Lua”, explica Nuno Borges de Carvalho, diretor do Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática da UA, especialista em sistemas de rádio frequência (transmissão de energia sem fios), na linha da frente do projeto. A UA dá uma ajuda preciosa para viver na Lua. Até porque instalar uma estação base para humanos na Lua, já com os olhos postos em Marte, move várias agências espaciais. A UA é a única a desenvolver a nova tecnologia de focos de energia. “Um dia na Lua são 15 dias na Terra.” Ou seja, 15 dias de luz, 15 dias de escuridão. Com painéis solares a rodar no satélite, a captação de energia é permanente. “Há uma alimentação contínua de energia.” Está tudo pensado. “No sistema de posicionamento, os painéis solares estão sempre virados para o Sol e as antenas para a Lua.” Para carregar e descarregar energia.

A ideia de captar energia no espaço remonta à década de 1980. A NASA tinha o projeto em mente, mas a tecnologia ainda não estava a suficientemente desenvolvida. Tudo mudou e a lógica é simples de entender. Se é possível produzir energia na Terra a partir do Sol, energia limpa e inesgotável, através de painéis solares, por que não fazê-lo mais perto, ou seja, no espaço. Com várias vantagens. Na Terra, os painéis solares só funcionam algumas horas por dia. “A nossa atmosfera filtra uma quantidade de comprimentos de onda, o que não permite receber a energia na plenitude”, adianta Nuno Borges de Carvalho. Mais perto, mais eficiente. “Se metermos os painéis no espaço, fora da Terra, não só não há filtragem pela atmosfera, como há 24 horas de exposição solar.” O objetivo é trazer energia do espaço para a Terra a partir do Sol. Com a guerra na Ucrânia, e a dependência energética face à Rússia, o projeto ganhou força e deram-se os primeiros passos. Os EUA já enviaram um mini protótipo para o espaço.